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Segunda, 22 Junho 2020 18:12

Bispos angolanos da IURD tomam templos e afastam gestão das mãos de brasileiros

Um grupo de pastores angolanos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) tomou hoje a direção de vários templos, incluindo 30 em Luanda, rejeitando “qualquer tipo de negociação” com a ala brasileira, disse à Lusa um dos dissidentes.

Segundo o pastor Silva Matias, em novembro de 2018 foi feita a denúncia de vários crimes praticados pelos cerca de 200 bispos e pastores brasileiros em Angola contra os angolanos e o Governo de Angola, o que culminou na decisão de hoje.

Silva Matias sublinhou que, apesar de estar em curso um processo de investigação foi preciso tomar esta decisão porque se verificou que as práticas da gestão brasileira não mudaram e têm estado a piorar.

“E como sabemos que a igreja na gestão dos brasileiros trabalha muito com a corrupção ativa e passiva, temos sentido que há uma morosidade no processo”, frisou Matias.

O pastor realçou que “há um conflito interno muito grande na Universal”, pelo que foi tomada a decisão de “mostrar que a instituição, na gestão dos brasileiros, não tem condições de avançar”.

“Por isso hoje, nós tomamos a decisão de rutura com a ala brasileira, até porque foram constatados inúmeros crimes cometidos pela gestão brasileira e não podemos mais continuar a conviver com esses crimes”, vincou.

Relativamente à atual situação dos pastores brasileiros, Silva Matias disse que se encontram, em Luanda, num condomínio “construído por angolanos, mas onde só vivem brasileiros”.

“Eles estão lá, mas já não há formas de haver convivência, boas relações, entre as duas alas, angolana e brasileira, porque os crimes que os brasileiros vêm cometendo, atentam contra a dignidade não só dos cidadãos angolanos como do Governo”, referiu.

Evasão de divisas, branqueamento de capitais e racismo são algumas das práticas de que são acusados os bispos e pastores brasileiros.

De acordo com Silva Matias, hoje foi tomada a direção das igrejas de quase todo o país, sendo que em Luanda, cerca de 30 catedrais passam agora a ser dirigidas por angolanos, com destaque para a localizada no Morro Bento, que se tornará “a sede da reforma dos pastores da IURD em Angola”.

Questionado se houve a tentativa de algum contacto com o bispo brasileiro em Angola, Honorilton Gonçalves, o pastor angolano respondeu que este se recusa a dialogar com a parte nacional.

“Como é que vamos manter uma negociação com um bispo que é preconceituoso, racista, diz que prefere morrer a ver a igreja sob gestão angolana, sendo que está no nosso país, um bispo que trata os pastores com desrespeito, homem arrogante, homem que trabalha por via da corrupção. Já tentámos, mas ele sempre se negou”, salientou.

À pergunta se houve algum contacto com a igreja no Brasil, Silva Matias respondeu que não, porque “o problema começa lá no Brasil”, além de que a IURD é de direito angolano.

“Nós queremos uma Universal reformada, sem distorção, maus tratos, humilhações públicas, castração de pastores. Queremos uma igreja reformada com princípios pautados na palavra de Deus”, salientou.

A polémica remonta a 2019, quando um grupo de cerca de 300 bispos da IURD angolanos anunciaram o seu afastamento da direção brasileira e do bispo Edir Macedo por práticas contrárias à realidade angolana e desvio de divisas.

Num comunicado subscrito por 330 bispos e pastores angolanos foram denunciadas práticas contrárias “à realidade africana e angolana”, como a vasectomia, que tem sido imposta aos pastores por Edir Macedo, evasão de divisas e a venda de mais de metade do património da IURD Angola “sem consulta prévia”.

Na altura, a direção da IURD reagiu através da sua página na rede social Facebook, num comunicado assinado por Antônio Pedro Correia da Silva, repudiando a “rede difamatória e mentirosa” arquitetada por “ex-pastores desvinculados da instituição por desvio moral e até condutas criminosas” cujo objetivo era “terem sua ganância saciada”.

Em dezembro de 2019, a Procuradoria-Geral da República instaurou dois processos-crime contra a IURD, tendo como base as denúncias feitas pelos pastores angolanos.

A IURD, fundada por Edir Macedo em 1977, tem acumulado polémicas um pouco por todo o mundo, incluindo o envolvimento numa alegada rede ilegal de adoções em Portugal, e noutros países lusófonos, como São Tomé e Príncipe, onde os fiéis se revoltaram contra a detenção de um pastor são-tomense num protesto onde foi morto um jovem.

A organização religiosa já esteve na mira da justiça de vários países, além do Brasil, onde Edir Macedo, que construiu um verdadeiro império empresarial e chegou a ser considerado um dos pastores evangélicos mais ricos do país, foi preso, em 1992, sob acusações de charlatanismo e estelionato (burla), que foram mais tarde anuladas.

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