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Sábado, 17 Julho 2021 16:00

Custo de vida em Luanda aumenta 14,2% nos primeiros seis meses do ano

A inflação anual acelerou para 28,7% é necessário recuar até Outubro de 2017 para encontrar um registo tão elevado. Os preços dos alimentos aumentaram 31%, praticamente as pessoas só ganham para comer.

O custo de vida em Luanda aumentou 14,2% nos primeiros seis meses de 2021, o pior registo dos últimos cinco anos, como se pôde depreender dos dados do Índice de Preços no Consumidor Nacional, IPCN, divulgado na passada terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Em termos mensais, a inflação aumentou 2,2% em Junho face a Maio impulsionada pela comida em 2,8%, elevando a inflação acumulada para 14,2%. A inflação anual acelerou 0,7 pp para 28,7%. É necessário recuar até Outubro de 2017 para encontrar um registo tão elevado.

A nível nacional os preços registaram um aumento de 0,02 pontos percentuais (pp) em Junho face a Maio, em termos acumulados os preços aceleraram 12,1%, enquanto a inflação homóloga foi de 25,3%. Os dados apresentados pelo INE revelam que a inflação está fora do controlo.

Depois da capital, a província onde o custo de vida mais subiu, no primeiro semestre, foi a Lunda Sul com 2,3%, seguida pela Huíla com 2,3% e pela Lunda Norte e Zaire ambas com 2,2%.

As províncias que registaram menor variação nos preços foram: Huambo com 1,8%, Cunene com 1,7%, Bié com 1,6%, Kwanza Norte e Cabinda com 1,6% cada.

Das 12 classes que servem de base para o cálculo da inflação nacional, a classe alimentação e bebidas não alcoólicas com 2,6% foi a que registou o maior aumento de preços, segue-se a classe da saúde com 2,1%, bebidas alcoólicas e tabaco com 1,9% e hotéis cafés e restaurantes com 1,8%.

Os preços continuam assim a subir aonde dói mais aos angolanos. Além de liderar a inflação mensal a classe de alimentação e bebidas lidera também a inflação anual. Em termos homólogos em Junho os preços dos alimentos aumentaram 31%, praticamente as pessoas só ganham para comer.

O Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola, BNA, reviu em alta a inflação anual de 2021 de 18,7% para 19,5% meta que o economista Eliseu Vungue defende que não será alcançada porque não há produção nacional, “portanto se não há crescimento económico e não produzimos isso tende a continuarmos a não alcançar as metas”.

“Não há apoio referenciado a algumas empresas para reforçar a produção local, a produção local não satisfaz as necessidades dos consumidores, como consequência o poder de compra é diminuto”.

Assim, disse o economista, o preço dos bens (que já são escassos) tendem a aumentar por falta de produção nacional.

Este facto, avançou, obriga a revisão contínua da evolução da meta da inflação nos próximos tempos por inexistência de um controlo acentuado por parte do BNA, relativamente à inflação”.

Causa das coisas

Ainda para o economista Eliseu Vunge, os preços da alimentação e bebidas não alcoólicas tendem a aumentar por causa das restrições existentes do lado da oferta e pelo facto de Angola ser uma economia importadora, sem oferta de produtos nacional.

Também disse que o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI) não consegue dar respostas à necessidade real da economia para aquilo que era objectivo. Produzir mais para substituir as importações.

“Há burocracia, dificuldades de acesso ao crédito, problemas de escoamento dos produtos para os grandes centros e devido ao mau estado das estradas”.

Tais factos, segundo o economista, contribuem para que os preços dos alimentos e das bebidas continuem altos. “A inflação em Angola não é apenas uma questão conjuntural é também estrutural”.

O economista António Estote disse, num debate na TV Zimbo, que o aumento de preços não é uma questão de política monetária e de aumento da massa monetária, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Nacional de Angola (BNA) defendem, é uma questão da oferta de bens e serviços.

Desta forma, por mais que o BNA tente controlar a inflação por meio dos seus instrumentos não vai conseguir.

“Acreditamos que pode haver uma conciliação entre a política orçamental e a política monetária. A política monetária vai primar pela estabilidade cambial e medidas que visem o fomento de crédito a produção, bem como o investimento gerador de insumos transversais”, disse.

Elizeu Vunge é contra a medida do BNA, relativamente ao aumento da taxa básica de juro, de 15,5% para 20% por ser desajustada ao momento actual, embora tecnicamente possa estar correcta.

“Os créditos concedidos pelos bancos serão mais caros e as empresas que vão obter estes empréstimos aos bancos venderão os produtos a preços altos. Aliás, o crédito aos particulares também será caro”, afirmou Elizeu Vunge.

O economista em causa disse ainda que o quadro se vai alterar quando o Estado reforçar o apoio às pequenas e médias empresas para que possam produzir e fazer um sentido inverso daquilo que é a tendência hoje.

“As reformas estão a ser feitas, mas é preciso serem mais estruturais, essencialmente para que posamos atingir os objectivos”, declarou. MERCADO

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