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Quinta, 16 Março 2023 11:58

O (não) debate sobre o envio do contingente Angolano para o Congo

O conversa publica sobre o envio do Contingente Angolano na RDC, porque chamar isto de discussão ou debate publico seria lhe dar uma dignidade indevida, é de uma pobreza e banalidade que esta abaixo da seriedade do assunto, não trazem informações relevante a questão, e sempre apelam a argumentos emocionais.

Por Roboredo Garcia

No passado os políticos da oposição se criticavam a Presidência por decidir unilateralmente intervenções estrangeiras, dizendo que estas deverias se sujeitas a aprovação Parlamentar, por exemplo Eduardo Kuangana que disse que “Uma intervenção militar decidida de forma unilateral pelo presidente da República, José Eduardo dos Santos, como tem sido regra, irá criar-nos problemas futuros”, Adalberto Costa Júnior para quem “a actual Constituição de Angola obriga que uma eventual presença militar em países estrangeiros deve ser aprovada pela Assembleia Nacional e […] seria bom que o país se pautasse pela normalidade institucional”, e o Ngola Kabangu da FNLA não fugiu muito da opinião da manada (Angonoticias, 2008, https://www.angonoticias.com/Artigos/item/20344/oposicao-angolana-e-contra-intervencao-militar-no-congo), porem parece que nunca se importaram de adquirir a capacidade de exercer este direito.

não respondendo a questões realmente essenciais: qual é o interesse nacional de Angola, qual é o objectivo de Angola com esta intervenção, e finalmente se os meios .

Vamos tomar como exemplo os comentários do analista político Luís Jimbo, reproduzidos no jornal OPais (2023, https://opais.co.ao/luis-jimboenvio-de-forcas-militares-a-rdc-deve-ser-no-quadro-de-intervencao-da-uniao-africana-para-manutencao-de-paz/), e no programa da Zimbo com o José Paquissi Mendonça, reproduzidas na pagina do Facebook do Celso Malavoloneke (2023, https://www.facebook.com/celso.malavoloneke/posts/pfbid03GAnhvBYTQiThdovf9MA6CWvuGyM3ePGZBHJBCpJ5hGkWe1bSh3HuRsmdYCLTvgXl?comment_id=3038988593073921&reply_comment_id=8990926310982449&notif_id=1678801281747168&notif_t=comment_mention&ref=notif).

 

No artigo do OPais o Luís Jimbo peca por exibicionismo pegadogico, explanando longamente sobre todas as modalidades e tipos de intervenção de pais, sem nunca nos dizer qual é o tipo de intervenção que Angola vai fazer e qual vai ser o objetivo estrategico ou tactico. Compare com um artigo Congoles sobre o mesmo assunto, do Jornal Actualité (2023, https://actualite.cd/2023/03/14/rdc-le-mandat-du-contingent-angolais-ne-sera-pas-offensif-et-entre-dans-le-cadre-du), que diz o essencial em poucas palavras: Um batalhão das FAA vão fiscalizar o aquartelamento dos M23, ambas medidas previstas em acordos passados entre os beligerantes ao qual Angola subscreveu.

Do exibicionismo pedagógico depois pulamos para o falar sem dizer, pois o analista politico nos diz que “as acções de Angola podem ter consequenciais positivas e negativas”, como se não é de conhecimento comum que uma coisa ou outra pode acontecer, porem o que queremos é que ele nos diga, na qualidade de especialista e analista politico, quais são as consequenciais especificas que podem acontecer neste caso. Imagine se a TPA lhe desse a seguinte previsão meteorológica: “Existem chances de chuva e de bom tempo, como todos sabemos”

