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Sexta, 27 Mai 2022 17:24

Líderes religiosos angolanos recomendam diálogo para alcançar a reconciliação nacional

Líderes religiosos angolanos recomendaram hoje, em Luanda, diálogo para se alcançar efetivamente a reconciliação nacional, pois o atual quadro político e social do país não representa paz total.

Um grupo de líderes religiosos, políticos e membros da sociedade civil angolana reuniu-se no município de Viana, província de Luanda, no 1.º Congresso da Nação: “Pensar Angola, por um Projeto Comum de Consenso”.

Como orador especial, o bispo Zacarias Kamwenho, da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), considerou que nas vésperas das quintas eleições gerais do país em agosto é importante iniciativas do género no sentido de avaliar a situação, lamentando a ausência de representantes do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Zacarias Kamwenho, arcebispo emérito do Lubango, realçou que a CEAST, em 1992, dizia que aquelas eleições só seriam democráticas e válidas se fossem livres e justas, recomendação que é válida 30 anos depois, face “aos temores que pairam sobre a CNE [Comissão Nacional Eleitoral] com a logística das eleições”.

Segundo Kamwenho, foram dados alguns passos práticos no sentido da reconciliação, nomeadamente a entrega dos restos mortais aos familiares e o pedido de perdão tanto do Presidente da República e do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos às vítimas do 27 de maio.

“E no diálogo tivemos indícios animadores por parte do titular do poder executivo no início do seu mandato. No decurso do mandato e no final do mesmo temos notado uma falta de abertura ao diálogo, a que se propôs no início especialmente com os partidos da oposição”, o arcebispo, relançado ainda os recuos no combate à corrupção.

Para Zacarias Kamwenho, Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, em 2001, a iniciativa Pensar Angola “é partir do princípio de que em Angola os cegos ouvem, os surdos-mudos veem e a sociedade civil, incluindo a igreja, e esta por responsabilidade acrescida, fala”.

“Pensar Angola, independentemente de quem ganhar as eleições, é dizermos que a inclusão no seu sentido pleno é isto, que em oportunidades iguais veja-se apenas a competência, a cidadania e a ética”, frisou.

Por sua vez, o reverendo Ntoni Nzinga, em representação do Conselho das Igrejas Cristãs de Angola (CICA) considerou que a situação política de Angola “está muito crítica”.

“Pensar Angola está exatamente a chamar-nos a atenção que não podemos nem devemos continuar a andar como estamos a andar”, realçou Ntoni Nzinga, lembrando que o Estado angolano é constituído por todos os angolanos.

“Não é o partido que faz e desfaz e nós todos temos que dizer amém ou aleluia”, acrescentou Ntoni Nzinga, antigo secretário-executivo do Comité Intereclesial para a Paz em Angola (Coiepa), entre 2000 e 2008.

Relativamente aos desafios, Ntoni Nzinga disse que o alcance efetivo da paz é um deles, tendo em conta a vida que os angolanos levam atualmente.

“A paz em Angola não é ainda a paz, porque a vida que temos hoje não é vida. Todos os dias quando paro o carro no meu escritório choro quando vejo crianças a dormirem na rua, aqui em Viana, todos os dias. Não posso dizer que estamos em paz”, disse.

De acordo com o Ntoni Nzinga, a reconciliação ainda não teve lugar, observando que a mesma não se faz apenas com o calar das armas, mas dialogando e buscando respostas sobre as razões das divergências, “e assumindo o compromisso de que nunca mais faremos o que nos levou a esse ponto”.

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