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Terça, 16 Dezembro 2014 09:45

Burlas na concecção de vistos para África do Sul

Um grupo de indivíduos não identificados, em Luanda, é acusado de estar a “extorquir” somas avultadas de dinheiro aos requerentes de vistos para a República da África do Sul, sob alegação de tornar o processo mais célere e prático em relação as agências vocacionadas para o efeito.

Sem apontar o número de pessoas envolvidas nesta prática, a nossa fonte adianta existir um número elevado de vítimas que já foram Burladas, ainda este ano. O cenário tende agudizar-se sobretudo nesta quadra festiva em que os supostos falsários encontram-se ávidos por uma maior facturação. Pelo menos ao que O PAIS apurou que pela via oficial requerer o visto, quer para turista, como para estudantes e de saúde, não vai para além dos USD 400 dólares americanos, pagos à Embaixada e nas respectivas agências. Já pela via “fraudulenta” ou seja oficiosa, os preços cobrados variam de pessoa para pessoas, mas que vão acima de USD 700 dólares revelou a nossa fonte.

Os homens acusados desta prática também conhecida por intermediários, na sua maioria jovens com idades compreendidas entre os 25 aos 35 anos de idade, apresentam-se normalmente, com vestes de executivos, para melhor confundir as vítimas. Defronte as agências de viagens, do Centro de Colocação de Vistos para Africa do Sul, cito em Talatona (uma Instituição criada pelo Estados dos dois países, ao que tudo se sabe, com o intuito de facilitar o processo de concepção de vistos, no âmbito do aprofundamento das relações bilaterais entre os países e facilitar as transacções comerciais) são alguns dos locais predilectos onde estes homens fazem as suas vítimas.

Estas informações foram-nos prestadas por altos responsáveis destes serviços no país, que admitem por seu turno que a situação é bastante grave pelo que se pode esperar, onde existem relatos de casos de mortes, de pessoas na condição de doentes não terem conseguido sair do país, a tempo certo.

Atrasos resultam em mortes

Segundo o interlocutor um dos exemplos mais recentes envolveu um oficial do exército que em vida atendia pelo nome de Anastácio que diz-se ter encontrado a morte, após o atraso que se registou na concepção do visto (por vias não oficiais) para a cidade de Pretoria, onde teria que ser submetido a uma cirurgia complexa ao nível do cérebro.

“O Cota fez o bisno com um senhor que lhe cobrou quase mil dólares para facilitar com urgência o visto devido a operação. Mas o mesmo senhor andou semanas e semanas às voltas, até que o Cota acabou por morrer aqui em Luanda no Hospital Militar” desabafou um dos supostos familiares da vítima.

Entretanto, pela ronda feita pela nossa reportagem nos locais propensos, O PAÌS confirmou a existência deste fenómeno tendo mantido uma conversa-amena e descontraídacom uma das vítimas destas falcatruas que diz chamar-se Ana Maria, de 35 anos. Segundo explicou a prática já se arrasta há muitos anos, atribuindo a culpa aquilo que considerou como “alguma burocracia”, que se assiste na tramitação dos documentos exigidos, em alguns casos sem razão aparente.

“A pessoa chega na agência e pedem um monte de documentos que as vezes não tem. Para tratar os mesmos documentos é outro problema sério. São gasosas atrás de gasosas. Por força da urgência às vezes as pessoas optam pela via do “bisno” que nem sempre dá certo, pela falta de seriedade das pessoas envolvidas” desabafou.

Por outro lado a interlocutora não deixou de admitir que em alguns casos a via “indirecta” tem sido a solução de muitos dos problemas dos requerentes, sobretudo para estudantes, para quem o factor tempo é de extrema importância. Tudo isto a depender da seriedade e honestidade do facilitador, e que tendo “lóbis lá dentro” chega a ser mais importante que tudo o resto.

Contudo, as pessoas que têm tido esta sorte podem ser contadas pelos dedos de uma só mão.

Tanto é que tal sorte não teve a jovem Suzana de Oliveira, de 25 anos de idade. Ela diz que em tempos precisou de evacuar um sobrinho seu, Divaldo, de 5 anos de idade, que apresentava sintomas de paralisia infantil. Dia menos dia, à espera do visto o mesmo acabou por embarcar para aquele pais vizinho, pelo que os Médicos afirmaram ter sido feita a deslocação muito tarde e em má hora. Daí que segundo contou Suzana, o pequeno Divaldo acabou por ter uma paralisação definitiva dos membros superiores.

