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Terça, 04 Dezembro 2018 14:17

Encontro com João Lourenço é “um passo em frente” no diálogo nacional - Ativistas

Várias organizações da sociedade civil consideraram hoje simbólico e um passo em frente para a construção de um diálogo nacional o encontro com o Presidente angolano, João Lourenço.

Falando à imprensa, vários dirigentes e líderes de organizações não-governamentais e da sociedade civil destacaram a importância do encontro em que lhes foi permitido manifestar "todas as preocupações de forma frontal e sem quaisquer receios".

A reunião convocada pelo chefe de Estado angolano acabou por não contar com a participação do ativista Rafael Marques - inicialmente dado como ligado à fundação Open Society mas que, entretanto, já indicou que não é membro há 15 anos -, que esteve à porta da presidência, mas acabou por não entrar no Palácio Presidencial.

Segundo uma nota do jornalista e ativista no site que dirige, Maka Angola, não lhe foi permitida a entrada por "não constar da lista de convidados".

Por seu lado, o ativista Luaty Beirão optou por, no final de uma hora e meia de reunião, não falar aos jornalistas, mantendo a promessa de só falar depois de terminado o prazo, a 26 deste mês, para o repatriamento de capitais por parte de altas figuras angolanas, exigido pelo Governo angolano.

Entre os ativistas que falaram aos jornalistas, José Patrocínio, líder da associação religiosa OMUNGA, Alexandra Semeão, da Associação Handeca, e Maria Lúcia Silveira, da Associação Justiça, Paz e Desenvolvimento, destacaram também "a franqueza e respeito manifestado por João Lourenço", salientando o facto de este tipo de encontro ser inédito em Angola.

Por seu lado, Belarmino Jelembe, da Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA-A), indicou que a reunião "marca um momento muito importante", pois é "a aproximação da instituição Presidente da República a vozes da sociedade civil que durante muito tempo se bateram de forma crítica em relação àquilo que foi sendo a governação" e contra quem João Lourenço "mostrou que não tem receio de diálogo".

"Tem este simbolismo o Presidente a receber-nos e a abordar de forma bastante aberta uma série de assuntos, permitindo a todos expressar o que lhes vai na alma e sobretudo colhendo com bastante atenção as nossas preocupações. [...] Creio que estamos muito no início de uma longa caminhada. Diz-se que uma longa caminhada começa sempre com um primeiro passo e eu acho que foi um passo muito importante", sublinhou

José Patrocínio, líder da Associação OMUNGO, recorreu também à palavra "simbolismo" para realçar que é o próprio gabinete da Presidência que está aberto a receber todas as pessoas, mas que, apesar de tudo, "continuam as expetativas".

"Há coisas que continuamos a esperar alguma esperança, mas também com algum receio. Por exemplo, há coisas em relação ao combate à corrupção, há coisas práticas que temos alguma dúvida, que se vão acontecer ou não, mas o importante é que as coisas passaram a ser assuntos públicos, passaram a ser discutidas, deixaram de ser tabus. A maioria das coisas está aí", referiu.

"O único assunto que não saiu do tabu é sobre a questão do sistema eleitoral. As dúvidas que ficaram sobre os resultados eleitorais [de 2017] ainda não é assunto para discutir", acrescentou.

Por seu lado, Maria Lúcia Silveira, presidente da Associação Justiça, Paz e Desenvolvimento (AJPD), salientou o interesse do Governo em "passar do discurso à prática no que se refere à participação da sociedade civil na vida pública, que é um direito constitucionalmente garantido".

"Mas gostaríamos de chamar a atenção para o facto de que todas as questões que o Governo tem estado a falar, sobretudo ligado à corrupção, são questões que a sociedade civil já tem analisado ao longo dos anos. Há organizações que já fizeram relatórios em que fazem recomendações ao Governo sobre o que deve fazer feito para responder aos vários problemas de corrupção que têm acontecido", afirmou.

Realçando que é, para a AJPD, "muito confortante ver" que João Lourenço está a colocar o que está constitucionalmente garantido em prática e que o Presidente contará com a colaboração da associação, Lúcia Silveira afirmou que sai do encontra "satisfeita", tal como se sentia antes da reunião.

Alexandra Semeão, da Associação Handeka, destacou, por sua vez, o "inedetismo" de um encontro desta natureza, lembrando que nenhuma das associações hoje presentes na reunião esteve, nestas condições, o que "já demonstra um grau de inclusão que, de facto, merece ser reconhecido".

A presidente da associação salientou que João Lourenço "surpreendeu", "pareceu ser uma pessoa bastante conhecedora dos assuntos" que se estava a falar, "consciente deles", mesmo quando falou do problema de um ensino primário "ineficaz, incompetente e ineficiente", em que dois milhões de crianças ficaram fora do sistema.

"Este modelo de auscultação, se o Presidente da República pode auscultar as associações e organizações da sociedade civil central, era importante também estender-se aos senhores governadores, para que saiam do seu local de conforto e ouvissem também [as preocupações das organizações] a nível provincial", referiu.

"É óbvio que há um grande simbolismo à volta disto (o encontro) porque, até às eleições de 2017, apenas as organizações militantes entravam neste espaço para se poder dirigir ao anterior Presidente [José Eduardo dos Santos]. Hoje não foi isso que aconteceu. Foi o começo de um novo momento de diálogo, que não existia, e a possibilidade de todos nós, naquela sala, nos sentirmos livres para, frontalmente e em liberdade, podermos dizer ao Presidente o que, para cada um de nós, constituem os graves problemas deste país", concluiu Alexandra Semeão.

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