Os comentários de Luís Jimbo reproduzem a mesma linguagem sentimentalista que tem lugar em uma briga de casal e não em geopolítica, onde, com a resalva de não cair no maquiavelismo tosco do chicoesperto, devemos lembrar que os actores (países, movimentos armados, grupos étnicos), tem interesses que podem ser de curto e longo prazo, que ditam as alianças e os antagonismos. Esta a temer que o governo da RDC, grupo rebelde ou o Rwanda deixam de acreditar em Angola no JLO … quando deveria nos dizer se os interresses de Angola se alinham com quais destes actores e se temos os meios de defender os nossos interesses. Estes comentários são do nivel do agora desempregado Presidente da CASA-CE, quando vice-presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes: “país não pode voltar a envolver-se no conflito interno da RDC por via da força, sob pena de reacender o sentimento hostil da sociedade congolesa em relação a Angola”. Pergunte ao Excelentíssimo desempregado quando foi que teve “o acender de sentimento hostil da sociedade congolesa em relação a Angola” e não recebera resposta, pois ele apenas disse isto por ser um jogo de palavra bonito e não uma verdade. A ultima vez que teve uma hostilidade Congolesa contra Angola foi no quadro da expulsão de imigrantes ilegais Congoleses em Angola, como no quadro da operação transparência, e nunca por causa da intervenção Angolana no Congo. A única nacionalidade vitima de hostilidade Congolesa por causa da intervenção de seu governo foram os Rwandeses, queimados com pneus e espancados nas ruas de Kinshasa.

 

Ainda na clave do sentimentalismo, Luís Jimbo quer saber porque que Angola deveria mandar seus filhos morrer no Congo, porem isto se trata de uma manipulação emocional, que apela a imagem do jovem rusgado enviado a frente de combate contra a sua vontade, um drama comum da longa guerra civil Angolana. Os soldados Angolanos actuais são voluntários, já não temos recrutamento compulsivo, vulgarmente conhecida como rusga, pois estes adultos escolherem de livre vontade uma profissão que tem a morte em combate como risco inerente e patente, sabendo a dor que isto pode trazer as mães deles. Quem é o Luís Jimbo para desrespeitar o direito deles de tomar este decisão ? Seria como reclamar que os pilotos correm risco de morrer em quedas de avião.

Claro que se pode discutir a necessidade de por em risco a vida dos nossos soldados, porem o molde desta discussão em Angola é sempre vaga e tecnicamente inútil, alem de raiar ao apelo a insubordinação dos soldados, a quem se pede de questionar as ordens de seu comandante supremo, o que é contra o espírito de um exercito. Se a critica for técnica, no sentido do que um soldado faria melhor se fosse ele a comandar, é salutar e faz parte do processo de profissionalização de nossos soldados.

De 1988 a 2000 (12 anos) Angola foi beneficiaria de vários contingentes de manutenção da paz, UNAVEM I, II e III e MONUA, que sofreram baixas, incluindo o seu chefe máximo Maitre Alioune Blondin Beye, de nacionalidade maliana. Esses tropas não eram filhos de suas mães? Devemos evitar reduzir os outros a nossa própria visão do mundo, sendo que se não tens coragem de impugnar uma arma e obedecer ordens, porque uma vida sem perigo na busca de prazeres é tua unica preocupação, não significa que todos os outros seres humanos assim o seja.

Desde 2008 que se diz a mesma coisa, com o comentário padrão não fugindo das palavras do então Partido de Renovação Social, Eduardo Kuangana : “Hoje, se interviermos militarmente na RD Congo, amanhã as gerações vindouras irão pagar por isso, uma vez que irá fragilizar as nossas forças porque irá morrer muita gente, nomeadamente os nossos militares”, frisou Kuangana (2008, https://www.angonoticias.com/Artigos/item/20344/oposicao-angolana-e-contra-intervencao-militar-no-congo).

 

Luís Jimbo quer saber concretamente, em termos monetários, o que Angola ganha com o envio do contingente, sendo que o Celso Malavoloneke faz a mesma pergunta sobre a IASD, a sua ONG criada para monitorar as eleições em Angola, para saber qual é o beneficio que este dinheiro gasta para os contribuintes dos paises doadores Ocidentais. O problema é que aplica categorias validas a nível pessoal para o nível de países, pois para países o que importa é o Poder, que pode permitir conseguir o dinheiro, enquanto que as pessoas comuns tem o dinheiro como o seu bem supremo.

