Ou seja, ao chegar ao mundo, a criança habitará um tipo de infância reconhecida pelo grupo que a cerca, com suas marcas de género, raça, sexualidade, dentre outras. Todavia, não fica presa a essas amarras: se subjectiva, cria e recria, é a criança, ao mesmo tempo, universal, individual, singular. E, nas dobras e desdobras daquilo que não sabemos – e não somos –, a infância se revela na possibilidade de o mundo ser outro, ser novo.
A frase “PERÍODO EMBRIONÁRIO DO MPLA” refere – se ao período embrionário que marcou a origem do MPLA. Esta frase é uma frase de natureza semântica conotativa, implicando dizer que não foi empregue com o seu valor literal, mas sim figurativo.
Frase conotativa, faz referência ao sentido figurado, é a associação subjectiva, cultural e ou emocional, que está para além do significado escrito ou literal de uma palavra, frase ou conceito. Além da sua denotação, o sentido referencial, literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos, virtuais, conotativos, que são apenas sugeridos, evocando outras ideias associadas, de ordem abstracta, subjectiva. É o significado que palavras ou expressões adquirem, em situações particulares de uso. O período embrionário que aqui o autor refere baseou – se na embriologia, que é o período que precede o nascimento do indivíduo, período embrionário do MPLA marca o começo das transformações organizacionais que deram lugar à vida de um partido, desde a ideia da criação até à completa consumação da obra MPLA.
O período embrionário do MPLA corresponde ao estágio inicial do desenvolvimento do MPLA, marcado pelos primórdios de sua construção organizacional, desde os subúrbios de Luanda viajando para o ocidente em Lisboa, indo à Paris, retorna à Luanda onde passa a ser firmado o MPLA e criado pela conjugação de vários Movimentos de Revolução anti – colonial, é um período nebuloso, e bastante confuso, marcado por uma complexidade extrema. Não é fácil a percepção do período que marca a origem, criação e fundação do MPLA, é deste período que iremos nos debruçar neste artigo.
O MPLA originalmente nasce do PLUA que, havia nascido do PCA de Ilídio Machado, Viriato Clemente da Cruz e António Jacinto, a sigla MPLA surge com Viriato da Cruz em 1956 quando escreveu os estatutos do PLUA uma organização que passava a representar a classe mais expansiva e revolucionária Angolana.
A ideologia de Viriato da Cruz encontrada na origem do MPLA, tendo - se transformado em seu primeiro ideólogo, seu verdadeiro pai, e também arquitecto da sua origem, apresentava traços que lhe dignificavam pelo facto mediante o qual, um amplo movimento de luta contra o colonialismo, representava os valores e anseios mais elevados dos angolanos de Cabida ao Cunene (Norte ao Sul), do mar ao Leste, não lhe interessava um partido voltado somente ao povo do norte (mbundo, bakongo, etc), ou ao povo do sul (ovimbundo), ou ainda ao povo do leste (Tchokwe, Kioko), interessava – lhe um amplo Movimento de Libertação Popular de Angola, que fosse responder com rigor a esperança do povo angolano todo, que não se encontrasse encarnado no desejo ávido de tribos que ofuscam o poder popular ao privilegiar de famílias e culturas em detrimento da maioria do povo angolano sofredor. Nesta sorte, a ideologia de Viriato da Cruz sobre a criação de um amplo movimento popular de libertação de Angola, foi verificada viável especialmente no que tange a tentativa de representação das camadas populares da sociedade, esquivando – se das representações de tribos e regiões do País de forma isolada.
Muitos atribuem a Ilídio Machado a origem do MPLA, porém, a verdade é a conformidade entre o intelecto e a realidade, não foi Ilídio Machado quem pensou a necessidade de um Amplo Movimento Popular, foi Viriato da Cruz que pensou tal cenário, não se deve confundir o MINA, nem tão pouco o MPIA com o MPLA, MPLA é na verdade uma organização que nunca existiu na forma activa, permanecia numa forma dormente nos estatutos do PLUA pensados por Viriato da Cruz, na verdade o verdadeiro ideólogo do MPLA não foi Ilídio Machado, foi Viriato Clemente da Cruz.
