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Segunda, 24 Setembro 2018 18:22

Angola: o que mudou com a chegada ao poder de João Lourenço?

Dezenas de exonerações, abertura de processo judiciais contra próximos do seu antecessor e um discurso mais aberto ao exterior são aspetos que marcam um ano na presidência de Angola de João Lourenço.

O primeiro ano do mandato do Presidente angolano, João Lourenço, foi de “consolidação do poder”, com afastamento de muitos dos apoiantes do seu antecessor, e de “propostas de combate à crise” e à corrupção, marcando um virar de página na governação.

Depois de 38 anos no poder de José Eduardo dos Santos, João Lourenço tomou posse a 26 de setembro do ano passado e, desde então, segundo analistas ouvidos pela Lusa, a mudança no país foi evidente, com dezenas de exonerações, abertura de processo judiciais contra próximos do seu antecessor e um discurso mais aberto ao exterior.

Para o analista angolano Jonuel Gonçalves, “este primeiro ano foi de consolidação do poder e das propostas de combate à crise”.

“João Lourenço removeu obstáculos políticos no Estado e no seu partido, saindo reforçado. Esta remoção produziu-se com base em ações anti-nepotismo e inquéritos sobre corrupção, atingindo níveis altos e num quadro de alargamento da liberdade de expressão em geral”, destacou o também jornalista.

Já o investigador Eugénio Costa Almeida considera que o chefe de Estado angolano “alternou uma governança discreta”, do ponto de vista político, com uma governação de “impacto” na economia.

“Alternou uma governança discreta, num ponto de vista meramente político, com uma governação de impacto em questões financeiras, embora pudesse ter ido mais longe, nomeadamente, naquele que foi o seu maior momento: a questão do retorno de capitais”, afirmou o investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL)

“Ainda assim, o impacto que isto teve, foi o início de um pequeno maremoto na vida política interna do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde a independência Angola, em 1975]”, acrescentou.

A decisão de transferir os restos mortais do general da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, na oposição) da África do Sul e a possibilidade de ser autorizado o mesmo procedimento com o líder histórico Jonas Savimbi “adormeceu ainda mais, se isso ainda era possível, a oposição”, sublinhou.

Jonuel Gonçalves salienta ainda que João Lourenço ordenou à sua equipa para “gerir a conjuntura”, não a deixando agravar-se e dando sinais de descompressão, tomou “medidas de flexibilização do mercado de câmbios”.

“Mais, durante todo esse período, [João Lourenço] marcou presença em grandes palcos internacionais, apresentando Angola com um perfil muito diferente do anterior e revelando abertura ao mercado de capitais”, acrescentou.

“Se o projeto de João Lourenço for bem-sucedido no Estado, isso repercutir-se-á no MPLA. Mas há três pontos capitais: dar mais passos na democratização, atrair investimentos para áreas económicas não tradicionais e equilibrar as contas publicas”, defendeu.

O futuro é desafiante para João Lourenço, concorda Eugénio Costa Almeida, destacando o facto de Angola continuar “dependente de uma mono economia” baseada, essencialmente, na exploração e exportação do petróleo.

“Compreendo, por exemplo, que a China seja o nosso maior parceiro económico, apesar de ser vontade de João Lourenço diversificar a economia por outros parceiros, como já tem procurado fazer, reincluindo, de novo, Portugal. Mas manter a China como principal parceiro e endividar-nos ainda mais, não me parece boa medida. É que, como já escrevi, não há almoços grátis…”, sublinhou, mostrando-se otimista.

“Numa questão que lhe foi colocada em Espanha, se se achava um futuro Gorbatchov angolano, [João Lourenço] preferiu ser visto como um novo Deng Xiaoping [ex-Presidente da China, reformista], porque desejava abrir o sistema e combater tudo o que poderia manter o ‘status quo’ como estava”, lembrou.

Apesar das dúvidas dos analistas, “João Lourenço não só conseguiu libertar-se dessas ‘algemas’ como foi, claramente, mais longe”, afirmou, referindo-se ao facto de José Eduardo dos Santos ainda liderar até ao início deste mês o MPLA.

O investigador angolano, por outro lado, defendeu que já houve tempo suficiente para começar a procurar uma maior diversificação da economia angolana.

“Vamos aguardar pelos próximos anos. Uma das medidas tem a ver com as eleições regionais [as autárquicas estão previstas para 2020 em moldes ainda a definir]. Outra, como angolano na Diáspora, que possamos fazer uso de um direito que nos tem sido cortado: o direito de voto”, reivindicou.

João Lourenço foi eleito chefe de Estado de Angola nas presidenciais de 23 de agosto de 2017, tendo sido empossado a 26 de setembro do mesmo ano.

Tornou-se o terceiro Presidente de Angola deste a independência do país, em 1975, sucedendo a António Agostinho Neto (1975/79) e José Eduardo dos Santos (1979/2017). JE

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