Nzita Henriques Tiago nasceu a 14 de Julho de 1927 na Missão São José de Luali em Cabinda, mas viveu a maior parte da sua infância em Boma Lubinda de onde era originário o seu pai, daí, ser citada com frequência a aldeia de Boma Lubinda como o local de nascimento de Nzita Tiago.
Durante a juventude colaborou com Patrice Lumumba, com quem tinha laços familiares indirectos, e integrou o Movimento Nacional Congolês (MNC) em Stanleyville, actualmente Kisangani na República Democrática do Congo, RDC. Foi co-fundador da FLEC em 1963. Em 1969 tentou abrir a primeira delegação do movimento cabindês em Cabinda, então colónia portuguesa, acabando por ser preso pela PIDE. Para além de Cabinda Nzita Tiago esteve também detido em Luanda e São Nicolau, actualmente Centro de Detenção de Bentiaba. Com a Revolução de 25 Abril de 1974 em Portugal, Nzita Tiago é libertado e regressa a Cabinda onde abre oficialmente o escritório da FLEC.
Com o processo de descolonização de Angola Nzita Tiago compreendeu que não havia vontade política para negociar a independência de Cabinda e optou pela luta armada contra as tropas portuguesas, ainda presentes no enclave, e contra as forças do MPLA. Em plena Guerra Fria com o MPLA a beneficiar do apoio da URSS e Cuba, Nzita Tiago foi considerado como «o homem dos americanos» e assim obteve o apoio directo do presidente gabonês Omar Bongo e do Marechal Mobutu do Zaire, actual RDC.
Na década de 80 a FLEC controlava cerca de 75% do território de Cabinda enquanto o MPLA controlava apenas as regiões costeiras do enclave, ricas em petróleo.
Nzita Tiago recordou também as várias tentativas para negociar o fim do conflito em Cabinda com Angola e citou os Acordos de Sáfica em 1987 e a reunião de Libreville como os maiores sucessos diplomáticos da FLEC. Mas, segundo Nzita Tiago, «há sempre gente que fala em meu nome sem que eu saiba», que para o presidente da FLEC sempre foi uma das razões dos fracassos das negociações.
Nzita Tiago insistiu que antes de estabelecer qualquer negociação com Angola é necessário juntar todos os cabindas em torno de uma reunião intercabindesa «para decidirmos sobre o estatuto de Cabinda», disse o presidente da FLEC.
Depois da Intercabindesa, defende Nzita Tiago, é necessário ter uma reunião magna entre os cabindas e Angola onde cada um irá defender e argumentar as suas posições, tais como sobre um referendo, autonomia, federação, confederação ou independência.
Sobre as recentes tentativas de membros da FLEC negociarem directamente com Angola, Nzita Tiago disse: «São três ou quatro pessoas que vão por aí a falar em nome da FLEC e de Nzita. São pessoas que estão contra Nzita mas aproveitam-se daquilo que Nzita faz».
«Recentemente eu reuni o vice-presidente (Anny Kitembo), Buela e Tiaba Nkuso e dei-lhes uma carta para entregarem ao embaixador angolano em Bruxelas, nessa carta eu pedia a José Eduardo dos Santos, como Chefe de Estado, para escolher um local para nos encontramos assim como perguntava quais as facilidades que ele poderia por à minha disposição para eu poder deslocar-me», contou Nzita Tiago. «O vice-presidente (Anny Kitembo) e Buela partiram com essa carta e foram ter com o embaixador angolano em Bruxelas. Desde aí nunca mais soube se entregaram a carta ou não. Nunca mais tive qualquer comunicação. Comecei a ouvir que estavam em Brazzaville. Soube por outras pessoas, por pessoas que estão em África e que me chamaram. Desde que eles partiram para Bruxelas até hoje que não sei de nada. Nem sei se houve alguma resposta ou promessa.»
«Há homens que vêm com interesse, pedem para ter o nome de Nzita, a assinatura de Nzita e depois vão negociar outras coisas. Mas José Eduardo dos Santos também é culpado porque ele podia enviar alguém para falar directamente comigo», disse o presidente da FLEC.
«Nós queremos acabar com a guerra em Cabinda. O território de Cabinda pode vir a criar um problema muito grande para a região. É necessário que o Governo angolano e José Eduardo dos Santos assumam as suas responsabilidades. Com a reunião intercabidesa vamos saber o que é que os cabindas querem e poderemos traçar a linha que deve conduzir Cabinda à paz, aí teremos também o “manual” para as negociações com Angola», disse Nzita Tiago.
«Depois da intercabindesa, para resolver definitivamente o problema de Cabinda é apenas uma questão de 30 minutos com José Eduardo dos Santos», concluiu o presidente da FLEC, Nzita Tiago.
PNN