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Domingo, 22 Março 2020 14:56

Angolanos repatriados de Portugal: "Casas de banho para dividir com muita gente"

Os passageiros regressados de Portugal este sábado num voo da Taag queixam-se da forma como têm sido tratados desde que chegaram ao País. Os protestos vêm registados em vídeo e áudio, onde relatam o "inferno" que estão a viver desde que desceram as escadas do avião.

Várias pessoas contam que foram levadas em grupos de 70/80 para quarentena em autocarros da TCUL em direcção ao Centro de Reabilitação de Menores no Calumbo, mas antes foram-lhes retirados os documentos.

"Vieram 301 pessoas no vôo da TAAG e, tirando uma elite que viajava em primeira classe e foi levada para o Victoria Garden Hotel, todos os outros (280 pessoas) foram enviados para o Calumbo. Separaram os homens das mulheres, as mães dos filhos", explica uma das mulheres que aguardava a chegada dos seus familiares vindos de Portugal.

"Casais foram separados, casais idosos separados também, crianças separadas de mães, todas as crianças num autocarro sozinhas.Entraram nos autocarros sem saber para onde iam, sem saber de nada até chegarem no Zango onde lhes é dito que vão para o Calumbo", expõe.

"Ninguém quer descer do autocarro, deram-lhes uma lata de grão, uma lata de atum, um pacote de sumo", ouve-se num outro áudio recebido pelo Novo Jornal.

"Muros altos, arame farpado, camarata como na tropa, deram-nos uma toalha, sem água para beber", conta um outro passageiro.

Num outro áudio, uma mulher, visivelmente transtornada, diz estar a viver o "pior dia" da sua vida.

Conta que aguardava dois menores, com 13 e 16 anos, e que, logo que o avião aterrou, "sem que tenham sido dadas quaisquer explicações aos pais, uma vez que havia vários menores desacompanhados, foram-lhes retirados todos os documentos".

"As pessoas foram enfiadas nos autocarros que as levaram ao centro de quarentena do Calumbo onde só havia lugar para 51 pessoas", relata.

"Os meus sobrinhos foram levados para um outro centro, também no Calumbo. Um barracão sem condições onde apareceu um camião com colchões e estão os militares a cortar o capim existente no espaço. Mulheres, crianças, um inferno. Uma confusão, o caos, um desrespeito total", diz a mulher, que vai repetindo "não percebo, não percebo..."

"Eu não acredito no que estou a viver", ouve-se antes do áudio terminar.

Estes voos foram autorizados para transportar angolanos que queriam regressar ao País, depois de o Presidente da República ter determinado, na quarta-feira, 18, a suspensão de todos os voos internacionais de e para o País, como medida de prevenção contra o novo coronavírus Covid-19.

No mesmo decreto presidencial foi interditada a circulação de pessoas nas fronteiras terrestres. Ambas as interdições começaram às zero horas do dia 20 de Março pelo prazo de 15 dias, prorrogáveis por igual período de tempo, em função do comportamento global da pandemia. NJ

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