"Pesquisando um pouco sobre as possíveis razões destes sintomas, eis as que mais nos preocupam: deficiência de circulação sanguínea em uma área; níveis anormais de cálcio, potássio ou sódio no corpo; falta de vitamina B12 ou de outra vitamina", lê-se na mesma página, cujo conteúdo tem sido assegurado pela família do activista. "A partir de agora falamos de minutos." Daí que se torne cada vez mais urgente "que o Tribunal Supremo e/ou Tribunal Constitucional se pronunciem sobre o pedido de Habeas corpus que os advogados requereram a 30 de Setembro.
“Eu não pedi que acelerassem o meu julgamento. Eu pedi que cumprissem a lei e que me deixassem desfrutar da companhia da minha família, sobretudo da minha filha de dois anos, cuja convivência me foi privada subitamente há mais de quatro meses”, disse, segundo a transcrição das suas palavras publicadas na rede social.
Contactada pelo PÚBLICO n atarde desta sexta-feira, a mulher do activista, Mónica Almeida, disse que o episódio de dormência, que durou cerca de 40 minutos, não se repetiu. "O Luaty está estável, mas estamos com receio de que possa acontecer algo porque o médico nos disse que é imprevisível", disse, sublinhando que o marido só pede que " a lei seja respeitada".
O julgamento de Luaty e 14 outros detidos, acusados de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, foi no início da semana marcado para dia 16 de Novembro. Mas o activista, cujo estado de saúde se agrava, mantém a greve de fome que iniciou a 21 de Setembro, reclamando que todos os detidos sejam libertados para aguardarem o julgamento em liberdade.
A situação levou o bispo emérito das Forças Armadas e de Segurança, Januário Torgal Ferreira, a fazer duras críticas ao Governo angolano. “Tudo isto é ridículo”, disse sobre as acusações feitas aos activistas à Rádio Vaticano.
“Estão a repetir o colonialismo, estão a fazer a mesma coisa que o Salazar fazia através da PIDE”, declarou o bispo, para quem “Angola pode padecer de uma anomalia de não constituir um Estado de direito”. Torgal Ferreira disse que não sabe se Portugal está a fazer o que deve, “dá o benefício da dúvida”, mas diz que não sabe se o Governo fez “a força necessária”. Defendeu também um reforço da “pressão” da comunidade internacional.
Carta aberta entregue
Também em Lisboa uma carta aberta lançada por um grupo de intelectuais, artistas e dirigentes políticos, e assinada por cerca de nove mil pessoas, foi na manhã desta sexta-feira entregue no Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Nela se recorda que Luaty é um cidadão luso-angolano.
“É obrigação constitucional, ética e moral do Estado português” impedir que a luta política do activista faça dele um mártir da causa da liberdade e da justiça. “Sabemos que a sua morte pode estar próxima, na sequência da sua longa greve de fome [e esse é um desfecho que Portugal] não pode permitir que aconteça”, diz o texto.
O documento é dirigido ao ministro, Rui Machete, e ao embaixador de Portugal em Luanda, João da Câmara. Entre os signatários estão, entre outros, os filósofos José Gil e Jacques Rancière, o escultor Rui Chafes, o realizador Gus van Sant, o encenador Jorge Silva Melo e políticos como Catarina Martins, e o líder do partido Livre, Rui Tavares. “As autoridades portuguesas não podem, sob pretexto algum, demitir-se das suas obrigações.”
José Gil, um dos membros da delegação de três signatários que entregou a petição ao chefe de gabinete do ministro, destacou, segundo a Lusa, a ideia de que o Governo português se "submete aos imperativos de toda a ordem do regime angolano”. “Está a pôr em primeiro lugar necessidades e/ou exigências de tipo económico, e mesmo político, sem direitos humanos por cima de questões que têm que ver com a liberdade de expressão e com os direitos fundamentais em Angola”.
A greve de fome de Luaty Beirão “põe a nu uma certa natureza do regime angolano”, que passa, disse, pela “recusa dos direitos humanos, da liberdade de expressão e de um certo tipo de regime político”.
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