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Terça, 18 Janeiro 2022 00:40

MPLA fora e depois?

Namibe – O MPLA, tal como outros partidos a nível mundial que dirigem uma nação, há de sair da jogada um dia, isto não é uma mera probabilidade estatística, mas sim uma certeza Matemática.

Por Londaka Sangangula

Estamos a falar da inevitabilidade do desgaste das coisas, e da má governação que o sentenciam, tudo nesta vida que tem principio tem um fim. Desta feita a pergunta aliás legitima que qualquer cidadão se estará colocando ainda que amiúde e na conveniente surdina é, com o MPLA e o Presidente João Lourenço fora do poder o que virá a seguir?

António Agostinho Neto se foi, tal como foram Viriato da Cruz e tantos outros, o MPLA permaneceu em pedra e cal, alguns de nós caírão na primeira esquina, mas a revolução continuará. Jonas Savimbi passou a papelaria da história que ele mesmo ajudou a escrever com os próprios punhos e sangue, mas a UNITA esta não morreu. Quando eu um dia partir, de onde quer que eu esteja estarei tranquilo por ter deixado quadros capazes de me substituir.

Holden Roberto juntou-se a orquestra dos reiterados, a FNLA, todavia parece mais propensa seguir lhe o caminho nestas próximas eleições de 2022. Que se pode augurar do MPLA com uma eventual saída do poder, e de cena por parte do presidente João Lourenço? Que caminhos para o país?

A incógnita é uma mão negra por baixo da saia da Monalisa, ninguém a vê mas ela lá está, e é ela quiçá que lhe confere aquele sorriso enigmático e celebre, porém ambíguo e que in the end of the day aponta para Ilha de Minhures, o mesmo pode se dizer da incógnita.

Fica óbvio embora sem discurarmos a curtina de nebulosidade que embassa o assunto, tornado tabú em certos circulos, que um dos temas mais centrais da política doméstica, muito embora as pessoas se esquivem de aborda-lo, com a naturalidade de uma sociedade normal que seria apenas esperável, por razões que a ninguém serão alheias, prende-se com o day after MPLA.

Neste universo e planeta Terra, tudo que tem principio tem fim, é só vermos pelas lideranças mundiais, pandemias, guerras, bem como o próprio ser humano que nasce e que um dia tem de morrer, porque assim é a lei da vida humana segundo a Biblia (Gen. 3: 19).  

Volvidos 46 anos desde a independência, dezanove (19) desde a morte de Jonas Malheiro Savimbi, a prateleira dos grandes acontecimentos que fazem a doméstica contemporâniedade socio-politica registou uma série de acontecimentos, muitos dos quais quer tenham sido destaque ou não, certamente jamais serão desprezados pelos arquitectos da história. A verdadeira história, pelo menos auguramos.

A transição do Comunismo para o Multipartidarismo, trouxe o que é óbvio subsídio de outro pecúlio que como jamais passaria despercebido a ninguém, abriram as portas a democracia ou pelo menos deviam, ampliando um mar de possibilidades no âmbito das realizações sociais, as quais esperava-se propiciarem ao povo Angolano, entretanto cansado de sofrer a melhoria das suas condições de vida. Sonho entretanto novamente anulado com o renascimento da guerra, uma guerra totalmente estúpida. Mas que entretanto, enriquiceu alguns e empobreceu a outros, cidadãos da mesma pátria.

Sem registrar a inércia crónica registada no domínio da massificação da agricultura da industrialização do país, da oferta de emprego e condições habitacionais, da doentia educação e formação tecnico-profissional, da oferta de bens e serviços assim como também da sempre polémica e no entanto doentia saúde e assistência médico-medicamentosa.

Iniciativas foi o que não faltou nesta selva de promessas que já ganharam idade, ora no domínio habitacional por exemplo, podem os condomínios habitacionais, as famosas centralidades ser apontadas como ferramenta de um ensaio, que bem poderia ser mais abrangente, mais denso nas suas finalidades. Tal é a sua ensipiência, bem como algo nebulosa as finalidades encontradas para a sua distribuição .