Tempo de espera para concepção de Vistos

De acordo com os serviços consulares da Embaixada dos Sul Africana em Luanda, existem alguns requisitos prévios para ser cedido o visto para este pais, a começar por documentos pessoais, desde bilhetes de identidade, cartão de vacina, registo criminal e outros.

Associados a estes documentos a embaixada exige igualmente uma carta de chamada, assim como deve o requerente possuir um valor na sua conta bancaria que justifique esta mesma saída do país. Outra situação que tem sido bastante contestada pelos requerentes segundo O PAÍS sabe é a apresentação do Bilhete de passagem original, que os passageiros na maior parte das vezes se recusam apresentar.

Tanto é assim que há duas semanas atrás algumas pessoas viram os seus vistos cancelados devido a esta questão, que os mesmos consideraram não ter razão de ser.

Os Vistos estão subdivididos por classes, designadamente, os de estudante, turista e de saúde, sendo para o caso concreto de Angola mais solicitados os de saúde, seguido pelos de turismo.

Na sua maioria, esses processos levam apenas cinco dias para que seja concedido o visto ao cidadão interessado.

Burocracia

Apesar de muita gente admitir que a situação já tenha conhecido dias melhores em Angola, não descarta a possibilidade de serem melhoradas ainda alguns sectores. Um deles, segundo conta uma das requerentes, é a ligada a área de atendimento ao público, que não tem sido funcional. Por outro lado, a forma como os angolanos são tratados segundo apuramos não tem sido das mais “humanizadas”. Tal acontece igualmente à forma como os próprios angolanos se dirigem aos funcionários da representação diplomática em Angola.

“ Há troca de ofensas entre os requerentes e os funcionários. É preciso mudar este comportamento e atitude dos dois lados” admitiu Maria de Sousa, requerente, que explicou ter ido àquele local para pagar uma multa pelo atraso na entrega de qualquer dossier, que apontou as enchentes e as longas filas de espera que se registam diariamente defronte à embaixada como um dos factores responsáveis pela impaciência e intolerância a que se assiste.

Antecedentes

Não é a primeira vez que ouvimos falar de dificuldade na concepção de vistos de Luanda para Africa do Sul. Embora neste caso em que reportamos não seja de todo culpada a própria instituição, mas alguns supostos colaboradores da mesma. Ainda assim a nossa memoria colectiva, tal como fez questão de relembrar uma das nossas entrevistas, das longas filas que eram feitas durante a madrugada ali junto ao largo da Maianga, na antiga sede dos “Sululus” no sentido de adquirir um lugar para ser atendido.

“ Era mesmo dormir ali. E colocar pedras para ocupar lugar. Era muito difícil. Mas ali os agentes das empresas de segurança em quem facturavam uns trocados” lembrou a jovem esboçando um sorriso no rosto de forma irónica.

Este quadro viria a conhecer dias melhores com uma concertação de novas parcerias estratégicas implementadas pelos dois Governos, no âmbito do aprofundamento das relações diplomáticas. De lá para cá as reclamações têm sido quase nulas.

Contudo, fase a estas situações e porque de alguma forma afecta a todos os actores envolvidos a este processo a nossa reportagem procurou ouvir os responsáveis da Embaixada dos Sul Africanos pelo que prometeram pronunciar-se proximamente.

Acusados sacodem o ‘capote’

Segundo fez saber este jovem de aparentemente 28 anos que não quis ser identificado, encontrado no jardim da referida Embaixada, não existe problemas nenhum quanto a questão de intermediar o processo de aquisição de vistos. Segundo o mesmo, que afirma andar nestas lides há mais de sete anos, o problema reside no incumprimento que muitos requerentes incorrem sobretudo com a documentação incompleta e algumas vezes adulteradas. O que segundo disse “tem estado a dificultar bastante o seu trabalho, causando em certos casos atrasos e mal entendidos”.

A fonte salientou igualmente ser “preciso ter indivíduos conhecidos a trabalhar directamente no sistema, de modos a não ter dificuldades em garantir credibilidade junto aos nossos clientes” tranquilizou. Embora admita, por outro lado, existirem amigos seus que “estão envolvidos no negócio, de forma “desorganizada” e pouco responsável, acabampor desencadear burlas sem mesmo que seja a sua intenção inicial, minimizou.

O PAIS

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