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Sábado, 04 Julho 2020 19:16

Filho de general reformado é acusado de uso indevido de dinheiro do pai

O tenente-general das Forças Armadas Angolanas (FAA)reformado, José Eduardo Ramiro, 75 anos, é descrito como estando a passar por momentos difíceis, como fome, doença e falta de dinheiro para pagar o aluguer da moradia em que reside, no bairro Maié-Maié, município de Cacuaco, província de Luanda, porque um dos filhos, o caçula, deixou-lhe nessa condição.

Segundo um sobrinho do tenente-general reformado, que prestou a informação ao Jornal de Angola, sob anonimato, a culpa é atribuída a um dos filhos, identificado por “Titito”, residente na Centralidade de Cacuaco, que “com base numa procuração forjada, em conluio com uns funcionários do BPC”, beneficia de cerca de 600 mil kwanzas, disponibilizados mensalmente pela Caixa de Segurança Social das Forcas Armadas Angolanas, em proveito próprio.

O sobrinho do tenente-general reformado acusa o primo de receber o dinheiro do pai e gastar indevidamente com “viagens, roupas e diversões, em claro benefício próprio, deixando o progenitor numa situação social lastimável e precária”.

A fonte do Jornal de Angola disse que o caso começou, em 2017, quando se apercebeu que o seu primo não falava com o pai, numa altura em que o progenitor se encontrava doente e precisava de mais cuidados e atenção da parte da família.

Num encontro familiar, ficou decidido que o dinheiro disponibilizado pela Caixa de Segurança Social das FAA, “era possível dar uma vida mais condigna ao pai, tendo sido o acusado indicado para procurar uma casa para arrendar e acomodar o velho.

“Titito”, como é conhecido no seio familiar, arrendou uma casa no bairro Maié-Maié, e foi contratado um empregado doméstico, para ajudar em certas situações, cujo pagamento era assegurado com o dinheiro proveniente do BPC, por via da Caixa de Segurança Social das FAA.

Com o andar do tempo, “Titito” deixou de falar com os sete irmãos, por causa do dinheiro do pai.

Com esse clima instalado, as dificuldades do tenente-general reformado começaram a surgir com a falta de comida e rendas por pagar, com ameaças de despejo pelo meio.

Diante dessa situação, que originou várias desavenças entre irmãos, os familiares decidiram retirar o cartão multicaixa em poder do filho caçula e ao mesmo tempo solicitaram ao banco a anulação daquele documento.

Para espanto dos demais irmãos, mensalmente o dinheiro não “caía”na conta de José Eduardo Ramiro, mas sim na de “Titito” e mais tarde veio a saber, por intermédio de diligências feitas junto do banco, que o caçula requereu outro cartão multicaixa.

“A sofrer de amnésia, o velho foi levado até a uma dependência do BPC e trataram um outro cartão multicaixa”, disse o sobrinho do tenente-general reformado, afirmando que o primo, através de amizades no BPC, “conseguiu emitir um novo cartão e transferir parte do dinheiro para a sua conta particular num outro banco”.

“No decurso do ano passado, com a minha intervenção junto do banco, foi anulado o cartão multi-caixa e emitido outro”. Porém, “como sempre o fez, conseguiu obter outro cartão, com a conivência de alguém do BPC”, denunciou a fonte.

Face à gravidade do assunto, referiu, três irmãos apresentaram, em Março do ano corrente, uma queixa no Serviço de Investigação Criminal (SIC) Provincial, em Luanda, que culminou com abertura de um processo nº 4086/2020-03. Segundo um dos irmãos, que também falou sob anonimato, na primeira notificação, “Titito” compareceu, alegando que “estava no direito de gerir a conta do pai”, sem exibir nenhuma procuração para o efeito.

“Parece caricato, nas duas seguintes notificações o “Titito” não compareceu até à presente data, comportamento esse que deveria dar lugar a um mandado de captura por desobediência à Lei”, desabafou um dos irmãos mais velho.

O irmão mais velho confirmou que o acusado foi notificado várias vezes pelo Serviço de Investigação Criminal e somente uma vez compareceu.

Em função dessa situação, uma outra irmã, que também não aceitou se identificar, disse que na semana passada esteve nas instalações do SIC, para saber do andamento do processo, mas não obteve resposta plausível.

“É inaceitável e injusto que um tenente-general na reforma esteja a correr o risco de ser colocado na rua, por falta de pagamento de uma renda de 25.000 kwanzas”, disse, acrescentando que no passado só não foi desalojado, “porque paguei ao senhorio uma quantia equivalente a seis meses de renda”, disse o sobrinho do antigo oficial general das Forças Armadas Angolanas (FAA).

SIC confirma processo e diligências

O director- adjunto do SIC de Luanda, Joaquim Neto, assegurou, ao Jornal de Angola, que o acusado compareceu uma vez nas instalações da corporação, onde foi ouvido, sob termo de identidade e residência, tendo prometido voltar a notificar o indivíduo, para definitivamente esclarecer o caso junto do Ministério Público.

Joaquim Neto disse que o processo está em segredo de Justiça e corre os trâmites normais, estando outros passos a serem dados para definitivamente chegar ao Tribunal Provincial de Luanda.

Por telefone, o Jornal de Angola contactou, na manhã de quinta-feira, o acusado que afirmou que os restantes sete irmãos “nunca olharam para a vida do pai e que o mesmo só está vivo até agora graças a mim”.

Disse também que os sete irmãos “nunca trabalharam e pretendem fazer um aproveitamento do dinheiro do pai, criando vários transtornos, acusando-o de bruxo e outros nomes menos abonatórios”.

Quando questionado se usa o dinheiro do pai em benefício pessoal, como é acusado, a fonte do Jornal de Angola não respondeu, limitando-se a proferir ofensas morais contra os irmãos e, acto contínuo, desligado de imediato o telefone. JA 

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