Depois do sentimentalismo temos o “bom mocismo”, este desejo de parecer ser boa pessoa e dizer coisas bonitas, sem se preocupar com o efeito pratico das propostas que fazemos. Por exemplo quando o Luís Jimbo diz que “a intervenção deve ser feita no quadro da Forças da União Africana”, como um eco das palavras de Lucas Ngonda em 2008: “todo o esforço para pacificar a RD Congo deve passar pela ONU e a União Africana (UA)”. Afinal cooperar é uma coisa nobre, especialmente com entidade idóneas como a UA e ONU, porem na pratica isto iria por os nossos soldados em mais perigos e sem beneficio para Angola, ironicamente. Basta ver que o contingente actual dos Estados da África do Leste (EAC) esta ser acusado de proteger os M23 e criar uma zona que escapa da soberania congolesa que impede o contacto entre forças Congolesas (FARDC) de responder a ataque, a ONU é alvo de criticas similares. Isto resultou em motins da população local que exige a retirada destas forças de paz. (Radio Okapi, 2023, https://www.radiookapi.net/2023/03/09/actualite/societe/8-mars-des-femmes-de-goma-exigent-le-depart-des-troupes-de-leac-de-la) Porque colocar os nossos soldados sob o comando de quem possa ter objectivos inconfessos? O nosso interesse esta no reforço do Estado Congolês e devemos guardar o controle independente de nossos soldados, para sua segurança e para ter a liberdade de acção.

Finalmente o Luís Jimbo usa o truque favorito do comentarista Angolano, que critica de forma vaga, dizendo que poderia se usar uma “melhor metodologia” sem dizer de modo concreto que poderia ser feito melhor.

 

Feitas estas criticas, vamos agora mostrar quais são os elementos que deveriam constar de uma discussão seria sobre o assunto: Quais são os actores, quais são os interesses deles e que meios estão disponíveis para eles.

O Congo (RDC) esta presentemente dividido entre o Governo do novato Tshisekedi que quer consolidar o seu poder e se reeleger, tendo apoio popular e controle do aparelho do Estado, e uma facção leal ao antigo presidente Kabila que ainda não exprimiu a sua intenção de voltar ao poder, seja pelas urnas ou pelas armas como aconteceu com o Denis Sassou N’guessou no Congo Brazzaville, a guerra no leste pode ser uma forma do segundo derrubar o segundo.

O Rwanda tem o M23 como seu fantoche no Congo, com o objectivo alegado de proteger a minoria Tutsi Congolesa, porem os objetivos do Rwanda parecem ser, primeiro, de derrotar o Congo e anexar parte de seu território, o Kivu pelo Rwanda e o Ituri pelo Uganda. Segundo, um esforço de eliminar as Forças Democráticas de Libertação do Rwanda FDLR, o exercito Rwandes Hutu no exílio, que representa uma ameaça ao governo minoritário Tutsi de Kagame. Terceiro de instalar um governo aliado em Kinshasa que ratifique e formalize os dois primeiros objetivos, algo ajudou o Kabila a derrubar o Mobutu e depois quase o derrubaram quando este renegou o acordo, porem foram derrotados pela intervenção do Exercito Angolano ao sul de Kinshasa.

O Estado Angolano tem como objectivo a manutenção do status quo na sua fronteira norte, evitando reavaliação da sua fronteira marítima ou o fomento de santuários para grupos rebeldes como a FLEC, e evitar uma nova onda de refugiados em nosso território.

Este não debate é mais um exemplo da Geopolítica Provinciana que esta na moda moda na classe política Angolana, escrava de seu amor pela critica, sem nunca dizer o que deveria ser feito diferente.

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