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Segunda, 25 Dezembro 2017 10:11

É o povo que precisa de crescer e rápido - Ana Margoso

Para mostrar a ignorância popular relativamente a vida política, o filósofo francês Joseph-Marie Maistre tornou célebre a seguinte frase: “cada povo tem o governo que merece”.

O filósofo que era contra a participação do povo nos processos políticos, porque este acreditava que as transgressões de um governo era como uma punição severa a todos aqueles que tinham direito ao voto, mas não sabiam bem como usá-lo elegendo assim os maus políticos.

Se por um milagre qualquer do destino Maistre ressuscita-se hoje, certamente que apanharia um ataque do coração, pois passados vários séculos em grande parte das nações o soberano continua a cometer erros de palmatória colocando no poder políticos corruptos e sem ética.

Em matéria política, nomeadamente em África onde a democracia ainda caminha a passos de Camaleão, a cidadania ou “Civitas” não é exercida em pleno por não ser do interesse das classes políticas dominantes ter um povo esclarecido. É por isso que em muitos países do continente berço a educação deixa muito a desejar e o povo passa por todas as vicissitudes possíveis e imaginárias de maneira a não ter tempo para pensar naquilo que realmente interessa.

Nesta parte do continente onde as ditaduras fazem morada, onde o papel do chefe é muito forte, muita das vezes chegado ao poder através de golpes de estado, falar em democracia é ainda uma miragem.

Muitos eleitores em África ignoram o poder do voto, não sabem que o povo é o verdadeiro detentor do poder, é o soberano, aquele que tem uma arma poderosa nas mãos que pode transformar o seu destino e ganhar o respeito dos políticos, que mais não são que meros servidores públicos.

Enquanto as sociedades africanas apostarem em políticos corruptos que pensam unicamente em encher os seus bolsos ao invés de investirem seriamente na educação e saúde, o continente berço continuará a ser como um navio que anda à deriva no meio do oceano, vendo partir para outras paragens os seus melhores filhos que vão à procura de melhores condições de vida.

Uma comunidade só cresce com cidadãos conscientes que exercem a cidadania sem limites, onde os direitos e os deveres andam de mãos dadas e são respeitadas pelas instituições do Estado que velam pelo seu cumprimento, tornando assim as sociedades mais harmoniosas.

Exercer a cidadania é ter consciência dos seus direitos e obrigações, garantindo que estes sejam colocados em prática. Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais. Preparar o cidadão para o exercício da cidadania deve ser um dos objectivos da educação de qualquer país que ambiciona atingir o desenvolvimento.

Infelizmente para África os factores políticos não são os únicos que impedem seu desenvolvimento, e consequentemente a implementação da democracia. Factores culturais e mesmo sociais também estão na base deste subdesenvolvimento que funciona como uma âncora que impede o crescimento deste continente. 

Em termos culturais é costume em muito é costume em muitos pontos de África que apenas os jovens de sexo masculino devem ir à escola, enquanto as raparigas devem manter-se em casa para ajudar as mães nos afazeres diários, ou ir à lavra trabalhar a terra e acarretar água. 

O analfabetismo que é outro aborrecimento para os nossos países. A luta contra este mal encetada por muitos países africanos, infelizmente não têm conseguido alcançar os efeitos desejados. A este grupo podemos juntar ainda os iletrados que apesar de saberem ler e escrever têm muito pouca instrução.

O analfabetismo no continente negro pode ser também apontado como um dos principais motivos para o atraso das sociedades africanas, juntando a este factor a pobreza extrema em que estão voltadas muitas das populações.

Hoje em muitos países africanos o voto não é feito de forma consciente. O cidadão acaba por vender o seu voto para ter um prato de comida, ou então em troca de um outro bem que pode ser até a camisola de propaganda de um partido político.

Em muitas destas localidades os políticos são vistos como deuses, quando deveria ser o contrário. O povo desconhece os seus direitos, o voto não tem qualquer valor nestas comunidades a não ser pelo facto de ser nestas alturas em que os políticos se tornam pessoas mais simpáticas e mais generosas. (JA)

Por Ana Margoso

*Dirigente da UNITA

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