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Terça, 13 Outubro 2015 17:38

Luaty Beirão, o filho do apoiante do presidente que contesta o regime

O músico e ativista angolano, em greve de fome há duas dezenas de dias, é filho de um angolano e de uma descendente de aveirenses. O pai exerceu vários cargos públicos e é descrito como muito próximo de Eduardo dos Santos, o mesmo que Luaty agora contesta

Luaty Beirão, de 33 anos, é ativista e músico. É conhecido no meio artístico como Ikonoklasta ou Brigadeiro Mata Frakuzx. É um dos pioneiros do movimento anti-governamental apartidários angolanos. É filho de João Beirão, já falecido, que foi fundador e primeiro presidente da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), entre outras funções públicas, sendo descrito por várias fontes como tendo sido sempre muito próximo do Presidente angolano, o mesmo que Luaty agora contesta.  

O rapper mobilizou o país, a partir de um espetáculo de música, para a primeira manifestação de 7 de março de 2011, que exigia a demissão de José Eduardo dos Santos.

Luaty nasceu em Luanda, a 19 de novembro de 1981. O pai era do Huambo e a mãe de Luanda, filha de descendentes de aveirenses. Cedo saiu de Angola para estudar na Europa, primeiro em Inglaterra, onde fez engenharia eletrotécnica, e depois em França, onde estudou economia.   

Foi precisamente na Europa que despertou a sua veia contestatária. Em março de 2003, participou numa gigantesca manifestação em Londres contra a guerra no Iraque.

“Aquilo despertou em mim sensações e emoções fortes. França foi a segunda experiência. Também foi assim muito intenso porque bloquear a universidade, dormir lá dentro. Fiquei lá a dormir durante duas semanas”, contou numa entrevista ao site Página Global, em julho de 2012. 

Na mesma entrevista, conta como foi o regresso a Angola, a pé e à boleia, de Lisboa até Luanda: “Eu saí [de Lisboa] com 115 euros, que era tudo o que eu tinha, mais quatro t-shirts, dois ou três calcões, um saco de dois quilos de frutos secos que seriam a minha refeição quando não aparecesse outra coisa. Mas fui com plena confiança que eu ia encontrar, porque eu conheço a natureza da gente simples de África, de todos os países africanos, que é igual à gente simples um bocado por todo o mundo. E fui com plena confiança que ia encontrar essa solidariedade. E encontrei todos os dias. Ao ponto de eu não ter conseguido começar o segundo saco de frutos secos…”

O luso-angolano Luaty Beirão faz parte de um grupo de 17 jovens - dois dos quais estão em liberdade provisória - acusados formalmente desde 16 de setembro passado de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, mas sem que haja uma decisão do tribunal de Luanda sobre a prorrogação da prisão preventiva.    

Por isso, Luaty Beirão entrou em greve de fome, que mantém há 22 dias. Atingiu um nível de debilidade física que obrigou já as autoridades angolanas a transferi-lo para um hospital prisão. "O Luaty pode morrer a qualquer momento. Numa greve de fome devia ingerir três litros de água, quando nem meio litro consegue. Os órgãos já começam a deixar de funcionar e todos os dias apresenta um quadro diferente", disse Mónica Almeida, mulher do ativista, na última quinta-feira, durante uma vigília para exigir a sua libertação.

Os apelos à libertação de Luaty tem-se estendido ao exterior de Angola e povoado as redes sociais. No Facebook, há uma página que vai contabilizando os dias em greve de fome e relatando o seu estado de saúde.

Vários músicos publicaram nas redes sociais pedidos de libertação imediata do ativista. Carlão, Legendary Tigerman, D'Alva, Capicua e Marcia são apenas alguns.

Tvi24

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