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Domingo, 02 Setembro 2018 01:55

José Eduardo dos Santos foi enganado por alguns dos seus colaboradores - Luzia Inglês

A secretária-geral da Organização da Mulher Angolana (OMA), afecta ao partido no poder, o MPLA, Luzia Inglês, espera do futuro presidente desta agremiação política uma actuação de acordo com os estatutos do partido e coragem para a tomada de decisões que impliquem medidas disciplinares.

O partido no poder realiza no próximo sábado o seu sexto congresso extraordinário, durante o qual o presidente José Eduardo dos Santos deve transferir o poder ao vice-presidente, João Lourenço, que desde Setembro do ano passado está na chefia do Estado.

Em entrevista ontem ao programa “Sábado às 10 e 10” da Rádio Nacional de Angola (RNA), Luzia Inglês defendeu que João Lourenço não deve temer, mesmo quando houver necessidade de aplicar, como medida disciplinar, a expulsão de um militante.

“Quando cada um de nós não fizer bem (o seu trabalho), devemos ser chamados logo e corrigidos (...). Se houver necessidade de expulsão, não devemos ter medo de aplicar essa sanção”, disse a secretária-geral da OMA, para quem é este temor que está a fazer com que o país fique como está. “Um erro repetido várias vezes entra num ritmo e depois torna-se moda. Depois, as pessoas, não digo que ficam sem medo, mas sem respeito e com o espírito do deixa andar”, acrescentou.  

Luzia Inglês lembrou que o partido tem estatutos e uma Comissão de Disciplina e Auditoria, que é responsável pela análise de algum erro e estabelecer a sanção, de acordo com a sua gravidade.

Transição pacífica na liderança do MPLA

Quanto à transição na liderança do MPLA, a secretária-geral da OMA garante que o processo está a decorrer sem qualquer turbulência, até porque os militantes são livres de exporem as suas posições políticas.

“Quanto à transferência do poder do camarada presidente José Eduardo dos Santos ao camarada João Lourenço, não há qualquer tipo de turbulência. Se houver, é de forma camuflada, o que é mau! A pessoa deve ser aberta e dizer o que não concorda”, afirmou Luzia Inglês, que realçou o facto de a votação do próximo presidente do partido ser secreta.

“Já em dois congressos, pelo voto secreto, o camarada presidente José Eduardo dos Santos chegou a ter um pouco mais de 20 delegados que votaram contra. Isso é normal e não assusta ninguém”, disse a também membro do Bureau Político do MPLA, ao justificar a democracia no seio do partido.

A secretária-geral da OMA, que garantiu o seu voto em João Lourenço, considerou que o congresso do próximo sábado poderá trazer reformas profundas no seio do MPLA.

“Quando há mudanças há progressos, desenvolvimento e evolução, o que também é normal. Toda a pessoa que assume novas responsabilidades também pode trazer consigo novos métodos, novas fórmulas e actuações, havendo assim melhorias de alguns aspectos na actuação da nossa conduta”, disse.

 Luzia Inglês afirmou mais adiante que o que se pretende é cumprir a palavra de ordem que o MPLA assumiu aquando das últimas eleições: “Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.

Como desafios imediatos do MPLA, a secretária-geral da OMA falou da necessidade de se melhorarem as condições sociais da população e apostar na reconstrução das vias de acesso.

Ex-Presidente foi enganado por alguns dos seus colaboradores

Luzia Inglês foi em defesa do ex-Presidente, José Eduardo dos Santos, relativamente ao não cumprimento de alguns programas traçados pelo anterior Executivo.

A secretária-geral da organização feminina do MPLA afirmou que, algumas vezes, José Eduardo dos Santos foi enganado por alguns dos seus colaboradores. “Ele não podia governar sozinho. Havia um Executivo. Ele foi confiando (nas pessoas) porque não se pode gerir um país só com uma pessoa. Mas, muitas vezes, nem sempre a confiança que teve nesta ou naquela pessoa surtiu os efeitos que deveriam. Daí que se há muita coisa não feita ou foi mal feita, infelizmente recai sobre a cabeça dele”, lamentou.

Luzia Inglês insistiu, no entanto, que o ex-Presidente da República não podia governar sozinho e não era fácil acompanhar, a par e passo, se tudo quanto ele orientou estava a ser cumprido. “O camarada Presidente (José Eduardo dos Santos) foi, algumas vezes, enganado, sobretudo em alguns aspectos que têm a ver com a execução dos programas que deveriam ser materializados ou cumpridos”, afirmou.  

Durante a entrevista, a secretária-geral da OMA voltou a manifestar preocupação em relação à representatividade feminina nos órgãos de decisão. Luzia Inglês afirmou que, neste quesito, o país regista um retrocesso, sobretudo a nível partidário e do Executivo.

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