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Domingo, 25 Novembro 2018 23:10

Aperta-se o cerco contra clã dos Santos

José Filomeno dos Santos, filho do antigo presidente, foi detido e está a ser investigado por suspeita de roubo ao Estado em milhares de milhões de dólares. Isabel dos Santos foi afastada de tudo o que podia ser afastada pelo Governo e o novo poder tenta asfixiá-la financeiramente.

Por Daniel Oliveira \ Expresso

E, na entrevista ao Expresso, João Lourenço agitou o crime de traição à pátria na cara do seu antecessor. Abatido e sem tropas, José Eduardo dos Santos reagiu através de uma inédita conferência de imprensa, atacando o ponto fraco do Presidente: a crise económica e social, que poderá matar qualquer tentativa de regeneração do regime. No dia seguinte, no Twitter, Isabel dos Santos mostrou solidariedade com os médicos em greve e com as famílias que conhecem a fome.

A reação geral foi uma gargalhada amarga. Há uns meses, o seu marido, Sindika Dokolo, dizia que a estratégia de ataque à corrupção era “populista”. As vozes que nunca se ouvem quando angolanos desprotegidos são mortos nas Lundas ou jovens opositores são presos por lerem os livros errados falam agora de Estado de direito. Como ironicamente me disse Rafael Marques, se Isabel dos Santos se apresenta como sendo da sociedade civil, a sociedade civil ficou subitamente mais forte. Se os opressores de sempre agora pedem respeito pelos direitos dos cidadãos talvez os cidadãos aprendam a exigir direitos para si.

Em Angola, há uma esperança contida. Ou talvez seja uma resignação suspensa. Há o que há sempre quando regimes doentes tentam mudar por dentro. Os sinais que João Lourenço vai dando são contraditórios. Enfrentou Portugal para proteger Manuel Vicente, um dos mais ávidos comensais no banquete angolano, mas depois afastou-o do Bureau Político. Grande parte dos saqueadores continua no poder mas negociatas como a criação de uma empresa de capitais mistos para voos domésticos, que levaram o antigo ministro dos Transportes para a prisão, foram travadas. O procurador-geral da República denuncia forças de bloqueio dentro da Justiça, mas o seu vice é suspeito de negócios ilícitos e continua no lugar.

Há promessas de aplacar a corrupção, mas, até ver, as ações mais estruturadas contra a ilegalidade foram as operações “Transparência” e “Resgate”, dirigindo a repressão a imigrantes ilegais e vendedores ambulantes. As principais vítimas do regime são as do costume. Mas o Presidente abriu uma caixa de Pandora quando, em pleno Congresso do MPLA, apontou o dedo ao “enriquecimento fácil, ilícito e injustificável, feito à custa do erário público”. E prometeu que o ataque à corrupção seria a sua prioridade. Mesmo que só queira mudar as moscas, deu o passo mais importante. Como se viu com a perestroika, quando os povos acreditam na mudança quem a promete pode facilmente perder o controlo e a mudança acontece mesmo.

A corte de Zedu, com quem Portugal mantinha relações privilegiadas, caiu em desgraça. Na esperança de que nada mude, podemos seguir a estratégia de sempre: procurar novos parceiros para continuar o assalto. Ou talvez sejam os mesmos. Estamos é proibidos de vir com a ‘palopada’ do costume sobre a história que une povos irmãos. Ou podemos ser um fator externo que contribua para uma Angola democrática e de progresso. Os ganhos a curto prazo serão baixos. Mas se correr bem, poderemos ser um dos principais parceiros de uma economia rica em vez dos principais recetores do saque aos pobres.

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