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Segunda, 06 Abril 2015 22:19

Bento Bento nega acusações no rapto dos activistas

Bento Bento, citado como tendo participação no rapto dos activistas que mais tarde viriam a ser mortos, negou todas acusações que pesam sobre si. O responsável falava num comício aos militantes por ocasião dos 57 anos do MPLA. O ainda primeiro secretário provincial do MPLA em Luanda e deputado à Assembleia Nacional, proposto recentemente pelo seu partido como um dos vice-presidentes da casa das leis, descreveu a acusação como «banditismo político».

Segundo o responsável dos camaradas em Luanda, as acusações visam somente denegrir o seu nome e atingir directamente o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

«Gostaríamos em primeiro lugar de desmentir todas as informações postas a circular nos jornais e noutra imprensa de que Bento Bento tinha sido informado sobre o plano que levou ao assassinato dos jovens Isaías Cassule e Alves Kamulingue. A pessoa que vos fala também foi informada pela mídia», disse Bento Bento, que negou o envolvimento de elementos da sua segurança no rapto dos activistas.

Segundo o responsável, o indivíduo de quem se fala como sendo seu segurança era colaborador do Gabinete Técnico do comité provincial de Luanda: «O jovem que está detido nunca foi meu escolta nem mesmo membro do comité provincial de Luanda. Quem se comporta assim não é do MPLA».

Questionado se estava satisfeito com as penas aplicadas aos condenados, David Mendes disse esperar pelo pronunciamento do Tribunal Supremo e crê que a instância irá «reavaliar as penas».

Supremo vai reavaliar

O advogado David Mendes também diz que «o Tribunal Supremo ainda pode reavaliar». E avança: «Para alguns réus tínhamos pedido pena máxima. Um dos réus que executou para nós deveria ter uma atenuante extraordinária, de uma pena não superior a 10 anos porque, pelas circunstâncias, era questionável se ele poderia resistir às ordens. Para nós, o outro colega presente não teve uma acção determinante e, por isso, a medida foi excessiva».

Por outro lado, o advogado considera que para os outros réus a pena foi «muito branda». «Deveria ter no mínimo 24 anos. Mas como neste processo o recurso é obrigatório, acreditamos que o Tribunal Supremo ainda vai reavaliar. Só depois disso vamos dizer se estamos satisfeitos ou não», justificou.

Os agora declarados culpados pelas mortes dos activistas foram condenados a penas entre 14 e 17 anos de prisão efectiva - nomeadamente o chefe dos Serviços de Inteligência de Luanda, António Vieira Lopes, e os agentes Edivaldo Domingos dos Santos e Júnior Maurício, todos com pena de 17 anos. Augusto Paulo Mota e Manuel Miranda ouviram uma condenação de 16 anos. E Luís Miranda e Francisco Pimentel de 14 anos. João Fragoso foi o único absolvido.

O tribunal condenou ainda os réus ao pagamento de 1,5 milhões de kwanzas aos familiares das vítimas.

António Vieira Lopes, à data do homicídio, ostentava o posto de brigadeiro - e a 27 de Maio do ano passado foi promovido e ingressou na classe de oficiais generais. Com esta patente, deixaria de estar sob a alçada dos tribunais civis, que não podem julgar generais. A promoção causou algum mal-estar no país tendo o PR revogado a medida.

Insatisfeitos com as penas, os advogados dos réus prometem recorrer da sentença. Benja Satula disse à saída do tribunal que «a decisão foi iníquia e completamente destituída de provas», esperando que o Tribunal Supremo anule ou absolva os réus.

PGR oferece duas residências aos familiares das vítimas

A Procuradoria-Geral da República chegou a oferecer duas residências aos familiares das vítimas na zona do Zango, numa altura em que o julgamento não tinha dado início. A acção foi interpretada como «indício de que o Estado já sabia dos culpados e deu a mão à palmatória», como confirmou ao SOL um dos advogados das famílias, Zola Bambi.

Durante o acto de entrega, o procurador-geral adjunto da República, Beato Manuel Paulo, disse não se tratar de qualquer acto de indemnização para as famílias das vítimas, mas uma acção que visava minimizar as necessidades. Descontente, a viúva de Alves Kamulingue, Elisa Rodrigues, afirmou na ocasião: «É uma coisa que não me satisfaz porque, em vida, Kamulingue faria muito mais».

Beato Manuel Paulo disse que «as duas casas não fazem parte do processo judicial em curso no tribunal, mas é uma ajuda que visa minimizar as necessidades das famílias, uma vez que em vida os indivíduos eram os suportes das suas famílias».

«Enquanto se aguarda pela decisão do tribunal, uma vez que o processo relacionado com os malogrados já está em juízo, o Estado quer ajudar essas famílias, razão pela qual um primeiro passo é a residência para cada viúva e posteriormente surgirão outros apoios. O Estado também está preocupado com a formação das crianças e está a pensar num subsídio às duas famílias para que se minimize as dificuldades», garantiu o responsável da instância liderada por João Maria de Sousa.

Sol

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