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Segunda, 20 Janeiro 2020 11:37

Uma sociedade encalhada

O nosso país, Angola, está a viver um dos piores momentos da sua história em termos de liberdade de expressão mas, desta vez, não porque a estrutura governamental impede os cidadãos de se expressarem em absoluto, são os próprios cidadãos que barricaram-se em fronteiras e tentam empurrar uns aos outros para um e para o outro lado.

Se durante quase 40 anos, a ideia era fazer com que a imagem fosse dualista entre quem é do MPLA e quem são os outros, procurando distorção de tudo e todos, hoje a ideia está completamente enviesada, a ideia é forçar a actual tensão no seio do MPLA para uma facção supostamente existente.

Uma Facção dentro de um partido pode ser identificada caso exista um grupo de pessoas unidas pelas mesmas ideias e que se apresenta como alternativa à estrutura do partido já existente, podendo formar um novo partido através de uma dissidência ou propor uma alternância dentro do próprio partido.

Ora, na actual conjuntura do MPLA ainda não podemos falar da existência de uma Facção, não existem elementos suficientes para tal, o que há são tensões circunscritas às pessoas e/ou militantes, muitos dos quais com proeminência, que estão a ser afectados pelas acções de luta contra a corrupção e por esta razão estão naturalmente descontentes e é, do ponto de vista humano, compreensível.

E são essas pessoas que querem obrigar os cidadãos a se barricarem com eles, avançar numa suposta frente contra o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço como se a fidelidade do cidadão e do militante fosse individual e não de grupo.

Mas o mais deplorável é que estar de um lado ou do outro está ser levado de forma coerciva feita por via do achincalhamento das pessoas.

Essa atitude será precisamente a desgraça desses grupos porque acabarão isolados de tanto molestar tudo e todos, demostrando um estado de claro desespero, tal um animal ferido capaz de morder qualquer um.

Portanto, a sociedade está encalhada nesses extremos não admitindo qualquer tipo de opinião racional, isenta e realista, cada um está na sua zona de conforto e por via das suas posições radicais procuraram obrigar a sociedade a uma cisão.

O espírito é: Ou ficas do meu lado ou és dos maus e como já estou no buraco não me importo de ser Kamikaze.

“Ou nós ou ninguém!”

A racionalidade é a base de qualquer vitória, nunca houve sucesso duradouro com métodos arcaicos de amordaçamento das pessoas. Não é possível amarrar o pensamento das pessoas.

A luta política se faz com organização, mobilização e objectivos claros. Mas também é necessário um Líder, um rosto por via do qual o cidadão possa se rever.

Os que pretendem encalhar a sociedade, não vão conseguir porque ninguém trava o vento com as mãos e tapar o sol com a peneira não dá grande jeito.

A pior forma de tentar atingir determinado objectivo é impor ideias em vez de convencer. Na vida, as vezes é necessário ser realista e, entre a Covardia e a Temeridade, devemos optar pela Coragem.

O General que não tem consciência da capacidade de fogo da tropa sob seu comando e avança para conquistar uma posição defendida por forças melhor organizadas e com maior capacidade de fogo, tendo como agravante a atitude de amordaçar toda e qualquer pessoa que se oponha à sua ordem de comando é claramente um mau comandante e para além de levar para o morticínio os poucos que ainda persistem em segui-lo, acaba na loucura por sentimento de culpa ou vive em estado de Paranoia permanente acreditando que ainda tem poder.

Isso faz lembrar a história do nobre da sociedade Medieval, Dom Quixote de La Mancha que, apesar de ter apenas um amigo, Sancho Pança, que de forma fiel e canina o seguia, Quixote criou o seu próprio mundo.

Na procura da justiça criou inimigos, os moinhos e as ovelhas, portanto fez os seus combates pensando que estava a lutar contra um exército, fez os seus grandes combates num mundo que só existia na cabeça dele.

Mas no fim Quixote caiu na real e viu que não era nenhum herói do mundo, percebeu que os moinhos não faziam parte de nenhum exército, nem as ovelhas se quer também eram exército algum.

Portanto, as pessoas estão a ver inimigos onde não existe e julgam estar a fazer um combate que na verdade também é ilusório porque os fins que se pretende atingir estão longe da realidade.

Por Belarmino Van-Dúnem

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