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Sábado, 02 Fevereiro 2019 14:36

Muçulmanos queixam-se de agressões e detenções em mesquita em Angola, polícia nega

A comunidade islâmica da província angolana da Lunda Norte informou hoje que a polícia local "invadiu uma mesquita" enquanto decorriam orações, "agrediu féis" e deteve 20 pessoas "sem motivo aparente", mas as autoridades rejeitam as acusações.

Em declarações hoje à Lusa, o secretário da comunidade muçulmana na província (leste de Angola), António Muhalia, contou que a situação ocorreu na tarde de sexta-feira, no bairro Sachindongo, na cidade do Dundo, capital da província.

"Quando estávamos já no final da oração assustámo-nos com a presença da polícia e do Serviço de Investigação Criminal [SIC], que nem sequer nos deixaram terminar de rezar. Interromperam-nos, prenderam os nossos pastores e começaram a agredi-los", descreveu.

Segundo o líder da comunidade, quando os restantes fiéis procurarem saber as motivações da intervenção, "também foram agredidos pelos efetivos da polícia e do SIC", tendo sido detidas algumas pessoas.

Entre "alguns tiros", acrescentou, foram ainda detidos "alguns cidadãos guineenses e gambianos, por serem também muçulmanos".

No total, segundo o representante, 20 pessoas estão detidas.

Em reação às acusações, a polícia na província a Luanda Norte refutou as acusações de agressões e detenções arbitrárias, afirmando que "foram apenas detidas nove pessoas que se insurgiram e agrediram efetivos da polícia" quando os agentes questionavam a legalidade da igreja.

O diretor provincial de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério do Interior na Lunda Norte, Rodrigues Zeca, contou à Lusa que uma comissão multissetorial da "Operação Resgate" acorreu ao local após receber denúncias de que uma mesquita anteriormente encerrada estava a realizar cultos.

"A comissão deslocou-se ao local ontem [sexta-feira] à tarde e encontrou culto. Deixaram que terminasse e depois abordaram o pastor, por se tratar de uma reincidência, porque a igreja havia já sido encerrada", disse.

A comissão multissetorial, disse Rodrigues Zeca, não recebeu qualquer comunicação oficial que autorizasse a reabertura da mesquita, pelo que "decidiu indiciar o pastor".

O inspetor-chefe da polícia adianta que a ação da comissão multissetorial despertou a atenção dos crentes, que "imediatamente se insurgiram com os membros, agredindo-os".

"Os crentes são quem agrediram os membros que compõem a comissão multissetorial e da agressão resultaram ferimentos a um operacional do SIC e a um outro membro do grupo", apontou.

Perante esse cenário, contou, um outro grupo da polícia acorreu ao local -- eram "mais de 200 indivíduos contra nove elementos da comissão multissetorial que não estavam armados".

O grupo de socorro, acrescentou, "é que estava armado e se se produziram disparos foi na perspetiva de dispersar os fiéis que se insurgiram contra os elementos da comissão multissetorial que estava a abordar o pastor".

Rodrigues Zeca assegurou que "em momento algum a polícia agrediu os fiéis" e que nove pessoas estão detidas, desde sexta-feira, por "ação criminal contra os agentes das autoridades".

Foram instaurados os respetivos processos-crime, que foram remetidos ao Ministério Público.

Segundo António Muhalia, a província da Lunda Norte conta com mais de 10.000 muçulmanos e 39 mesquitas construídas.

A religião islâmica ainda não é reconhecida pelas autoridades angolanas.

A ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, anunciou em janeiro, no parlamento, durante a discussão na especialidade da Lei sobre a Liberdade de Religião, Crença e Culto, que o Governo "acompanha a evolução do islamismo no país" vai tomar em breve uma posição.

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