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Segunda, 03 Fevereiro 2020 16:39

Crise humanitária no sul de Angola força meninas a venderem sexo por valor equivalente a um quilo de feijão

Emergência climática é responsável pelas secas repetidas que deixam milhões de pessoas sem ter o que comer, empurrando garotas para a prostituição e o casamento infantil

Garotas do sul do continente africano estão vendendo sexo, muitas vezes por valores que cobrem apenas o custo do pão, para sobreviver a uma crise de fome que atinge milhões. Em Angola, meninas de 12 anos vendem seus corpos por apenas 40 centavos de dólar (200 Kwanzas) para conseguirem alimentar suas famílias enquanto o sul do país enfrentar a pior seca das últimas quatro décadas, afirmou a organização World Vision.

A Organização das Nações Unidas (ONU) diz que 45 milhões de pessoas no sul da África enfrentam a fome em meio a uma "catástrofe silenciosa" causada por secas repetidas, enchentes e caos econômico. A equipe da World Vision afirma ter visto um aumento no número de meninas relatando a troca de sexo por dinheiro em Angola e no Zimbábue em meio a "níveis enormes de desespero".

Robert Bulten, diretor da World Vision em Angola, disse à Fundação Thomson Reuters que uma garota pode receber 500 kwanzas, o equivalente a US$ 1 por sexo — o suficiente para comprar cerca de um quilo de feijão ou dois quilos de milho — mas esse valor pode cair para 200 kwanzas.

— Definitivamente sabemos que houve um aumento. É difícil quantificar porque é um tabu, mas eu diria que um número significante de meninas está fazendo isso. Falo de garotas de 12 a 17 anos.

Bulten diz que o preço de alguns produtos dobrou desde o ano passado. Como a próxima colheita só acontecerá em junho, ele prevê que a fome aumentará.

No Zimbábue, a Care Internacional afirma que há relatos de meninas de 14 anos recorrendo ao sexo, especialmente nas rotas para a África do Sul e perto das minas.

— Algumas vezes, elas ganham pouco como 5RGT, ou cerca de US$ 0,31, por um encontro envolvendo sexo, o que é terrível, não é nem o suficiente para comprar um pão — diz o especialista regional da Care para as questões de gênero, Everjoy Mahuku.

O conselheiro da Action Aid na região, Chikondi Chabvuta, afirma que mulheres e meninas "no limite da sobrevivência" foram forçadas ao sexo transacional em Moçambique e no Malawi.

Faixas do sul da África têm experimentado a menor quantidade de chuvas desde 1981, segundo a ONU. A organização defende que essa crise humanitária é agravada pelas mudanças climáticas, que têm feito as temperaturas da região subirem duas vezes mais do que nos resto do planeta. Entre outros planetas afetados estão Zâmbia, Madagascar, Lesoto e Suazilândia. Trabalhadores humanitários afirmam que muitas das garotas normalmente estariam na escola. Em alguns casos, elas abandonaram as aulas por causa da pobreza de suas famílias. Mas muitas escolas também fecharam.

Robert Bulten diz que a crise no sul de Angola também fez aumentar a incidência de estupro e casamento infantil. As meninas enfrentam riscos maiores de violência sexual ao caminharem longas distâncias em busca de água ou de alimentos nas florestas. Famílias lutando pela sobrevivência podem casar as filhas mais cedo para ter uma boca a menos a alimentar. Bulten diz que, em muitos casos, os pais recorrem ao casamento infantil para livrar as filhas da prostituição.

A Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho dizem que a crise humanitária no sul do continente africano levou a um aumento nos casamentos infantil em Zimbábue, Zâmbia, Lesoto e Namíbia. O Globo

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