A incapacidade estrutural de Portugal – colonial era visível à vista de todos, recusando – se de conceder direitos políticos aos nativos ou mesmo a conceder autonomia ou independência à Angola, não é a toa que muitos nacionalistas angolanos têm afirmado que, a independência em Angola foi um parto forçado, implicando dizer que Portugal, nunca se predispôs à colocar Angola independente, embora era forçado pela ONU, Portugal recusava fazer isso, a rentabilidade económica das colónias, deixaria Portugal colocada à cama da teimosia, sem querer largar as províncias do ultramar, facto este que deu lugar à incitação da violência como a única via para a independência do ultramar. Para dar uma justificação lógicas às pressões da ONU, o regime de Salazar introduziu o conceito político e jurídico de Territórios Ultramarinos de Portugal, como uma máscara em torno das suas ligações coloniais com essa área geográfica de natureza ditatorial, pela ironia do destino, a comunidade internacional não reconheceu tal justificação. O regime de Salazar reagiu de forma obstinada impondo todas as forças disparada pela raiva da espingarda contra a liberdade dos angolanos. Os EUA desde o fim da Segunda Guerra Mundial implicaram impor pressões externas exigindo à Portugal para que emancipasse as suas colónias, estes não deram o mínimo ouvido à tal desiderato. Todavia, em 1960, quando uma boa parte das colónias francesas e britânicas em África se torna independente, nada parece ocorrer nos termos de independência nas colónias de Portugal ultramarino.
O ano de 1961 em Angola marca a entrada de Portugal num longo período cinzento marcado por guerras e sangue nos solos de Rainha N”jinga, Ekuikui I, Ekuikui II, Katiavala, Numa, Mutuyakevela, Ndunduma, Muashiava e Mandume.
Como antes se fez expresso, a Casa dos Estudantes do Império (CEI), há muito que abandonara o seu papel de realizável à lápis borracha e caderno implicado no iluminismo da consciência de natureza africana no plano do aprendizado do saber em ciência, este papel, tomou novo rosto, passando à ser enaltecido em nome da busca de caminhos e processos para se libertar da cárcere colonial onde os angolanos se encontravam presos. A CEI acabou por servir de celeiro para a criação de organizações, e grupos com teorias de ideologias anti - coloniais e anti - fascistas, o que fundamentou a formação de uma consciência negra revolucionária, que mais tarde se viria tornar no ponto de partida para uma luta assertiva com o uso da força e do ferro na geografia Angolana, arrastando – se às zonas periféricas e além fora […].
Nos meados dos anos cinquenta do século XX, iniciou – se a criação de movimentos anticoloniais, nesta era, Agostinho Neto, criou em Lisboa o Movimento Democrático das Colónias Portuguesas para coordenar a luta clandestina contra o regime colonial nas províncias do ultramar. Na casa dos estudantes do império Mário Pinto de Andrade, tornou – se no criador do movimento chamado “negritude”. Tratava – se de ser uma corrente literária, cujas implicações tinham no seu âmago fortes relevâncias ideológicas e políticas, que espalharam – se ao longo da África toda, mas que no fundo tinha sido criada pelos descendentes dos escravos das Antilhas francesas. Este movimento tinha em primeira instância a afirmação da dignidade do homem negro, e à manutenção dos princípios que norteiam a identidade cultural da África negra.
A criação de movimentos anti – coloniais em Angola foram o factor conditio cine qua non para o início da luta armada em 1961, esses movimentos permitiram impor o teatro militar em Angola que somente veio conhecer o seu fim em 1974. A natureza ditatorial do regime de Salazar, a visão muito singular do mundo e da história que o seu mentor impôs como referências identitárias e as características da sociedade angolana, fizeram deste conflito um caso à parte no processo global de descolonização.
É na conjugação das características comuns com as particulares que podemos encontrar as respostas para as opções decisivas que ao longo dos anos foram tomadas pelas autoridades portuguesas:
- A opção pela guerra;
- A recusa de uma solução política;
- A persistência aparentemente suicida na acção militar.
No último quartel de 1959 Ilídio Machado e variados membros do MIA acabaram emboscados pela PIDE, sendo – os impostos as algemas para à posterior serem encarcerados em prisão. Muitos dos arguidos saíram – se à salva por se manifestarem arrependidos ao acto que cometeram contra o trono de Salazar, nisso veio uma pena branda à lhes fazer justiça. Tendo o tribunal considerado não haver circunstâncias agravantes, pelo que impôs – se à actos de atenuação da penas aos indivíduos. Restituiu a liberdade à dois presos, e mandou que outros entrassem de imediato no cumprimento das medidas de segurança do internamento.
Ilídio Machado um dos condenados à prisão, antes de ser caçado pela PIDE e posteriormente encarcerado, fez referir junto dos seus coetâneos nacionalistas a necessidade da unificação dos partidos políticos de natureza anti – colonial, para Machado era urgente que todos os partidos anti – coloniais se unissem, seguindo o adágio popular a união faz a força, neste prisma os últimos panfletos à serem publicados evocaram a unidade dos movimentos anti – coloniais como Movimento de Libertação de Angola (MLA) com o Movimento de Libertação Nacional (MLN), dando origem ao Movimento de Libertação Nacional de Angola (MLNA), também conhecido pela designação de MINA (Movimento para a Independência Nacional de Angola), mas esse ainda não era o MPLA que hoje todos conhecemos, pois o MPLA permanecia na fase hipnótica, hibernado nos estatutos do PLUA.
Bem-haja!
João Henrique Rodilson Hungulo