Quinta, 28 de Março de 2024
Follow Us

Terça, 29 Mai 2018 09:52

As cinco razões para João Lourenço defender Manuel Vicente

O Presidente da República de Angola, João Lourenço, empenhou-se activamente na transferência do processo de Manuel Vicente para Angola. Em Portugal, o ex-vice-presidente angolano era acusado de corrupção. Em Janeiro de 2018, João Lourenço classificou mesmo como uma “ofensa” o tratamento que Portugal estava a dar ao caso. O Tribunal da Relação de Lisboa acabou por decidir transferir o processo no início do mês de Maio. Há cinco leituras que justificam esta atitude do chefe de Estado angolano.

1. AJUDA NOS DOSSIÊS DE ESTADO

José Eduardo dos Santos entrou em ruptura com o seu sucessor, João Lourenço, e não lhe prestou qualquer tipo de auxílio para que este tomasse conhecimento com os dossiês de Estado. Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola, terá tido um papel fundamental para o que o novo chefe de Estado, eleito em Setembro do ano passado, se familiarizasse com os assuntos mais relevantes e a forma do de funcionamento do Palácio da Cidade Alta, residência oficial do Presidente da República.

2. DESCODIFICAÇÃO DO UNIVERSO SONANGOL

Manuel Vicente tem auxiliado, na sombra, João Lourenço, nas matérias referentes ao sector petrolífero. Terá partido do antigo líder da Sonangol a sugestão de indigitar Carlos Saturnino como secretário de Estado dos Petróleos e posteriormente como presidente da Sonangol, em substituição de Isabel dos Santos. Carlos Saturnino foi director de produção quando Manuel Vicente dirigia a petrolífera angola. Manuel Vicente tem ainda contribuído para explicar detalhadamente o posicionamento internacional da Sonangol em países como o Iraque ou Cuba

3. CONTROLO POLÍTICO DO EX-VICE-PRESIDENTE

Uma outra leitura plausível é a de que João Lourenço, defendendo Manuel Vicente, o transformou em seu refém. Por duas ordens de razão concomitantes. O processo transferido de Portugal funciona como uma espécie de espada de Dâmocles que pode usar a qualquer momento, sendo que também inibe qualquer eventual ambição política e o antigo vice-presidente, que chegou a ser apontado como sucessor de José Eduardo dos Santos.

4. AFIRMAÇÃO INTERNA DE PODER

O braço-de-ferro com Portugal e a atitude dura no caso de Manuel Vicente foi uma forma de João Lourenço se afirmar internamente, mostrando tanto junto do MPLA, como dos seus adversários políticos da opinião pública angolana e da comunidade internacional, que não era uma “marioneta” do seu antecessor, José Eduardo dos Santos. A bipolaridade amor-ódio nas relações entre Portugal e Angola ajudou a sedimentar esta narrativa.

5. RECONHECIMENTO POR APOIOS ANTIGOS

Existe uma outra versão, de natureza mais pessoal, para este apoio inequívoco a Manuel Vicente. O antigo líder da Sonangol terá apoiado João Lourenço quando este fez a sua travessia no deserto no MPLA, no início da década de 2000, por desavenças com José Eduardo dos Santos. Jornal de Negócios

Rate this item
(3 votes)