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Segunda, 01 Fevereiro 2021 11:21

Encerramento de fronteiras retira “kinguilas” das artérias de Luanda

Sem as pressões das autoridades para o abandono da actividade ilegal, as “kinguilas” da capital vêem na baixa procura pelas divisas um novo obstáculo para manter a renda familiar

Desde que o Governo angolano suspendeu as ligações aéreas com a África do Sul, Austrália, Nigéria e Reino Unido, no dia 26 do mês passado, para prevenir o país da nova variante da Covid-19, a queda da procura pelas divisas, em Luanda, tem afastado diversas pessoas do negócio de “kinguila”.

Este mercado informal, que há décadas serve de sustento para inúmeras famílias angolanas, viu desvalorizar o seu principal produto de transação, pois os fornecedores e compradores estão impedidos de viajar para o exterior do país.

Entretanto, a actividade não obedece ao plasmado no artigo 7.° (Intermediação obrigatória), da Lei n.° 5/97, de 27 de Junho, Lei Cambial, segundo a qual “as operações cambiais só podem ser realizadas por intermédio de uma instituição financeira autorizada a exercer o comércio de câmbios”.

O bairro Mártires do Kifangondo, nas imediações do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, é dos principais palcos para troca de divisas em Luanda. Esta antiga “casa de câmbio” acolhe, maioritariamente, cidadãos estrangeiros que se dissimulam no comércio de bens diversos para realizar a compra e venda de divisas.

Em locais arrumados de forma estratégica e clandestina, muitas vezes em infra-estruturas ocupadas com cantinas, pequenos restaurantes e botequins, são feitas as trocas monetárias quase que aos olhos das autoridades, que no ano passado realizaram uma operação para apreender valores e prender pessoas envolvidas nesta prática.

Actualmente, a compra da nota de 100 dólares naquele mercado está avaliada em 75 mil Kwanzas, menos mil do que o preço da venda. À sua semelhança está o da Mutamba, um pouco mais lucrativo que o Sambizanga, mais concretamente no São Paulo, onde a venda está a ser praticada em 74 mil Kwanzas e 73 mil a compra.

Menos “kinguilas” nas ruas

Esta situação, de acordo com alguns praticantes ouvidos por este Jornal, difere do cenário vivido até Dezembro de 2020, altura em que Angola encerrou as fronteiras aéreas, marítimas e terrestres com alguns países, como estratégia para se prevenir da mais recente vaga do coronavírus SARS-CoV-2, que está a afectar fortemente o continente Europeu, tendo sido já registado em alguns países do continente berço, como a África do Sul.

Com isso, explicam os interlocutores, preferindo o anonimato, diminuiu a procura pelas divisas, tal como alguns fornecedores viram diminuídas as possibilidades para consegui-las. Desta forma, continuam, a moeda estrangeira ficou mais desvalorizada em relação aos meses passados, quando as trocas eram constantes.

“Até Dezembro do ano passado, podíamos trocar, em média, cerca de mil dólares por semana. O negócio ainda era rentável”, lembrou uma kinguila em exercício na Baixa de Luanda, que, até ao momento da nossa intervenção, dizia não ter recebido nenhum cliente.

Estão, por isso, muitos estão a abandonar o negócio, devido à brusca diminuição da sua rentabilidade. Este cenário é visível tanto na extensão da propalada rua 15 do Mártires do Kifangondo, ainda com um registo considerável de “reincidentes”, como na Mutamba, São Paulo, Cazenga e Talatona.

A escolha por outras opções de negócio, segundo apuramos, vai deixando “às moscas” algumas artérias da metrópole que registavam muitos operadores no mercado informal da troca de divisas, os conhecidos doleiros ou kinguilas. “Não há compradores nem vendedores. As pessoas não estão a viajar e este facto leva a diminuição da procura pelo dólar. Ficamos vários dias sem fazer qualquer troca, por isso muitas pessoas estão a desistir deste negócio. Não está mesmo fácil”, deplorou uma fonte. OPAIS

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