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Domingo, 18 Março 2018 18:49

Eduardo dos Santos completamente encostado às cordas

Foi uma semana aziaga para o líder do MPLA. A reunião do CC quase ia terminando com os 'irredutíveis' a imporem a realização do Congresso Extraordinário em Junho próximo e não no fim do ano ou em Abril de 2019, como JES pretende.

José Eduardo dos Santos está em vias de perder, a toda linha, o desiderato pessoal de estender a sua permanência na liderança do MPLA para além de 2019. De acordo com fontes fidedignas do Correio Angolense, numa altura em que a reunião do Comité Central desta sexta-feira, 16, ainda não havia terminado, havia forte tendência para o conclave marcar, para o mês de Junho próximo, a realização do Congresso Extraordinário do MPLA, que terá no centro da agenda definir o futuro do seu líder.

“Se os ‘irredutíveis’se mantiverem na pole position, não será em Dezembro de 2018, nem em Abril de 2019. [Mas] será em Junho próximo [que se realizará o Congresso Extraordinário]”, avançava a fonte deste jornal numa altura em que esta matéria era ultimada.  

De acordo ainda com a mesma fonte, a proposta dos ‘irredutíveis’, corrente formada por dirigentes de proa do partido que pretendem a saída imediata de JES da liderança, está em linha com outra discutida numa (acalorada) reunião (prévia) dos membros do CC baseados em Luanda realizada quarta-feira pelo Comité Provincial do MPLA.

JES, como se sabe, ao intervir na abertura da reunião do CC, esta sexta-feira, veio com uma proposta em cujos termos o Congresso Extraordinário teria lugar em Dezembro do ano em curso ou então em Abril de 2019.

Passada como facto consumado nos noticiários da tarde dos principais órgãos de comunicação do Estado,  Rádio Nacional e Televisão Pública de Angola, a proposta de JES foi recebida com incredulidade pelos angolanos, uma vez que contrariava a toda linha a palavra que empenhara ao anunciar em 2016 que abdicaria da liderança do MPLA, o mais tardar em 2018.

Na realidade, era uma vez mais, Dos Santos a mostrar-se na sua faceta de jogador de pôquer nato da política. Isto é, tentando tudo-por-tudo para ludibriar os seus pares do partido – e os angolanos em geral –, impondo-lhes a continuidade da sua presença como líder do MPLA. Nesse “bunker” entrincheirou-se depois de deixar a chefia do Estado, e a partir dele tem procurado influenciar os desígnios do Estado, perturbando a governação do novo Presidente da República.

Já se sabe que a ir para diante a proposta com os dois cenários de JES, o país teria de gramá-lo por tempo indeterminado. Ninguém poderia  dizer com segurança quando é que ele deixaria realmente o poleiro. Abril de 2019 chegaria e, muito provavelmente, JES, o ‘mestre do dito-pelo-não-dito’, esgrimiria outro argumento diante dos seus pares da direcção do MPLA.

De resto, foi com um argumento completamente falacioso que JES tentou fazer passar a sua proposta na reunião de hoje do CC, ao anunciar que precisava de acompanhar a implementação do processo de institucionalização das autarquias em Angola. Afinal, há no Governo e no partido que o suporta inúmeras outras figuras capazes de realizar essa tarefa.

Há mesmo especialistas que realizariam essa missão bem melhor do que ele. Um nome, entre tantos, seria o de Carlos Feijó, não sendo por acaso que JES o chamou para assumir no secretariado do Bureau Político o pelouro da Reforma do Estado – um elemento que, já se sabe, visa exactamente funcionar como uma correia de transmissão entre o partido e as estruturas do Executivo realmente incumbidas de materializar as Autarquias e o Poder Local do Estado no país.

Aliás, esta “preocupação” de JES com as autarquias já vem bastante atrasada. Também a esse nível o tempo em que esteve como Chefe do Governo se encarregou de mostrar a pouca importância que esta matéria lhe mereceu e a ligeireza com que a foi tratando. Desde os tempos em que o MPLA concebia a chamada “Agenda Nacional de Consenso”, ainda em inícios dos anos 2000, que se vem falando de implementar as autarquias no país. Mas tudo não passou de retórica e a verdade é que Angola continua longe de as implementar.

Pior ainda: José Eduardo dos Santos, o autor do célebre slogan “A vida faz-se nos municípios”, na realidade pouco fez para que as tarefas preparatórias de institucionalização das Autarquias andasse com celeridade. Foi, na verdade, o timoneiro de uma estratégia que visou ir postergando, por meio de estratagemas políticos, a consumação dessa necessidade.

Estamos todos lembrados que ao convocar a realização das eleições gerais no país para 2012, prometeu que as autárquicas ocorreriam dois anos depois. Ora, 2014 já ficou para trás há quatro anos e de autarquias em Angola não temos absolutamente nada. Tudo não passou de conversa para boi dormir, ainda por cima promovida, de forma irresponsável, pela mais alta figura do Estado, de quem se esperaria o exemplo nessa matéria.

Enfim, num partido que se ufana  de ter os cérebros mais capacitados para a tarefa de conduzir o país, o seu líder tem vindo permanentemente a engendrar sistemáticos argumentos para se manter numa posição em que possa influenciar o jogo político em Angola, não com nobreza de propósitos, mas apenas com o fito de salvaguardar os seus interesses pessoais, donde naturalmente se incluem os familiares.

Mas, na verdade, olhando mais atentamente para a forma como JES se vai eternizando na liderança do MPLA, chega-se à conclusão que neste momento ele já estará a raciocinar essencialmente com o “coração de pai” e não como o líder preocupado com os reais interesses do país e dos cidadãos em geral.  Fica claro que agora o móbil pelo qual JES procura manter-se à frente do partido é sobretudo o de refrear e influenciar os processos judiciais que estão na iminência de ser desencadeados sobre dois dos seus filhos, Isabel dos Santos e José Filomeno “Zenu”.

A beira de ser octogenário, será já com a sua prole que JES está  essencialmente preocupado. Muito mais do que safar, eventualmente, o seu próprio pêlo. CA

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