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Sábado, 16 Janeiro 2021 13:10

Irene Neto diz que ações judiciais em Angola "têm substrato político"

Irene Neto diz que "as posições" de organismos judiciais angolanos têm um "substrato político" e que há "grande pressão" no período eleitoral. O seu marido está detido por suspeitas de corrupção.

A filha do primeiro Presidente angolano e mulher de um empresário detido por corrupção afirmou este sábado que “todas as posições” de organismos judiciais do seu país têm um “substrato político” e que há “grande pressão” no período eleitoral.

Em entrevista à Lusa, Irene Neto, filha de Agostinho Neto e mulher do luso-angolano Carlos São Vicente, explicou que “todas as posições tomadas pelos organismos judiciais, em particular, neste contexto [o atual], têm todas um substrato político”, considerando que foi “precipitada a tomada de decisão” da justiça de aplicar a medida de prisão preventiva ao marido.

“Dentro de um quadro de luta contra a corrupção, de uma situação muito delicada de desemprego, de problemas económicos, derivados ao baixo preço do petróleo, que é o nosso maior produto de exportação, face a toda uma contestação política juvenil com manifestações, há todo um conjunto de elementos que terão precipitado esta tomada de posição”, da Procuradoria Geral da República de Angola, afirmou, não querendo falar, porém, sobre as diferenças de atuação política do atual Presidente angolano, João Lourenço, e do seu antecessor no cargo, José Eduardo dos Santos.

Para Irene Neto, “não há muita perspetiva positiva a curto prazo” para o seu país.

Na sua opinião, estas são situações “sempre difíceis de conjugar com a vontade imediata de resultados imediatos para a população, sobretudo os jovens que se debatem com muita miséria, desemprego e falta de esperança, de perspetivas”.

E a somar a tudo isto, “o próximo ano será de eleições presidenciais legislativas”, destacou.

Quanto ao processo do marido lembrou que “não existe ainda” a acusação final e que o arguido forneceu toda a documentação pedida.

Para Irene Neto, o que aconteceu ao marido foi resultado de uma pressão mediática sobre a Procuradoria Geral da República de Angola.

Para Irene Neto, o trabalho que o marido fez teve “benefícios que foram notórios e é pena que todo este projeto esse trabalho esteja a ser destruído, porque arrestado e apreendido como estão [os bens], não está a haver manutenção” das empresas.

Se todo o processo não tivesse acontecido, o Grupo AAA, de Carlos São Vicente, tinha hoje, só em Angola, um património que a sua mulher estimou em mil milhões de dólares e empregava cerca de 700 trabalhadores nas suas duas áreas mais importantes de atuação, seguros e hotelaria.

O empresário começou por ser investigado na Suíça, por suspeita de branqueamento de capitais, há cerca de dois anos, com base numa denúncia de um banco.

Em Angola a investigação começou só no verão de 2020, o que conduziu à sua prisão preventiva e, segundo o despacho que determinou a prisão preventiva de Carlos São Vicente, em setembro de 2020, este levou a cabo “um esquema ilegal” que lesou a petrolífera estatal Sonangol em mais de 900 milhões de dólares (cerca de 763,6 milhões de euros).

Ainda de acordo com aquele documento, o empresário, que entre 2000 a 2016 desempenhou, em simultâneo, as funções de diretor de gestão de riscos da Sonangol e de presidente do conselho de administração da companhia AAA Seguros, sociedade em que a petrolífera angolana era inicialmente única acionista, terá levado a cabo naquele período “um esquema de apropriação ilegal de participações sociais” da seguradora e de “rendimento e lucros produzidos pelo sistema” de seguros e resseguros no setor petrolífero em Angola, graças ao monopólio da companhia.

Questionada sobre as ligações do marido a Manuel Vicente, à data o homem forte da petrolífera e depois vice-presidente de Angola, Irene Neto limitou-se a dizer: “O engenheiro Manuel Vicente era o Presidente da Sonangol e o meu marido trabalhava na Sonangol”.

Mas sublinhou que “naquela altura, mais do que Manuel Vicente, havia outras estruturas supra Manuel Vicente” e acrescentou que “assim como tudo, e todo o resto que se fazia em Angola, foram tomadas decisões, foram criados grupos, foram distribuídas ações e participações por orientação do mais alto titular do poder executivo”, frisou. 

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