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Sábado, 29 Junho 2019 14:57

O melhor candidato da UNITA para o MPLA

Na UNITA, os dados estão lançados, os candidatos ainda não disseram que são candidatos, mas fazem o seu jogo.

O XIII Congresso Ordinário da UNITA está marcado para Novembro, e, até lá, o pivot continua a ser Isaías Samakuva. Por agora, a preparação das etapas que levam à realização do congresso estão entregues a Franco Marcolino, secretário-geral da UNITA, e a Vitorino Nhany, o secretário para as questões eleitorais do Galo Negro ‒ dois homens da “máquina do partido” controlada por Samakuva.

Desde as eleições gerais de Agosto de 2017 que a liderança de Samakuva, quase 17 anos após ter sucedido a Jonas Savimbi, tem sido periclitante e hesitante, numa urdidura de interesses pessoais pouco definidos e hesitações, que estão a fazer o que todos temiam que fizessem: a abrir fissuras no partido. E isto apesar da conseguida opção de se fazer de 2019 o ano da consagração da memória do líder histórico e fundador, que incluiu as exéquias dignas de Savimbi, processo que Samakuva conduziu de forma igualmente digna e elogiada, mas que não dissimulou completamente o mal-estar na UNITA. Ora é para Samakuva que o MPLA lança um olhar pretensamente cândido, ultrapassada que está a “irritação Savimbi”, na sua intransponível dualidade de herói para uns e vilão para outros.

E é esse o ponto de vista que escolhemos para esta análise, ver a UNITA através do olhar do MPLA, especulando sobre qual seria o melhor candidato do maior partido da oposição, e alternativa, para o partido do poder.

Vejamos: a continuação de Isaías Samakuva seria uma boa opção. Samakuva tem sido o líder da UNITA numa tendência crescente do partido, em votos e em deputados, e na consolidação enquanto alternativa de poder, mas sem grandes ambições. Não damos como garantido que consiga mobilizar mais eleitorado, sobretudo se não permitir a renovação do partido. Para acentuar esta diferença, o MPLA remova-se, tem um líder com 65 anos, bem mais novo do que Samakuva, e abriu recentemente o Comité Central aos “novos”, numa percentagem de 61%, maioritária, portanto ‒ uma deriva que, ao que tudo indica, se manterá em 2021, no próximo congresso ordinário do partido dos camaradas.

Temos que Samakuva é um bom candidato para o MPLA e um mau candidato para a UNITA.

Samakuva pode optar por seguir este caminho de dar o lugar aos novos, e de forma mais radical, apoiando um jovem à liderança do Galo Negro. E têm duas opções que se configuram como possíveis: o filho de Jonas Savimbi, Rafael Massanga Savimbi, ou o próprio sobrinho, Liberty Chiaka ‒ candidatos bem preparados e catalisadores do eleitorado mais jovem. Diríamos que sim, mas, pensando melhor, dizemos que não, porque tanto um como outro seriam vistos como instrumentos de Samakuva ‒ jovens promissores que arrancam para um patamar superior das suas carreiras políticas como delfins de um líder cessante, com o comprometimento que isso pressupõe.

Além do mais, perderiam para João Lourenço no confronto da credibilidade e da obra feita ‒ para não dizer que seriam esmagados. Aí poderia entrar, e mais uma vez, Samakuva em cena, alterando os estatutos da UNITA e posicionando-se como candidato ao cargo de Presidente da República. Não conseguimos antever que o resultado fosse muito diferente e parece-nos malsã a ideia de Samakuva como candidato: para voltar a perder para João Lourenço e ter de se retirar da vida política, sendo-lhe assacada mais uma derrota e, pior, tendo coartado a possibilidade a outros? Não seria um fim muito bonito de se ver, e nem Samakuva o merece.

Temos que Massanga e Liberty podem ser candidatos plausíveis para a UNITA, mas continuam a ser bons candidatos para o MPLA.

Numa short list de outros candidatos, destacamos Alcides Sakala. O actual porta-voz da UNITA é uma boa possibilidade. Tal como Samakuva, é um diplomata, um bom ouvinte, ponderado, entre o sim, o não e o talvez, mas ainda não o vimos sujeito a pressão. No entanto, e apoiado por Samakuva, poderia liderar o partido nestes novos tempos ‒ Sakala tem estrutura política e intelectual para isso.

Porém, lembramos que estamos a olhar para a UNITA na perspectiva do MPLA e, nesse caso, teríamos um candidato que o MPLA veria com bons olhos. Aliás, a quem o partido do poder piscaria o olho.

Paulo Lukamba Gato continua a ser uma possibilidade, mas arriscaria ele a ver-se, e mais uma vez, derrotado, já não por Samakuva mas por um candidato apoiado pelo ainda líder? Não nos parece. José Pedro Kachiungo está no mesmo plano de Gato e, sem o apoio de Samakuva, arrisca o mesmo tipo de derrota e o mesmo encolher de ombros do MPLA. O general Numa é outro dos candidatos, mas, a nosso ver, um que já ninguém leva muito a sério. Levados mais a sério poderíamos ter tanto Franco Marcolino como Vitorino Nhany, mas falta-lhes, notoriamente, carisma, que é o que não falta a Raúl Danda ‒ a quem faltam anos de militância para se poder candidatar. Até aqui, podemos dizer que temos uma plêiade de candidatos que faz sorrir o MPLA.

Qual é, então, o candidato que o MPLA mais teme? É Adalberto da Costa Júnior. Por inúmeras razões e porque é o candidato que ultrapassa o espectro eleitoral da UNITA, claramente. Mesmo que ele seja só um fenómeno urbano, cabe à UNITA transformá-lo num fenómeno mais amplo ‒ isto se Isaías Samakuva tiver essa generosidade, naturalmente, e se colocar os interesses do partido no âmbito nacional e sair da paróquia do Bié, onde teima refugiar-se.

Convém sempre lembrar que os partidos são a ponte que liga os cidadãos à governação, e não seria má ideia se o Galo Negro conseguisse, de vez, arrumar todas as questões mal resolvidas, libertar-se de um certo tribalismo ou regionalismo e pensar no líder mais capaz para enfrentar o seu adversário político.

Não é por acaso que, em vários países do mundo, e estou a pensar no Estados Unidos da América, por exemplo, os institutos de sondagens se ocupam a fazer estudos comparativos entre candidatos. Ora, e se a UNITA fosse por aí, se pensasse em qual seria o seu melhor candidato para derrotar (numa visão delirantemente optimista) João Lourenço, nas eleições gerais de 2022, e se fizesse dele o seu líder?

Ismael Mateus escrevia recentemente num post do Facebook: “O nível do discurso da oposição feito por Adalberto da Costa Júnior (ACJ) e Isaías Samakuva, mesmo com eventuais tiques de populismo, no caso de ACJ, é incomparavelmente superior aos dos restantes membros da oposição. Samakuva vai, se sair, deixar, neste capítulo, imensas saudades. A capacidade de argumentação, o nível de preocupações e a postura de Estado são, definitivamente, de qualidade superior. Não se trata de concordar ou não com eles. Trata-se, isso sim, de termos uma oposição que, no discurso e na acção, imponha uma governação mais qualificada.”

Os sistemas partidários fazem-se da interacção entre partidos, tanto em termos de competição como de cooperação. E é também por isso que subscrevemos Ismael Mateus e pensamos que uma boa escolha de Samakuva é uma boa escolha para o País; o contrário é válido nos mesmos termos.

Ana de Sousa / VANGUARDA

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