Aliás, a polémica entorno deste dossier Kilamba, Cacuaco com a Sonip aos arrulhos e dores de cotovelo da estirpe da Sodoma e Gomorra continua ainda como é do conhecimento público a fazer sangrar as mais variadas opiniões, sem esquecer as variadas pragas de problemas que de tão antigo ganharam pernas para se projectarem na continuidade, a falta de água e luz para citar alguns dos problemas.

A questão da intolerância política, da aversão ao contraditório a alergia a alternância no poder, são fantasmas não apenas temidos, mas combatidos com unhas e dentes emprestado de modelos totalitários que na verdade não ficariam mal nas sanitas do passado, mas sobretudo nos calabouços de uma memória de guerra que ninguém mais se devia prestar a combater; falar a verdade continua sendo perigoso em tempo de paz.

Cantamos a paz construindo um estado diametralmente militarizado, em que a Polícia e as FAA hesitam pouco em levar a mão ao gatilho, Caso Canfunfo, morte do activista Inocêncio de Matos e outros foram apenas um dos mais mediatizados. Ora no dominio da Educação por exemplo, enquanto se corrompia a base da pirâmide do nosso ensino onde vigora uma tal Reforma Educativa, e que já emprestou ao caldo das questões mais candentes suas consistentes doses de deslates, absurdos e dor de cotovelo, assistimos a um exponencial aparecimentos de escolas e universidades privadas. Menosprezar tal progresso de per si não é engenharia de boa vontade, não va o diabo tece-las todavia que o bum que registou no aparecimento destas escolas e universidades não teve em conta a escasses de professores (docentes) e fruto disso vemos hoje alguns professores mal preparados a leccionarem em escolas públicas, privadas, bem como em universidades e nem será preciso dizer que tipo de quadros estaremos formando.

No domínio da construção de estradas, o coro foi maior que a boca do próprio poeta e a grande maca esteja mesmo no tipo de fiscalização do tipo de obras, que vegetam por este país a fora, sendo as estradas cascas apenas de um problema mais amplo que exigiria uma revisão mais vertical do assunto, quem quiser conhecer o problema das estradas em Angola empreenda uma viagem por terra. Falta de soluçoes! Definitivamente não, talves vontade de fazer com as ferramentas que realmente convinha, é este o quadro que se nos oferta após dezanove (19) anos desde assinatura do memorando de entendimento no Luena.

Com a morte de Jonas Savimbi, bode expiatorio para todas as caimbras, que enfermavam a governação diga-se de passagem e o consequente calar das armas, mas uma vez renovou-se o sonho por varias vezes adiado. Todavia, volvidos que são dezanove (19) anos de paz, enquanto se assiste novamente a olho nu ao entretecer de uma teia gorda de enriquecimento exponencial e não justificado, por parte de uma pequenissima clique de cidadaos ligados ao partido no poder, a grande maioria de nós continuamos a espera da grande epifania; a realização dos sonhos emanados nos espiritos dos nacionalistas que auguravam então a realização do Angolano por via da deposição do colonialista. Sonho entretanto ancorado, o mais importante é resolver os problemas do dizia Agostinho Neto.

Os partidos tradicionais mesclados por outros que surgiram nas jestas das febres pluripartidarias e democraticas como nulo legitimariam uma salubre ambiência, de aceitação mútua de convivência na diferença foram a pleito quatro vezes a primeira em 1992, a segunda em 2008, a terceira em 2012 e a quarta em 2017 todas elas ganhas pelo MPLA. Um partido que tem atesta o Presidente João Lourenço que acaba de termniar o seu mandato, uma pergunta permanece no ar. Já foi construido no trabalho o homem novo como invocado no Hino Nacional da República de Angola? Ou o homem novo são estes novos endinheirados enquanto outra parte da popolação vive no desemprego, de água turva, cabuenha, salário de miséria, e apanha comida no lixo? Cada um sabe a resposta.

