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Quarta, 19 Fevereiro 2014 09:59

"Início da Luta Armada não tem a ver com o MPLA"

A Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) exige participar em qualquer comissão que se constitua para a elaboração da história moderna de Angola, afirmou Fernando Pedro Gomes, secretário para os assuntos jurídicos e constitucionais desta formação política.

Pedro Gomes repetiu as acusações de que o partido no poder tem vindo a deturpar a verdadeira história do início da luta armada, acusando também o MPLA de falsificar a data de formação do partido.

Segundo aquele dirigente da FNLA, "não há nenhuma mão" do MPLA no início da luta armada, a 4 de Fevereiro de 1961.

"Os bajuladores na Rádio Nacional e na Televisão, muitos a falar sem eira nem beira, esqueceram-se de que o MPLA tinha acabado de nascer em 1960, sobre pressão sofrida pelos seus dirigentes na segunda conferência de Túnis, em Dezembro de 1960", lembrou Pedro Gomes, acentuando que na data em que a luta armada foi iniciada "o MPLA não estava em condições, nem organizacionais, nem estruturais para levar a cabo uma acção política de relevo no interior de Angola".

O dirigente da FNLA acrescentou que o MPLA nasceu na Guiné Conacry, sem raízes no interior de Angola.

"Os relatos da PIDE são claros sobre esta matéria. Portanto, quem quiser falsificar a história tem de procurar outra história", continuou o político, adiantando que, para além de falsificar o seu envolvimento no 4 de Fevereiro, o MPLA falsifica também a data da sua formação para poder reivindicar a sua participação no início da luta armada.

O também professor universitário esclareceu que um dos dirigentes históricos do MPLA, Mário Pinto de Andrade, tinha reconhecido, antes de morrer, que o MPLA não esteve relacionado com o 4 de Fevereiro e que, ao contrário do propagandeado, o MPLA não tinha sido formado em 1956. "É uma situação muito perigosa. Há uma tentativa de forjar a verdade com o intuito de ser protagonista da história e subverter os factos, com intenção de neocolonizar o angolano", acusou Gomes, para quem o MPLA "sofre de complexos de inferioridade".

Para o dirigente, o abandono a que estão votados os antigos combatentes da UPA/FNLA parece enquadrar-se na estratégia de se dizimar as fontes históricas reais. O objectivo "é matar a história de todos estes velhos para depois eles inventarem a historia à sua maneira", insistiu.

"Se nós queremos uma história genuína, puramente angolana sem lhe acrescentar quaisquer tipos de ingredientes de falsidade, porque não convidar a UPA/FNLA para fazer parte da comissão para a elaboração da história moderna?", interrogou. "Nós queremos fazer parte de todas comissões para elaborar a história moderna de Angola", concluiu.

Data esteve ligada ao MPLA

Já o historiador Fernando Manuel esclareceu que o 4 de Fevereiro de 1961 tem sim a ver com o MPLA, "embora tenha havido a contribuição de um elemento ligado à igreja Católica e que não tem nada a ver com ideologias partidárias, que é o cónego Manuel das Neves".

Justificando a sua afirmação, Fernando Manuel afirmou que "a história é feita no espaço e no tempo" e todas as fontes consultadas, "muitas delas vindas do exterior", apontam para a ligação do MPLA a esta acção.

"Mas havia algumas pessoas que não eram deste partido, como é o caso do cónego Manuel das Neves, que é um homem ligado à igreja Católica e que apoiava os movimentos nacionalistas, porque amava a sua terra e também participou na preparação da acção que viria a ser desencadeada a 04 de Fevereiro de 1961", esclareceu.

"Os historiadores são livres de pensar nas suas ideias, porque nós bebemos de várias fontes - continuou - mas tudo indica que foram patriotas instruídos pelo Movimento Popular de Libertação de Angola, fundado a 10 de Dezembro de 1956, cujo manifesto dizia que o colonialismo nunca iria cair sem a luta armada, que fizeram com que os nacionalistas pegassem em armas brancas e lutassem contra o colonialismo portugueses", defendeu.

Na visão de Fernando Manuel, "o 4 de Fevereiro é um marco histórico na vida do povo angolano e teve alguns antecedentes".

O historiador referiu-se concretamente ao processo dos 50, quando meia centena de compatriotas foi levada a julgamento sumário, a 29 de Março de 1959, sob a acusação de terroristas.

"Desta grande barbárie colonial, que foi o processo dos 50, temos alguns sobreviventes, como são os casos dos nacionalistas Mendes de Carvalho, Amadeu Amorim, entre outros", notou.

Para o professor universitário, esta data foi a gota de água na insatisfação dos angolanos que veio a transbordar o copo na madrugada do dia 4 de Fevereiro "em que um punhado de nacionalistas, entre eles Paiva Domingos da Silva, Imperial Santana e a heroína Engrácia Cabuenha, pegaram nas catanas para dizer basta ao colonialismo e conseguiram mobilizar alguns patriotas corajosos que mataram os sustentáculos dos lugares considerados intransponíveis do poder colonial".

"Refiro-me às cadeias de São Paulo, onde, na altura, se encontravam detidos muitos patriotas angolanos sem justa causa, à casa da reclusão situada no Porto de Luanda, que hoje e com justa razão os sobreviventes do 4 de Fevereiro reclamam que seja um momento histórico nacional e creio que o Ministério da Cultura está a tratar disto", elucidou.

De acordo com Fernando Manuel, após os acontecimentos daquela data, "a acção foi selvaticamente reprimida pela PIDE/DGS" e a repressão iniciada em Luanda estendeu- -se a outras zonas periurbanas, nos conhecidos musseques, e alastrou a outros municípios, onde alguns intelectuais, que na altura já tinham a 4ª classe, foram chamados de agitadores e muito deles foram massacrados.

"Isto fez com que houvesse um grande êxodo populacional da cidade de Luanda e de outras cidades costeiras que foram atingidos por esta repressão e outros foram parar aos países vizinhos, fundamentalmente no Baixo Congo, no ex-Congo Leopoldeville, actual República Democrática do Congo, outros para a Zâmbia, a fim de salvaguardarem a sua vida", concluiu.

NJ

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