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Domingo, 29 Março 2020 10:16

Covid-19 em Angola : Uma experiência mental e uma nova era

Vou pedir ao leitor que me siga em uma experiência mental sobre como seria gerir uma crise política e sanitária em Angola em 2020, qualquer semelhança com a realidade sendo mera uma coincidência.

No dia 15 de Marco de 2020, pelas 15 horas, o teu assessor, o querido Bajulino, te diz que vazou na imprensa online e nas redes sociais informações sobre primeiro caso de COVID-19 em Angola.

Isto levanta várias perguntas:

1 - A avaliação de risco sanitário feita e que não colocou Portugal na Lista de Países de risco foi incorreta?

2 - O governo Português não foi sincero e não comunicou a nós a situação real?

3 - Os teus serviços de inteligência em Portugal não foram capazes de te avisar da situação real?

Lembrando que Portugal tomou a primeira medida de contenção no dia 10 de março ao encerar as escolares, alguma coisa falhou porem já não há tempo para corrigir isto agora. Sendo que agora te resta apenas reagir, porem tendo em conta os Angolanos acompanharam com ansiedade o desenrolar da epidemia nos outros países, por meio das redes sociais, o único ato político que pode satisfazer a opinião pública e ser eficaz ,do ponto de vista sanitário, seria de encerrar as fronteiras de forma imediata, especialmente com Portugal.

Porem isto traria 3 problemas políticos graves:

4- Levantara dúvidas sobre a eficácia das medidas de rastreio nos aeroportos e a possibilidade que outros casos passaram pela malha Sanitária.

5- Criara a imagem de uma presidente reactivo apesar de ter o exemplo de outros países desde janeiro de 2020. [B]

6- Vários membros da Elite Angolana, incluindo a tua filha, estando em Portugal, aonde podem ter um estilo de vida moderno ausente em Angola, apesar dos Talatonas e outros remendos, seu repatriamento em voos especiais poderá criar publicidade negativa, imagine um “Marimbombo Airlines” no 4 de fevereiro, e ser contrastado com o “abandono” dos Estudantes Angolanos em Wuhan. Isto significa que houve uma falha nos pontos 1, 2 e 3.

O que o leitor faria?

Existem duas opções: A primeira sendo de encerar as fronteiras imediatamente, e a segunda envolve o seguinte:

7 - Pedir que a OMS publique um comunicado desmentindo que Angola tenha um caso de coronavírus. (resolve o problema 4)

8 - O Presidente anuncia o enceramento das fronteiras, em vigor dentro de poucos dias, apesar do país não ter nenhum caso confirmado de coronavírus, isto permite criar uma imagem de firmeza. (resolve o problema 5)

9 - Manter os voos comerciais para permitir o retorno dos membros da Elite escondidos dentro de centenas de passageiros normais, e assim evitar que se cria imagens de um “Marimbondo Airlines” a resgatar estes. (resolve o problema 6)

Depois de resolver estes 3 problemas criaste um quarto problema: trazer centenas de Angolanos diretamente de Portugal cria um grande risco de importar o vírus, porem tua Ministra da Saúde resolve isto ao sugerir quarentena obrigatória no Calumbo para todos só passageiros.

Depois de uma ligeira manobra política para salvar sua imagem, coisa muito normal até em países do primeiro mundo, consegues também preservar o bem comum.

Porem aqui tudo saiu dos carris no dia 18 de Marco quando os passageiros vindos de Lisboa se insurgem diante da aparente recusa da filha do ministro do Interior de cumprir a quarentena obrigatória, exigindo que fossem também autorizados a “usufruir de quarentena domiciliar como ela”, e de uma maneira inexplicável foram todos “soltos depois de assinar termos de responsabilidade, depois da ministra da Saúde ceder ?

Sendo que agora tens dois problemas adicionais, sendo que agora tens 3:

10 - Importaste centenas de pessoas de um país com alto risco,

11- Espalhou-se dezenas de possíveis contaminados em várias províncias ao invés de os ter concentrados em um só local, o Calumbo.

12 - A tua credibilidade acabou de ser destruída.

O que levaria o teu colaborador a criar uma situação de publicidade negativa deste modo?

Explicações possíveis:

1- As condições Sanitárias do centro de quarentena não são suficientes para impedir o contagio entre os internados.

2- O primeiro caso de COVID-19, seja o desmentido, real ou o oficial, criou um foco de contaminação na população local e teu colaborador sente que a filha não estará segura no centro de quarentena.

3- As condições de habitabilidade do centro de quarentena são precárias.

