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Quinta, 18 Dezembro 2014 22:14

Portugal deve assumir uma relação "descomplexada" com Angola - Durão Barroso

José Manuel Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia, defendeu hoje em Lisboa que Portugal deve assumir uma relação "descomplexada" com Angola, frisando que eventuais "sobressaltos" são normais.

"Os sobressaltos são próprios das relações íntimas. A relação é boa mas não é perfeita, tem de ser descomplexada e mais assumida" e que venha a corresponder aos interesses dos dois países, disse Durão Barroso, que intervinha na conferência organizada pela Câmara de Comércio e Indústria Portugal -- Angola, sem especificar casos.

"Em Portugal temos a tendência de ver Angola de uma perspectiva portuguesa, mas é interessante olhar para Angola de outra perspectiva. Olhar de fora", sublinhou Barroso acrescentando que as relações conheceram uma evolução nas últimas duas décadas.

Para Durão Barroso, Angola é hoje um "parceiro indispensável" da Europa nas questões do Golfo da Guiné e é essencial verificar que se trata de um país que "dá confiança" para conter a pirataria, o tráfico de droga e o terrorismo.

 Segundo o ex-presidente da Comissão Europeia, a parceria tem sido "reclamada" pelos Estados Unidos, notando-se, afirmou, um incremento nas relações com Washington. "Angola tem uma das Forças Armadas mais importantes e experimentadas na África subsaariana", disse o ex-presidente da Comissão Europeia e antigo chefe da diplomacia portuguesa, reforçando o papel do país em posições no contexto regional.

Durão Barroso referia-se objectivamente ao terrorismo na Nigéria e ao avanço do radicalismo do Islão; "na falta de consolidação" da República Democrática do Congo, nas ameaças transfronteiriças mas, sobretudo, ao Golfo da Guiné, "com a ameaça real da pirataria".

Angola tem tido também um papel relevante sobre as questões na Região dos Grandes Lagos, tendo também, frisou Barroso, "oferecido" Luanda como sede para a Comissão para o Golfo da Guiné.

Para Durão Barroso, Angola sendo membro da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) tem resistido ao acordo de comércio livre com os Estados da região dando mais importância às ligações com Portugal, Brasil e China do que aos países vizinhos.

"Angola sabe que há uma posição dominante da África do Sul e não quer estar em segunda posição em relação à região para um dia integrar o 'Economical Partnership Agreement' numa posição de força", considerou.

"Os africanos quando falam de Angola falam como um país especial. Joga a sua influência na região mas, ao mesmo tempo, não se quer deixar fechar em quadros sub-regionais", reforçou.

Antigo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, no início dos anos 1990, Durão Barroso recordou também os acordos de paz de Bicesse que conduziram à realização das primeiras eleições livres em Angola, em 1992.  

Finalmente, Barroso diz estar confiante de que Angola privilegia três pilares fundamentais: o Estado de Direito "porque sem Estado de Direito não há confiança; Educação "porque é a base de tudo" e a construção de infra-estruturas "porque são necessárias", sobretudo para as relações com os países da região.

Sendo assim, sublinhou que Portugal -- o maior investidor estrangeiro em Angola em áreas não petrolíferas -- deve apostar também na ajuda à educação, "a todos os níveis escolares"; formação profissional, agricultura e sectores como água e saneamento.

Presentes na conferência estiveram Miguel Frasquilho da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.

Lusa

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