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Segunda, 28 Fevereiro 2022 16:07

Ucrânia: Especialista considera crise “boa notícia” para Angola e revê em alta crescimento do PIB

Um especialista angolano em petróleos reviu hoje em alta o crescimento da economia de Angola, para 3% a 4% este ano, devido à procura em alta do petróleo, agravada pela crise provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

Segundo Flávio Inocêncio, a crise, que resulta da ofensiva militar da Rússia na Ucrânia, para Angola constitui “boas notícias” fruto do aumento exponencial do preço do petróleo, principal produto de exportação do país africano.

“Vamos acompanhar com bastante cuidado a evolução da crise, mas para já para Angola são boas notícias no sentido de que o nosso principal produto de exportação vai ter um aumento exponencial, uma vez que o nosso OGE (Orçamento Geral do Estado) foi elaborado na base de 59 dólares o barril”, afirmou o especialista à Lusa.

Inocêncio admite que a procura mundial pelo petróleo, maior suporte da economia angolana, poderá também se repercutir nos produtos da cesta básica, importados por Angola, “uma vez que já começamos a assistir um aumento das ‘commodities’ agrícolas”.

O consultor em petróleo e gás recordou que a Rússia e a Ucrânia são os maiores produtores mundiais de trigo e outros produtos alimentares e, notou, a não ser que haja uma resolução da crise “o aumento dos preços também vai ter impacto negativo nos produtos agrícolas”.

“Mas, em regra, olhando para o preço do petróleo e para as ‘commodities’ em geral, para Angola teremos um crescimento este ano entre 3% e 4%, vai depender em muito da evolução do preço do petróleo e das respostas a esta crise geopolítica”, frisou.

“Para já, não se sabe para que lado vai pender, mas independentemente de haver uma resolução ou não a tendência era de subida já para este ano, e para Angola são boas notícias”, realçou.

As autoridades angolanas estimam para este ano um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,4%. Angola, segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana, exportou 394,22 milhões de barris de petróleo bruto em 2021.

O preço do barril de petróleo deve atingir os 120 e 130 dólares no entender do especialista.

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de quase 500 mil deslocados para a Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.

Para Flávio Inocência, também docente de Direito de Petróleo e Gás, a crise, originada pela ofensiva russa, elenca vários fatores, nomeadamente a “procura agregada por petróleo já atingiu os níveis pré-pandemia desde 2019”.

“Portanto, já existe uma pressão do lado da procura agregada por petróleo e existe também uma pressão em baixa do lado da oferta, significa que não houve uma capacidade grande e não há como expandir a oferta mundial de petróleo ainda antes desta crise”, afirmou.

“Dizer também que os níveis de ‘stock’ de armazenagem de petróleo estão em baixa, o que significa que a venda de petróleo armazenado nas reservas petrolíferas estratégicas, que a maior parte dos países da OCDE tem, vai ter um efeito muito limitado, no preço do mercado de futuros, o que significa que existe uma escassez de produtos”, assinalou.

A “alta de todas as ‘commodities’” a nível do mundo foi igualmente realçada pelo especialista, referindo que o gás natural “também tem vindo a subir nos últimos meses, exatamente pela procura agregada da eletricidade".

“Uma vez que há uma substituição de centrais naturais por gás a carvão em todo o mundo isso também teve um efeito na procura agregada de petróleo”, sublinhou.

A capacidade da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) para afetar os preços de petróleo “é limitada uma vez que a OPEP terá no máximo dois a três milhões de barris de capacidade extra”.

E isso, observou, “vai ter um efeito muito limitado em 2022, principalmente com as sanções aplicadas à Rússia”.

“Portanto, vimos já, esta segunda-feira, um aumento muito grande do preço do petróleo, neste momento o crude transacionado em Londres anda a cerca de 103 dólares o barril”, acrescentou.

Com mais estas sanções, prevê “que este valor possa ir até aos 120 a 130 dólares por barril” e “há também outros fatores como a capacidade muito limitada do petróleo de xisto americano de se expandir contrariamente a 2014”.

“Estamos também a ver um período de inflação bastante alta que vai começar a aumentar cada vez mais com esta crise ucraniana, porque a Rússia é dos principais exportadores de ‘commodities’ agrícolas e não agrícolas”, apontou.

No entender de Flávio Inocêncio, o atual cenário traduz-se numa “tempestade perfeita para um aumento do preço do petróleo, não aquilo que ocorreu em 2014, que foi o oposto”.

“E, por isso, os mercados estão a reagir em alta, essencialmente para as ‘commodities’, e começamos e ver em todas as bolsas as ações a caírem, a não ser que haja uma resolução rápida deste conflito, nós prevemos que rapidamente o preço vá atingir os 120 ou 130 dólares por barril”, reafirmou o especialista também doutorado em direito.

O ataque da Rússia foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos da América, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.

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