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Domingo, 12 Janeiro 2020 12:49

Política: muda-se o vento, muda-se a verdade

Há menos de 3 anos - ainda em Janeiro de 2017 - Isabel dos Santos era tida pelo mesmo MPLA que governa Angola desde 1975 como uma empresária de sucesso. Em Portugal, a ideia era exactamente a mesma.

 A imprensa portuguesa escrevia e dizia que Isabel dos Santos era uma empresária notável que muito contribuía para a economia portuguesa, sem se importar de onde e como saiu o dinheiro do investimento em várias empresas naquele continente velho. O Jornalismo de Investigação, em Portugal, não funcionava quando se tratava de Isabel dos Santos.

Aliás, de Portugal vinham vários nomes do regime angolano como estando envolvidos em paraísos fiscais, para além de escândalos como o que obrigou o BESA a mudar de nome. Portugal fez questão de nos dizer os principais nomes que ajudaram a falir o Banco Espírito Santo Angola (BESA). Ainda em 2017, data da mudança de direcção do vento da verdade, o nome que mais veio à baila em escândalos de corrupção não foi o de Isabel dos Santos. Foi o de Manuel Vicente, que, com a entrada de João Lourenço na Presidência da República, gozou de toda a defesa patriótica do mundo, com unhas e dentes, e com ameaças de as relações entre Angola e Portugal puderem azedar se o referido processo-crime não fosse transferido para Angola, no âmbito de acordos entre os dois países.

Mudou o vento e mudou a direcção da verdade. Hoje, três anos depois, já se não fala do caso Manuel Vicente e Portugal já faz Jornalismo de Investigação contra Isabel dos Santos. Uma ex-eurodeputada já faz queixa à PGR de Portugal contra Isabel dos Santos, quando a mesma senhora sempre esteve lá na Europa quando Isabel dos Santos era quase idolatrada pela imprensa portuguesa. O vento da verdade em Portugal é sempre semelhante ao de Angola.

Em Angola, é o próprio MPLA que aplaudiu quando Isabel dos Santos foi nomeada PCA da Sonangol. E chegou mesmo a haver uma tentativa de impugnação da sua nomeação por parte de advogados angolanos que a achavam um acto contra a Constituição angolana.

O que é certo é que o MPLA - o mesmo partido que governa Angola desde 1975 - foi o maior defensor da sua nomeação na Sonangol. Foi o MPLA que sempre defendeu a ideia de que a senhora Isabel dos Santos era uma empresária visionária, com uma capacidade de inteligência fora do comum.

Os investimentos em Angola, em Portugal e um pouco em outras partes do mundo são uma prova da bandeira hasteada pela defesa dos mesmos responsáveis do MPLA que hoje fazem parte do Governo de João Lourenço. É que as pessoas - do MPLA - são as mesmas!

Hoje Isabel dos Santos já corre o risco de perder todo o seu investimento em Angola e em Portugal porque só hoje se descobriu a verdade! Só hoje os órgãos de investigação do Estado descobriram que Isabel dos Santos, afinal, se beneficiou de dinheiro do Estado, sem devolver, e agora o mesmo MPLA já transformou a empresária visionária numa "kilapeira" culpada de todos os males de Angola. Num ápice, com a mesma direcção, Portugal também está a descobrir tudo de Isabel dos Santos! Hoje as pessoas que sempre aplaudiram Isabel dos Santos no passado já dizem que, com as mesmas oportunidades que teve de seu pai José Eduardo dos Santos, qualquer pessoa podia fazer os mesmos investimentos, retirando, assim, o mérito que lhe davam no passado. Hoje Isabel dos Santos foi transformada de bestial para besta. Hoje em Portugal até já se descobre nomes russos!

O que mudou? São as pessoas no poder de decisão em Angola e em Portugal? São os jornalistas em Angola e em Portugal? São os órgãos de investigação do Estado em Angola e em Portugal? Não. As pessoas são exactamente as mesmas. O que mudou é o vento. O vento veio provar que é capaz de transformar mentiras intercontinentais em verdades. E quando muda a direcção, as verdades de hoje transformam-se em mentiras de amanhã. Não estranhemos, pois, que, após a saída de João Lourenço da Presidência da República de Angola, as mesmas pessoas que fazem parte do MPLA digam que João Lourenço é que foi o mau da fita, mas que não podiam fazer nada contra por respeito às decisões do líder. Neste cenário, possível, a imprensa portuguesa também iria crucificar João Lourenço. De repente, com a saída de João Lourenço, Isabel dos Santos poderia sair de besta para bestial outra vez e o Jornalismo de Investigação em Portugal faria questão de transformar russo em português.

Surgiriam outras ex-eurodeputadas a defendê-la. A PGR de Portugal diria que ela está limpa em Portugal, desde que o MPLA continuasse no poder em Angola - com as mesmas pessoas! -, as empresas portuguesas continuassem cá em Angola a ganhar dinheiro, alavancando a economia portuguesa, e a verdade continuasse a ser sustentada pelo novo vento. Na política, muda-se o vento, muda-se a verdade.

Por Carlos Alberto (Cidadão e Jornalista) FB

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