Do outro, surgiu um desmentido categórico do ex-oficial da CIA, Dale Bendler, que nega qualquer ligação pessoal ou comercial com Higino Carneiro e acusa a própria TPA de ter veiculado uma notícia falsa.
No meio deste fogo cruzado, fica a pergunta: afinal, quem fala a verdade?
O que dizem os papéis
Nos e-mails partilhados nas redes sociais, assinados por Sandra Bendler, pode ler-se: “O nosso ponto de contacto (POC) em Angola é o general reformado Higino Carneiro, que está a considerar candidatar-se à presidência em 2026.”
E ainda: “Temos estado em contacto com o General a respeito das suas concessões que possuem (ou possam vir a possuir) as seguintes terras raras: Neodímio, Praseodímio, Samário, Disprósio, Ítrio e Térbio.”
Não é mexerico de esquina: é correspondência formal, com minerais estratégicos e honorários mensais de 24.750 dólares. Valor que, em Angola, chega para pagar salários de um batalhão de professores — mas parece mais interessante engordar “consultorias discretas”.
O que diz o comunicado
Dale Bendler reagiu assim em comunicado: “Nunca conheci, nunca mantive qualquer relação pessoal ou comercial, nem realizei transacções financeiras com o general Higino Carneiro.”
E acusou a TPA: “Repudio de forma veemente a postura da Televisão Pública de Angola (TPA) pela veiculação de uma notícia falsa, irresponsável e desprovida de qualquer verificação jornalística mínima.”
Um desmentido arrumadinho, mas divulgado nas redes e não enviado à TPA. É como jurar inocência no mercado de bairro, mas evitar passar pelo tribunal.
O silêncio e a táctica
Tanto Bendler como HC parecem seguir o mesmo guião: comunicados e redes sociais, sim; explicações públicas em conferências de imprensa com perguntas incómodas, nunca. Granda táctica!
E fica a interrogação:
Se a TPA mente, por que razão não lhe exigem direito de resposta em antena?
Se os documentos são falsos, por que não os contestam judicialmente?
Se são verdadeiros, por que continuam a preferir a vitimização digital em vez da explicação institucional?
Enquanto isso, os cidadãos ficam a assistir a esta novela mal escrita, com episódios diários de “neguei ontem, nego hoje e nego amanhã”.
A fuga para a frente
Uma fonte chegou a confidenciar-me que HC pode arrastar a TPA para tribunal. Mas todos sabem que, caso avance, o processo não teria uma decisão final, transitada em julgado, antes do IX Congresso Ordinário do MPLA, em 2026.
O truque é simples: transforma-se suspeita em bandeira política, veste-se a pele de vítima e ganha-se tempo. Lindo!
É a velha táctica da fuga para a frente: fugir às explicações de hoje para tentar colher votos amanhã. Uma espécie de “Justiça à la carte”: lenta para os tribunais, rápida para as redes.
O dever da TPA e a vigilância da ERCA
Se a TPA quer ser levada a sério como órgão público, precisa de aplicar o mesmo rigor investigativo a todos os candidatos à liderança do MPLA — incluindo João Lourenço, caso se recandidate. Só assim mostrará que não é instrumento de facções, mas serviço público.
Já a ERCA, sempre tão pronta a criticar órgãos privados quando beliscam o ego de ministros, parece viver num retiro espiritual quando se trata de exigir imparcialidade à TPA. A parcialidade, quando é estatal, parece não incomodar tanto.
Jesus contou a parábola do homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha, e do insensato que a construiu sobre a areia:
“Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; e ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Mas a que estava sobre a areia desabou, e foi grande a sua queda” (Mateus 7:25-27).
A comunicação social sem imparcialidade é casa sobre areia. O político que foge às perguntas também. Ambos podem aguentar um tempo, mas a tempestade da verdade derruba-os inevitavelmente.
Perguntas que ficam
Os documentos são autênticos ou fabricados?
Se falsos, como se justificam assinaturas e detalhes tão concretos?
Se verdadeiros, que papel desempenha HC nos negócios de terras raras?
Por que razão Bendler e HC se escondem atrás de comunicados em vez de dar a cara?
A TPA vai continuar a ser instrumento político ou tratará todos os candidatos de igual modo?
E a ERCA vai continuar a dormir ou vai finalmente cumprir a sua função de guardiã da imparcialidade?
A lição que fica
Entre papéis que falam e comunicados que apenas negam, falta transparência. A TPA deve servir o público e não projectos de facção.
A ERCA deve deixar a hibernação e assumir a sua missão reguladora. E os políticos, se querem credibilidade, devem responder de frente, com documentos, provas e coragem — não com posts chorosos nas redes sociais.
Porque negar sem explicar é apenas fingir que a casa de areia resistirá à tempestade. Mas a Bíblia já nos deu o spoiler: a queda é sempre grande.
Por Carlos Alberto *Jornalista
Imparcial Press