Durante a conversa, conduzida pelo jornalista José Rodrigues, Numa foi um dos visados do general Higino Carneiro, ao considerá-lo como uma pessoa na UNITA sem ‘autoridade moral’ para falar da Batalha do Kuito Kuanavale, por ter estado, à data dos factos, refém do comando de orientações dos sul-africanos.
“Arvorar-se em conhecer melhor a UNITA do que os seus dirigentes e arrogar-se a determinar que Kamalata Numa não era a pessoa indicada na UNITA para falar sobre a Batalha do Kuito Kuanavale, porque à altura dos factos era uma ‘marionete’ dos sul-africanos, é no mínimo razão de alarme de quem nunca vai perceber os sinais dos tempos”, escreveu Kamalata Numa, num artigo intitulado ‘Angola – A crise de legitimidade lacrada’.
O antigo dirigente das FALA, o braço armado da UNITA, respondeu à letra à maior parte das afirmações feitas durante a entrevista, tendo mesmo deixado um conselho ao também general: “Por favor, Higino, cresça e apareça. Em Angola a mentira que tem alimentado a vossa existência já não faz caminho”.
À LAC, o general Higino Carneiro defendeu que é chegada a “hora dos dirigentes da UNITA abandonarem as ideias que tinham de Muangay e da Jamba”, argumentando que “o momento é outro”, pelo que se a UNITA quiser participar do jogo democrático em Angola terá de ser coerente com os seus princípios.
A esta afirmação, que Numa classificou como “soberba” e “petulante”, o general da UNITA rispostou arguindo que “não foi o Projecto de Muangay quem fez de Angola um dos países mais violentos de África; dos mais corruptos do mundo; dos que exibem piores indicadores de desenvolvimento humano; dos que mais violam a sua Constituição, daí em diante sempre exibindo indicadores políticos, económicos, sociais e culturais que envergonham todos os angolanos”.
“O senhor general tentou impingir à UNITA a ideia de querer dividir o país durante a guerra com ajuda dos sul-africanos, quando os objectivos dessa luta contra os cubanos e os russos, naquela altura, estão bem demonstrados nos ‘Acordos de Bicesse’. Por isso, é miopia institucional induzida pelo MPLA, pelos seus dirigentes e quadros na manipulação da verdade para produzir tantas inverdades”, rebateu Numa, disparando a seguir:
“É mentira grosseira de quem intencionalmente tenta encobrir a razão daqueles que queriam transformar Angola em trincheira firme do expansionismo dos ideais internacionalistas da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, na África Austral”.
Respondendo, quase na mesma moeda, Kamalata Numa desvalorizou o papel do general Higino Carneiro, considerando que, “como militar, não se conhece dele feitos de grande comandante, tão-pouco se conhece estar à altura dos grandes generais das ex-FAPLA, como João de Matos, Vietname, Faceira, Ngutu, Farrusco, Sakayoya, Eusébio de Brito, Valeriano, Sá Miranda, Pepe de Castro, Mártires Correia Mbanza, Jack Raúl, Seteko, Sousa e outros”.
Para Kamalata Numa, como político, Higino Carneiro “seguiu a marca de incompetência de muitos outros governantes de Angola do pós-independência, deixando pelo caminho o rasto de obras descartáveis em todo o país, a pobreza de milhões de angolanos e com parte significativa a viver na indigência; a legalização da corrupção em benefício de uma minoria de ditadores que colocaram Angola a deriva e sem rumo”.
O general Higino Carneiro chegou a fazer as suas declarações nas vésperas do lançamento do seu segundo livro, intitulado “As Grandes Batalhas e Operações Militares Decisivas em Angola”, lançado a 10 de Fevereiro. Em 2022, o também antigo dirigente do MPLA e governante lançou o seu livro de memórias ‘Soldado da Pátria’.
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