Cá chegados as margens da terceira república e ao passo que os veteranos da guerra da independência vão beijando a vertigem dos 70 e 80 anos, embora ainda em exercício de funções, sendo que a vida não para muito menos as circunstâncias professam a serventia dos caprichos dos homens! Importa questionar-mo nos sobre o futuro deste país chamado Angola. Pois os actores actuais tal como todos nós aqueles outros antes de todos e cada um de nós passarão a história.

Com o MPLA no poder desde 1975 vemos hoje em Angola todas as instituições públicas partidarizadas, e com agentes dos serviços secretos infiltrados nas mesmas. A estratégia de potenciar materialmente os generais por exemplo, no âmbito da guerra poderia servir como um grande estímulo, e não é novidade pra ninguém que a ostentação aberrante de que são senhores os heróis da farda hoje, ao contrário dos ex-militares que rastejaram até a última bala e o derradeiro saco de milho torrado tem suas origens nesta acertiva. No entanto, esta  estrategia revela-se hoje como uma espada de dois gumes, muitos generais hoje milionários não são proprimente um exemplo de disciplina patriótica, muitos deles se não a maioria identificando-se embora com o partido no poder  não podem ser no entanto apontado como um exemplo de bona fan quer partidária ou de genialidade ético moral.

Alguns deles são recorrentes em actos de conduta reprovavel que só encontram sustentabilidade na arrogância e na bosanidade. Tendo os mesmos alcançado a independência financeira, numa eventual saida do MPLA do poder emprestariam eles obediencia, respeitariam  um segundo partido resultante de um pleito eleitoral? vergar-se iam a observância da lei?

O presente texto não se pretende de forma alguma um relato apocaliptico de eventos que possam a ocorrer livre-nos modestia, nem sequer se nos desenha na mente tal propensão, porém nada nos impede lançar um desafio reflexivo sobre esta teias de possobilidades dramáticas e eventualmente surpreendentes porquanto implicando directamente a nossa vida em sociedade.

Alguns generais e politicos foram ao longo do tempo acumulando dinheiro e influência capazes conspurcarem a aura do livre exercício do direito e mesmo da cidadania como seria esperavel numa sociedade que se reclama de direito e democrática. Na verdade a UDP e as outras instituições afins ligadas a segurança do estado, abocanham cifras chorudas do bolo orçamental não declarados publicamente oriundos dos cofres do estado, e o povo a ver lulas.

Além disso, as mesmas instituições ligadas a segurança do estado constituiem fontes de emprego de milhares de pessoas. Que futuro para estas pessoas que trabalham na UDP e na segunrança do estado numa eventual saida do MPLA do poder? Emprestariam a mesma fidelidade ao substituto do MPLA? Respeitariam as instâncias judiciais? Haveria convivência sã com as FAA, a Policia Nacional e outras forças paramilitares?

Um mar de possibilidades boa parte delas incorpando certamente a expressão genérica eventos extremos se desenha no ar, no entanto só o futuro dirá. Mas não é pedir muito que estejamos bem preparados no caso de uma parte da população não aceitar os resultados eleitorais.

A nossa noção de história foi destruída pelos desígnios mesquinhos de pequininos grupinhos , hoje no entanto a história está se encarregando de destruir os pequeninos grupinhos para repintar os desígnios das novas gerações, será que os seus anseios prevalecerão? O futuro é sempre para o mar alheio, a nossa memória no entanto apesar de curta fica mais densa a medida que a rapidez arrebatadora dos eventos, estabelece afinidade entre nós e os mesmos, e obrigue que nos identifiquemos com ela, ainda que projectado para um futuro que não poderemos esperenciar mas que o viveremos através dos nossos filhos. É ponto assente que todos nós seremos um dia apenas história, aquilo que antes ocupava atenção dos nossos espiritos e preenchia a cartilha das reuniões, quer com a consciência de heróismo ou de mera leviandade displicente será apenas passado.

MPLA fora e depois? Haver vamos.

Adapatdo das gravações de Fridolim, K.C. 2016. MPLA fora e depois? Benguela.

*Londaka Sangangula é licenciado em English Language Teaching, chefe escuteiro, escritor, investigador e autodidacta desde 2009.

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