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Quinta, 19 Novembro 2020 15:12

Obama não tem dúvidas: "A internet é a maior ameaça às democracias"

Ex-presidente dos EUA alerta para os perigos das redes sociais e da internet em geral para as democracias atuais e "a situação só está a piorar". Obama deixa ainda alguns conselhos para um futuro com mais factos e menos divisão na sociedade. "É preciso saber distinguir o que é verdadeiro do que é falso".

Quando foi eleito o primeiro presidente dos EUA afro-americano em 2008, a internet foi o principal palco que levou a mensagem de esperança (Hope) de Barack Obama mais longe. Doze anos depois, oito anos como presidente e quatro a ver Trump na Casa Branca e um país cada vez mais dividido, agressivo e alimentado pelos algoritmos que incentivam a posições mais extremas nas redes sociais (YouTube incluído), Obama está "muito preocupado".

"A internet é a maior ameaça à nossa democracia", disse de forma categórica numa entrevista ao Atlantic esta semana, a propósito do lançamento do seu livro de memórias "Uma terra prometida" (A Promise Land). Já não é a primeira vez que Obama revela preocupação com a internet na divisão e polarização de uma sociedade cada vez pior informada pelas redes sociais, onde inclui desde os radicalismos de direita, como o que chama de cinismo da chamada cultura de cancelamento que busca uma sociedade "mais pura", que "simplesmente não é possível porque o mundo é complicado".

Agora as críticas sobem de tom e chegam também na sequência do documentário da Netflix O Dilema das Redes Sociais, que aponta o modelo de negócio em torno da publicidade e da necessidade dos algoritmos que se focam na atenção de mais de 2 mil milhões de pessoas (algo alimentado com desinformação e discursos mais radicais) como um problema grave.

Ao Atlantic, Obama coloca no mesmo cenário preocupante das redes sociais a primazia de canais de televisão como a Fox News, que "permitem aos americanos escolherem a sua própria realidade distorcida". O que significa, diz ele, que deixam de existir "um conjunto partilhado daquilo que são factos para os membros da sociedade".

O que Obama não explicou com pormenor foram as receitas para dar resposta ao problema que tem sido identificado em vários estudos académicos que também mostram os efeitos dos algoritmos das redes sociais e plataformas online na juventude.

"Temos agora um país onde um grande número de pessoas acredita genuinamente que o Partido Democrata é uma fachada para uma rede de pedófilos... Tenho ouvido pessoas a falarem-me das teorias da conspiração QAnon como se tivessem base na realidade", disse.

Obama deixa ainda bem claro que grande parte da sua preocupação está em torno da internet, que age como uma espécie de gasolina do pior da natureza humana "que só está a crescer" e a "influenciar toda a sociedade como um todo".

"Não responsabilizo totalmente as empresas de tecnologia, porque a tendência é anterior às redes sociais, já lá estava, mas elas deram-lhe uma dimensão global e agiram como motor", explica o 44º presidente do EUA. Obama diz mesmo que conhece muitos dos líderes das tecnológicas, já falou com eles sobre isso.

Regulação e melhores práticas corporativas na Big Tech

No entanto avisa que não é sustentável que as gigantes da internet queiram insistir em dizer que são apenas como uma operadora de telefones, quando têm um papel de meios de comunicação. "Isso não é sustentável", avisa Obama, enfatizando que estão "a ser feitas escolhas editoriais, quer sejam colocadas dentro dos algoritmos ou fora deles".

Apesar de admitir que a Primeira Emenda da Constituição dos EUA não exige que empresas privadas façam a gestão editorial do que é colocado nas suas plataformas, admite que são precisas mudanças. "No final do dia vamos ter que encontrar uma combinação de regulamentações governamentais e práticas corporativas que abordem isto, porque só vai piorar".

Obama diz mesmo que se "mentiras loucas e teorias da conspiração colocadas em textos online já fazem todo este mal", "imaginem o que pode acontecer quando se tornar generalizada a adulteração de vídeos e conversas como a que estamos a ter para potenciar essas teorias... estamos já próximos dessa realidade".

Para Obama é claro que "se não existir a capacidade de distinguir o que é verdadeiro do que é falso, então, por definição, o mercado de ideias não funciona". Ou seja, "por definição, a democracia não funciona assim e estamos a entrar numa crise epistemológica".

O ex-presidente considera que as grandes plataformas - Google e Facebook sendo as mais óbvias, Twitter e outras também -, são parte deste ecossistema e precisam "analisar e repensar o seu modelo de negócios" baseado em publicidade e "perceber que são um bem público, além de serem um produto comercial".

Será a "combinação de novos regulamentos governativos e práticas corporativas" que pode ajudar a combater o que chama de "distopia de informação". O maior problema nos EUA para fazer passar nova regulamentação é que Democratas e Republicanos querem mudanças diametralmente diferentes na internet - os primeiros querem maior edição de conteúdos contra a desinformação e discurso de ódio, os segundos querem maior liberdade para qualquer conteúdo de qualquer espécie poder singrar.

Livro de memórias de Obama vende 890.000 exemplares em 24 horas

O primeiro volume do livro de memórias de Barack Obama vendeu 890.000 exemplares nos Estados Unidos e no Canadá nas primeiras 24 horas pós-lançamento, perto do recorde deste género de publicações na história recente.

As vendas do primeiro dia, um recorde da editora Crown Publishing Group, subsidiária da Penguin Random House, incluem reservas, e-books e áudio.

"Estamos encantados com as vendas no primeiro dia", disse David Drake, editor da Penguin Random House. "Refletem o grande entusiasmo que os leitores têm pelo livro e extraordinário, e há muito anunciado, de Barack Obama".

O único livro de um antigo inquilino da Casa Branca que esteve próximo da façanha de "Uma terra prometida" (A Promise Land) são as memórias de Michelle Obama, a mulher do ex-Presidente, cujo "Becoming" vendeu 750.000 cópias na América do Norte no primeiro dia de lançamento em 2018, e já atingiu 10 milhões de exemplares à escala mundial.

O livro de Michele continua a ser procurado e a Crown, que publica o livro dos dois Obama e que terá pagado cerca de 60 milhões de dólares pelos seus livros, ainda prepara uma edição de bolso.

O livro de Barack Obama (768 páginas), a um preço de 45 dólares (38 euros) surgiu duas semanas após o dia das eleições presidenciais nos EUA, e quando permanece a contestação do Presidente Donald Trump aos resultados que fornecem a vitória ao rival democrata Joe Biden, ex-vice-presidente de Obama. DN

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