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Quarta, 16 Abril 2014 13:50

Êxito insuficiente

A tensão diplomática entre Portugal e Angola, que levou o presidente angolano a anunciar, em Outubro de 2013, o cancelamento da parceria estratégica com Portugal, teve a sua génese nas sucessivas fugas de informação em investigações do Ministério Público (MP) português a altos dirigentes angolanos.

Angola insurgiu-se, legitimamente, contra um dos cancros da justiça portuguesa - a constante violação do segredo de justiça, que tem recorrentemente atingido também inúmeras figuras públicas e políticas nacionais.

As autoridades angolanas deram uma lição política ao governo português, na medida em que Luanda protestou contra a violação do segredo de justiça do MP português, e o MNE Manchete pediu desculpa por o MP investigar altas individualidades angolanas.

É natural e desejável que as tensões e conflitos na relação entre Estados sejam tratadas discretamente, longe dos holofotes mediáticos. Admitindo que o êxito da "diplomacia silenciosa" de que fala Luanda não se deve ao fim das investigações a altas individualidades angolanas, é de salutar a melhoria do relacionamento político entre os dois países. Contudo, o tom amigável do título do editorial do diário estatal angolano - "Angola e Portugal Juntos", publicado após a recente visita da ministra da Justiça portuguesa, e a promessa de realização da cimeira luso-angolana, inicialmente marcada para Fevereiro, embora positivos, representam um êxito insuficiente.

O êxito da "diplomacia silenciosa" só será inequívoco se, apesar da nova pauta aduaneira angolana, a assinatura da parceria estratégica se traduzir no reforço das relações económicas entre as duas economias. Aproveitando a dificuldade financeira que atravessamos, Luanda tem procurado tirar vantagem desta "tensão diplomática" esfriando a relação com o nosso país de forma a ganhar espaço para outros países que entretanto se tornaram mais estratégicos. Este é o momento para se reforçar os laços entre os dois países, com base no respeito institucional mútuo. Mais do que pela história, temos de o fazer a bem do futuro de ambos os povos.

Por João Dias

Diário Econômico

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