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Sábado, 15 Fevereiro 2020 09:25

Qual é o preço da fome?

Os preços sobem todos os dias. Mesmo feijão nacional. A Namíbia fechou a rota para Luanda que era uma das mais lucrativas e agora quase não tem passageiros…porque os angolanos não têm dinheiro. E a África do Sul fez o mesmo. No entanto ninguém desconhece que o pior acontece com os medicamentos quando os há.

Os preços sobem todas as semanas. E é tal a ganância que mandei comprar uma lâmina com catorze comprimidos de um fármaco de nome FORXIGA que tem de ser tomado todos os dias, pelo preço de 21.184.80 kwanzas. Estranhei, costuma subir todas as semanas, mas nesta era demais. Fui, pessoalmente, a outra farmácia, perto da outra, e comprei uma mesma lâmina pelo preço de 16.310 kwanzas. É uma diferença abismal. Não se pode comprar medicamentos, os hospitais públicos não têm farmácias e alguns não aparecem, por vezes nos miúdos que não sei onde se abastecem. Quem pode vai à kinguila comprar moeda e pede a quem viaja para trazer. Afinal quem controla os preços dos medicamentos? E eu agora, com as duas facturas vou à Polícia Económica, sou ouvido em auto de participação, depois vem o crime de especulação, o julgamento sumário e mais quê?

Ninguém explica ao povo o que se passa sobre inflação e especulação tão pouco em que circunstâncias isto acontece e quais os seus objetivos historicamente comprovados. Quem manda na economia são os mais poderosos numa cidade cheia de arranha-céus vazios, sem ninguém a habitá-los e bom seria publicar-se a lista de seus proprietários. Quando o poder judicial persegue os poderosos que praticaram ilícitos contra o erário público ou similares, a resposta de defesa antecipada é a de desestabilizar a sociedade com a subida dos preços e a consequente diminuição do poder aquisitivo do povo para que este se revolte contra o Estado por rejeição e, em última análise, se consiga a ingovernabilidade.

Chegámos ao ponto de um Procurador que deve estar de cima para baixo em relação a arguidos trocar comunicados com uma arguida e ir a Portugal pedir aquilo que internacionalmente se faz pela chamada carta rogatória… de contrário tinha de correr quase o mundo inteiro onde gravita o dinheiro roubado.

Há quem espere que a nova moeda possa remediar a inflação, mas o Governo devia explicar estas coisas para o povo perceber pois ninguém tem dinheiro para comprar fuscas que a Alemanha, em crise política, quer colocar aqui uma linha de montagem. Outra vez. A Europa está a entrar com os carros eléctricos, mas não se importa de mandar carros produtores de carbono para África. E a malta bate palmas quando que a Alemanha podia fazer era três bons hospitais, um em Luanda, outro no Huambo e outro no Lubango. Seriam o top de uma saúde sistémica, postos médicos, hospitais locais e para as situações mais difíceis os três hospitais vértice de sistema.

Fenómeno interessante é que nas quitandeiras os ananases, as bananas, maracujás, papaias e legumes vão mantendo o preço. Então andava-se a dar corrida e a roubar os parcos bens de mulheres que labutam de sol-a-sol quando afinal elas são um elemento contra a inflação pois nem as grandes superfícies nem as farmácias são do povo. O recurso é a ervanária do Ferreira, dos descendentes do Ferreira da Babaera, como o Sambo, e meu pai que também teve ervanária e com ele aprendi um pouco. Era a medicina dos nossos ancestrais que o colonialismo apelidou por feitiço e aqui, no “socialismo científico” se chamaram práticas pré-científicas…

Já aqui disse uma vez: pelo menos os preços das mercadorias que compõem a cesta básica deveriam estar afixados nas lojas e divulgados na comunicação social. E nas farmácias deveriam ser afixados os preços dos medicamentos com a chancela da autoridade fiscalizadora que suponho existir no Ministério da Saúde.

É preciso ter em conta que os de colarinho branco andam mais depressa do que a Polícia e é preferível apenas controlar os seus movimentos de forma a impedir a ingovernabilidade do que obrigar o povo a andar a segurar as calças para poupar o dinheiro do preço de um cinto.

Acresce a tudo isto que um país em inflação quase galopante não cativa investimentos e tão pouco consegue organizar o turismo porque ninguém vem para aqui pagar hotéis pelos preços mais caros do mundo e correndo o risco de nem conseguir medicamentos para se tratar.

E é preciso acabar com os que vêm de passaporte turístico gerir empresas, conseguem divisas para mandar lá para fora e, periodicamente, vão a Lisboa actualizar os vistos. Normalmente servem patrões angolanos ricos e trazem o curso da arte de saber roubar nos preços ou na fuga ao fisco e acaparar todas as artimanhas do chefe…e rouba um posto de trabalho a um angolano. Mas como anda muita gente distraída, esquecem-se que um angolano foi a Portugal corromper um magistrado, um juiz português vendia sentenças, os super-processos demoram dez anos…e aqui ainda querem mandar vir essa gente ensinar magistratura. Masoquismo também não! Qual é o preço da fome?

Por Manuel Rui / JA

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