Isto contradiz toda as informações que recebeste do teu ministro da Saúde, sendo que tens duas opções: Exonerar o ministro ou o manter no cargo?

Exonerar seria uma admissão que a resposta do governo a Pandemia falhou, e te retira a possibilidade de exonerar ela depois, se as coisas realmente saírem do controla mais tarde, e manter ela no cargo necessitaria apenas mais supervisão e consultoria da externa. O que farias?

Resta saber o que fazer do Ministro do Interior por quebrar a ordem de quarentena, sendo por cima o coordenador da comissão Interministerial de combate ao COVID19 em Angola?

Poderias o exonerar de maneira pública e humilhante, afinal tua alcunha sendo mesmo a de “Exonerador Implacável” o povo apreciaria, porem o futuro ex-ministro sendo um aliado próximo poderás criar um inimigo implacável, por isto tens outras opções como uma manter ele no cargo apesar de desobedecer de maneira direta a uma ordem tua, o que pode ser péssima para teu prestigio, ou o exonerar de maneira “lenta” primeiro com uma quarentena domiciliar que o afasta do Cargo e depois por uma transferência para uma província como forma de castigo. O que farias ?

Por última resta centenas de Angolanos, retidos Portugal, Brasil e África do Sul por conta do encerramento das fronteiras, que desejam regressar, entre passageiros “normais” e membros da Elite, tendo a seu dispor 3 caminhos: [1]repatriamento imediato, e vais mitigar o risco sanitário com quarentena obrigatória, ao mesmo tempo levantar dúvidas sobre a “dureza” do encerramento das fronteiras, [2]podes prestar assistência a estes nos países retidos até o fim da epidemia, [3] podes colocar as pessoas em per-quarentena nos países de origem e em uma segunda quarentena ao chegar em Angola. O que farias ?

A próxima carta que tens disponível será declarar o Estado de Emergência, com duas escolhas:

1- Declaração imediata e com efetividade imediata, que daria uma imagem de firmeza, porem que poderá estar descoordenada se faltou preparação ou por conta do problema que tens com teu ministro do Interior.

2- Usas algum artificio burocrático, como o conselho da republica, para ganhar alguns dias que te permitirá mobilizar o dispositivo.

O que farias ?

Angola entrou em uma nova era, sem que nossas Elites, MPLA e oposição, tenham notado.

Angola sempre foi um pais fácil de governar, por quatro motivos, primeiro porque sempre tinha uma potência estrangeira interessada em nos, seja pela nossa tossicar estratégica, por exemplo como base para invadir as republicas brancas dá a África do Sul e Rodésia ou para ameaçar as rotas de navegação do Atlântico Sul, ou por causa de recursos valiosos que poderiam ser explorados em total isolamento do resto do pais, como acontece com o petróleo ou diamantes, e terceiro porque o governante Angolano, e seus dependentes e clientes, podem sempre podiam viajar ao exterior para escapar do mau resultado de seus programas de governo.

Aceder a tratamento médico, educação e mesmo residencial de nível moderno que não está disponível aqui apesar de todos os Talatonas e Condomínios, e finalmente, e finalmente poder comprar no mercado internacional consultoria e tecnologia sem se preocupar com o fomento de infraestruturas e talentos locais, apesar que existiu algum esforço de recrutamento local como a “Angolanização” no sector petrolífero ou a necessidade de distribuir empregos a milhares de simpatizantes.

Com a produção do petróleo de xisto americana e a diminuição do consumo em um ocidente economicamente moribundo, o que isto retirou a Angola a primeira e segunda vantagem, sendo por isto que o Presidente Xi Jiping não passou um cheque em branco ao JLO no início do mandato, o que levou Luanda a procurar um plano B baseado em uma “virada neoliberal”, uma mistura de privatizações de grupos do Estado e investidores estrangeiros, encarnada pela ministrar Vera Daves. e que acaba de morrer com o COVID-19.

A terceira e quarta vantagem, viajar para exterior para escapar de seus erros e adquirir material e serviços no exterior com , está temporariamente indisponível por conta da natural global da Pandemia e poderá ser tornar indisponível a longo prazo por causa da redução a longo prazo das receitas petrolífera e do excesso de capacidade de produção no mundo, por exemplo se o Irão, Venezuela ou Líbia voltaram a seus números históricos a pressão sobres preços seria enorme.

Sendo que o COVID19 é a primeira crise do nosso país que tem de ser resolvida com meios próprios e liderança local, e parece que não será a ultima, a era da facilidade acabou.

Por Roboredo Garcia

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