Antecipando a curta visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a Luanda na próxima segunda-feira, Pedro Godinho Domingos, considerou que além dos problemas económicos "que resultam da crise financeira que Angola atravessa", a corrupção é o maior obstáculo à atração de empresas norte-americanas.
Pompeo tem chefada prevista a Luanda dia 17 de fevereiro para um encontro com o Presidente de Angola, João Lourenço.
Pedro Domingos disse acreditar, por isso, que a visita de Pompeo vai focar-se em aspetos como o combate à corrupção, transparência e "compliance" (conformidade com a lei), pois foi devido à falta de adesão de Angola a esses princípios que o país foi perdendo acesso à banca e aos mercados internacionais o que "afetou catastroficamente a economia", aumentando as dificuldades para fazer pagamentos no exterior.
O presidente da AmCham lembrou ainda que o combate às más práticas é também fundamental para o Governo norte-americano, que criou uma lei federal anti-corrupção FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), prevendo sanções para as empresas envolvidas em atos de corrupção em atividades internacionais.
"No passado, o sistema em Angola era fortemente corrupto (...). Naturalmente, num ambiente como este as empresas não tinham como competir com as de outras latitudes que não olhavam [a corrupção] como um obstáculo nas relações comerciais", o que levou ao afastamento do mercado angolano.
"O desenvolvimento futuro de Angola passa por uma aproximação mais forte aos Estados Unidos e a presença de Mike Pompeo vai trazer vantagens para o relacionamento internacional", destacou o presidente da AmCham.
Angola é um dos parceiros estratégicos dos Estados Unidos em África, a par da África do Sul e Nigéria, e para Pedro Domingos Godinho a vinda de Pompeo surge como "uma confirmação" do interesse dos Estados Unidos por este mercado.
É também "uma forma direta e indireta de anunciar ao mercado angolano e ao mundo que os EUA têm Angola como um ponto de chegada", sinalizando o interesse em reforçar as relações comerciais, políticas e estratégicas com o país.
O empresário vê também na visita do secretário de Estado "um sinal de apoio e solidariedade com a luta heroica que o Presidente João Lourenço está a desenvolver" contra a corrupção e que exige "muita coragem".
"Estamos todos a pagar o preço da corrupção", reforçou, indicando que esse preço se traduz no encerramento de empresas, "famílias desestruturadas, crianças a sair do sistema de ensino e cidadãos que vão para cama sem fazer uma refeição".
Mike Pompeo deverá levar também na agenda a discussão de questões relacionadas com diferendos comerciais entre Angola e Estados Unidos que estão a decorrer em tribunais norte-americanos.
O Departamento de Estado norte-americano indicou, numa nota, que os objetivos da visita visam discutir "os esforços de anticorrupção e democratização", assim como relações económicas bilaterais com Angola, num encontro onde também vai estar presente o ministro dos Negócios Estrangeiros angolano, Manuel Augusto.
Atualmente, Angola conta com cerca de 60 empresas norte-americanas, com predominância para os setores de petróleo e gás, "o setor tradicional que sempre atraiu os norte-americanos a esta parte do mundo".
O ponto mais alto das relações económicas entre os dois países registou-se em 2008 quando as trocas comerciais atingiram os 20,9 mil milhões de dólares (19,3 mil milhões de euros), dos quais 18 mil milhões (16,6 mil milhões de euros) correspondentes a produtos vendidos para os Estados Unidos.
Dez anos depois, o montante não ia além dois 3,8 mil milhões de dólares (3,5 mil milhões de euros), com Angola a exportar 2,1 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de euros).
Em 2020 cumprem-se 27 anos de relações bilaterais, sendo Angola o terceiro maior parceiro comercial dos Estados Unidos da América (EUA) na África subsariana.