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Segunda, 30 Março 2020 21:23

Falta de testes de Covid-19 agrava primeiros estragos da pandemia em Angola

Resposta inicial ao coronavírus teve problemas de coordenação e há acusações de excessos por parte das forças da lei

Se ao terceiro dia ainda não foi de vez em matéria de restrições que a pandemia exige à circulação dos habitantes da cidade de Luanda, relativamente ao controlo dos casos positivos as estatísticas começam a levantar crescentes preocupações em diversos círculos médicos. Angola tem sete casos declarados de covid-19 e dois mortos.

“Sem testes podemos estar a ser alvo de uma perigosa manipulação de dados”, disse ao Expresso um antigo ministro da Saúde, que não quis ser identificado. Com uma taxa de mortalidade cifrada em 28%, os números começam a fazer soar o alarme em várias direções.

A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, em face de constrangimentos registados na fase inicial do combate à pandemia, viu a sua autoridade enfraquecida depois de o Presidente a ter destituído da chefia da comissão interministerial encarregada de gerir esta crise.

O pior anda aí vem

“Com tantas fragilidades no nosso sistema de saúde, receio que venha a ocorrer o pior, e o pior ocorrerá quando o contágio assumir contornos comunitários”, advertiu Matadi Daniel, médico reformado do Hospital Militar de Luanda.

Importados de Portugal, país de origem das duas primeiras vítimas, as falhas notadas desde o primeiro momento no aeroporto 4 de Fevereiro são vistas por especialistas como uma das causas do perigoso alastramento de casos.

“Tendo falhado a vigilância epidemiológica, que é como/ designamos em termos militares o reconhecimento do inimigo, qualquer ação torna-se estéril e sem o conhecer, poderemos estar diante de um suicídio”, prossegue Matadi Daniel, especializado em nefrologia.

A instabilidade na organização da quarentena institucional acabou por provocar um sentimento de desconfiança e até de revolta entre muitas famílias cujos parentes haviam sido submetidos a condições de acomodação improvisadas. A situação parece ultrapassada, mas continuam a surgir queixas de muitas pessoas encaminhadas para aqueles centros, já que nalguns casos não foram sujeitos a qualquer teste.

“Ontem foram colhidas amostras aos passageiros dos centros de Calumbo e do Hotel Garden Victória”, assegurou fonte do Ministério da Saúde. O mesmo não se passa no hotel Infotour Kilamba. Neste centro de isolamento social, apurou o Expresso, a ação do pessoal da saúde cingiu-se à realização de um inquérito para apurar o tipo de patologia de que padeciam os passageiros ali acantonados, bem como o tipo de medicamentos que consumiam.

“Desde que lá estão esperavam que fossem realizados testes a todos eles e nada disso aconteceu”, contou ao Expresso um familiar de um dos ocupantes do Infotour Kilamba.

Tchizé dos Santos critica autoridades

Com o avanço da pandemia, outra das queixas prende-se com a falta de equipamentos de proteção dos agentes da saúde. “Deveríamos ter sido alvo de testes e estamos a trabalhar em situação de risco”, afirma um médico da Clínica Girassol. A falta de rigor na observância das restrições de circulação prejudica a eficácia do estado de emergência decretado.

As forças policiais apertaram o cerco e a tropa saiu à rua, nalguns casos com tanques que passaram a patrulhar algumas artérias de Luanda. “Não se combate o vírus com obuses”, alertou um antigo oficial das Forças Armadas angolanas. Reformado há cinco anos, este oficial defende a integração dos militares em brigadas de voluntários para distribuição de água e alimentação pelas populações dos bairros suburbanos.

Alguns excessos praticados por polícias e militares, que têm condicionado e detido funcionários de supermercados e lojas em Luanda e no interior do país, mereceram o reparo da filha do antigo Presidente José Eduardo dos Santos. Tchizé dos Santos recorreu às redes sociais para advertir que “ o estado de emergência não pode justificar a violação aos diretos humanos como a morte ou o espancamento de um cidadão por estar a fazer compras para comer”. EXPRESSO

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