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Quinta, 06 Setembro 2018 19:29

Sociedade civil marcha contra "racismo e discriminação" em restaurante de Luanda

Membros da sociedade civil angolana promovem no domingo uma marcha de repúdio em solidariedade ao ativista e jornalista angolano Simão Hossi, que se queixa de ter sido vítima de "agressão e discriminação" num restaurante, na Ilha de Luanda.

Em declarações hoje à agência Lusa, Simão Hossi contou que tudo aconteceu a 26 de agosto, quando decidiu, juntamente com amigos, visitar o restaurante "Café Del Mar" para momentos de lazer com amigos.

"A situação é lamentável, não tinha razão para existir. Chegamos ao restaurante e, logo depois, fui convidado a abandonar o local por entenderem que eu estava mal vestido, sujo, e inadequado para o local, onde muita gente também estava vestida de forma simples", contou.

"Manifestei indignação contra a postura do restaurante, busquei justificações e eles viram-se na obrigação de chamar a segurança que, de forma violenta, retiraram-me do estabelecimento", contou.

Simão Hossi adiantou que constituiu um advogado e já apresentou um processo crime contra o restaurante junto das autoridades judiciais.

"Ontem [quarta-feira] consegui contactar o instrutor do processo e amanhã [sexta-feira] terei mais detalhes sobre a notificação ou não do restaurante", explicou.

O incidente tem estado a gerar uma onda de repulsa entre vários atores da sociedade civil, sobretudo nas redes sociais e meios de comunicação, em que se condena a postura do restaurante.

Por sua vez, a gerência do "Café Del Mar", numa nota de esclarecimento, refuta as acusações e refere que Simão Hossi estava "trajado de maneira desadequada e inaceitável, contrariamente às normas de decoro e de apresentação do restaurante".

"O referido individuo estava trajado de maneira desadequada e inaceitável (calças sujas, camisola rasgada, chinelos em péssimas condições e aparente falta de higiene), contrariamente aos seus companheiros, que foram acompanhados pela rececionista", lê-se.

Segundo a gerência, "são infundadas as acusações de agressões" de que Simão Hossi diz ter sido alvo no local, recordando que, "em qualquer instituição, pública ou privada, as regras de decoro e apresentação que devem ser cumpridas por todos os frequentadores".

"Connosco não é diferente, e a bem do respeito e conforto devido aos nossos clientes e colaboradores, reservamo-nos o direito de recusar a admissão de todos quantos, não se conformando com aquelas normas, se apresentem de maneira desadequada e inaceitável", sustenta a nota.

A gerência acrescenta também que os factos e as acusações contra o restaurante "não correspondem a verdade", garantindo que os funcionários do restaurante "trabalham sempre para o conforto e satisfação dos nossos clientes".

"Tanto habituais, como ocasionais, sem exclusão de raça, nacionalidade ou estatuto social, desde que se conforme com as normas de conduta e são convívio", conclui o documento.

Contudo, para Simão Hossi, a nota de esclarecimento daquele restaurante, na Ilha de Luanda, "é a todos os níveis aberrante" e "vem apenas confirmar as cenas de agressão e de discriminação" de que diz ter sido alvo.

"Porque, ao invés de me pedirem desculpas, ofendem-me ainda mais, com difamações, calúnias. Concluíram taxativamente que não tomo banho e que estava com as roupas sujas e rasgadas. É triste chegarem a esta conclusão", lamentou.

E em face deste cenário, membros da sociedade civil angolana, que se dizem solidários com o ativista e jornalista angolano, promovem, no domingo, uma "marcha de repúdio contra o racismo e desumanização em locais sociais públicos".

Segundo Dito Dali, membro da organização da marcha e um dos 17 ativistas que em 2016 foram condenados a pena de prisão pelo tribunal de Luanda, o caso daquele ativista cívico "é apenas um entre muitos que acontecem todos os dias em Angola", razão pela qual se optou por realizar uma marcha para "denunciar tais atos e manifestar repúdio ante qualquer ato de racismo no país".

"Existem pessoas que são vítimas de racismo, discriminação, xenofobia e que não recorrem à justiça, porque sabem que a nossa justiça está à margem desses problemas, que a nossa justiça não é atuante. Entendemos que temos de sair e denunciar", afirmou.

No entender de Dito Dali, "é inaceitável que as pessoas sejam qualificadas em função das suas vestimentas ou do seu tom de pele"

"O restaurante foi infeliz, estamos contra os atos praticados pela sua gerência", concluiu.

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