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Sexta, 28 Setembro 2018 22:42

"Devemos perdoar Eduardo dos Santos" - David Mendes

Devemos perdoar José Eduardo dos Santos, disse o advogado e deputado David Mendes no programa “Angola Fala Só”. Contudo esse perdão, acrescentou, só deve acontecer se o ex-presidente devolver o dinheiro que, segundo disse, tem no estrangeiro.

Num programa muito concorrido, David Mendes disse apoiar inteiramente o combate à corrupção em Angola mas discordar da “forma” como se tem processado as prisões nesta cruzada das autoridades contra esse fenómeno.

“Começa a passar-se a imagem que são prisões vingativas e é com isso que não estou de acordo”, disse Mendes, que acrescentou que na lei das medidas cautelares não se pode aplicar a prisão sem que se justifique isso.

David Mendes lembrou que no caso de Filomeno dos Santos este estava detido sob termo de identidade e residência.

“Que razões estariam na base para o tirar (dessa situação)?”, interrogou David Mendes.

“Somos contra qualquer posição de se prender para investigar”, além de que quando se deu a prisão a “instrução processual” já estava no fim.

O advogado disse que isso pode criar um precedente que está a ser ignorado porque sendo “figuras políticas todo o mundo está satisfeito”.

Ex governador da Huíla está a ser investigado por corrupção

“Sendo figuras políticas ou não são cidadãos e deve-se obedecer às regras que impõe a lei e a lei que regula as medidas cautelares diz que a prisão é a última razão e há que justificar porque é que as outras medidas não são aplicadas”.

O advogado disse que não se deve confundir “justiça com política pois o sistema judiciário deve ser independente e o sistema judiciário ainda não é independente”.

Se alguém cometeu um crime deve-se seguir todas as normas judiciárias.

“Não devemos de forma nenhuma por serem figuras públicas, por estarem ligadas ao presidente, ex-presidente, começar uma caça às bruxas”, disse.

“Excessos levam a actos incorrectos, actos de vingança e eu sou contra qualquer tipo de vingança”, acrescentou.

David Mendes afirmou que não se deve “generalizar que todo o indivíduo que esteve no governo é gatuno, que todos os que tiveram na direcção do MPLA são gatunos”, recordando figuras “respeitáveis” como Lopo do Nascimento e Marcolino Moco.

David Mendes disse que o sistema judiciário de Angola continua a não ser independente, recordando que o juiz presidente do Tribunal Supremo tinha afirmado que “a partir de agora os processos de peculato devem ter urgência”.

Um dos ouvintes interrogou David Mendes sobre o desempenho de João Lourenço na presidência ao que o advogado respondeu que o Presidente “quer afirmar-se como líder mas não como líder dos angolanos mas sim do MPLA”.

“Ele precisa marcar a sua liderança”, reiterou.

O também deputado lembrou ainda que João Lourenço “foi o secretário-geral do MPLA” e que a sua mulher foi ministra do planeamento durante muitos anos.

Para advogado e deputado, tirando o facto de existir agora uma maior liberdade de expressão, nos órgãos de comunicação social e “menos perseguição política”, para os angolanos nada mudou.

“O que é que foi feito para o desenvolvimento do país? Quantos empregos criou?”, interrogou.

Questionado sobre a lei de repatriamento de capitais o advogado disse que a lei concede até Dezembro um prazo para a devolução do dinheiro levado para o estrangeiro e como esse prazo ainda não terminou não se pode efectuar prisões ao abrigo dessa lei.

Perdoar José Eduardo dos Santos

Quanto ao antigo Presidente, José Eduardo dos Santos, David Mendes disse “não nutrir simpatia” pelo antigo Chefe de Estado, mas “acima de tudo nós somos bantus e os bantus dão muito valor aos mais velhos e particularmente quando o mais velho está debilitado você não pode atirar uma pedra ao mais velho, devemos apará-lo”, defendeu David Mendes.

Apesar de “todos os males que ele me fez” David Mendes decidiu perdoá-lo, afirmando haver muitos outros que permitiram a chefia de Eduardo dos Santos.

“O meu sentimento é de não ver um mais velho espezinhado, ver um tractor passar por cima dele”.

“Com todos os erros que ele cometeu devemos ampará-lo”, disse David Mendes que recordou as perseguições de que foi alvo, a destruição do seu património e portanto “devia ter rancor”.

“Mas não posso ter rancor desse mais velho”, afirmou David Mendes que sublinhou que “perdoar não significa esquecer”.

“O dinheiro que ele tem la fora, ele de livre vontade deve pegar nesse dinheiro e devolvê-lo ao país” disse.

“Se ele não devolver o dinheiro ao país o sistema judiciário tem que funcionar”, acrescentou.

David Mendes confirmou que tenciona concorrer às eleições autárquicas no Cazenga para “levar uma nova forma de gestão” aquela zona. VOA

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