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Sexta, 20 Janeiro 2023 19:28

Mexidas à vista na UNITA agitam corredores do MPLA

Fontes do BP dos "camaradas" confirmaram ao NJ que o partido segue com atenção as estratégias da direcção da UNITA, que alegadamente empurra Nelito Ekukui para "capitanear" a JURA, o seu braço juvenil, e adivinham, em face disso, "mexidas" nas estruturas da agremiação juvenil do MPLA, a JMPLA, com vista a equilibrar o combate político que pode resultar de uma possível eleição de Ekuikui na JURA. Eventual vinda de Adriano Sapiñala para Luanda é outra preocupação não menos importante.

Cérebros do MPLA, partido que há muito vem dando mostras de ser uma organização política "avisada", ponderam impelir a direcção a proceder a alterações na composição dos "camaradas" em Luanda, bem como na JMPLA, visando fazer face às mexidas que se avizinham na UNITA.

A intenção desses "gurus" dos camaradas, atentos à filosofia segundo a qual as disputas políticas são travadas muito para lá do período eleitoral, já vem sendo discutida em surdina, fazendo fé nas nossas fontes junto do Bureau Político (BP) do MPLA, e resulta do facto de a UNITA, como noticiou em exclusivo o NJ nas últimas duas edições, 768 e 767, ter como estratégia colocar o jovem político Nelito Ekuikui, que actualmente ocupa o cargo de secretário provincial em Luanda, à frente da sua organização juvenil, a Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), para além de se cogitar a vinda para Luanda de Adriano Sapiñala, a fim de ocupar a vacatura que poderá ser deixada na capital.

O NJ sabe que foram os resultados eleitorais de 24 de Agosto do ano passado, do círculo provincial de Luanda, que levaram os camaradas a substituir o "animal político" Bento Bento por Manuel Homem, esse último que se tornou num homem de confiança do líder do partido e Presidente da República, João Lourenço.

Manuel Homem recebeu instruções precisas de como agir, com vista a contrariar a popularidade que Nelito Ekuikui, de apenas 31 anos, galvanizou para a UNITA. Entretanto, a saída de Ekuikui da capital e a sua substituição por Adriano Sapiñala, um "agitador" de massas, altera a estratégia dos "camaradas", criada a propósito, confirmam as fontes.

Juventude Inquieta - Armindo Laureano

Três anos depois da sua eleição para o cargo de primeiro secretário nacional da JMPLA, certo é que Crispiniano dos Santos ainda não deu maior dinâmica, força e estatuto à organização juvenil do MPLA. Apesar de ter sido eleito com todo o apoio e legitimidade (com 71,7% dos votos), em Outubro de 2019, vamos vendo um líder desprovido de carisma, de capacidade e autoridade política.

A UNITA movimenta Nelito Ekuikui para a liderança da JURA e isto preocupa a liderança do MPLA, tudo porque percebe que, apesar da legitimidade que tem, Crispiniano não está preparado para um combate político com o seu futuro maior opositor. O MPLA percebeu a jogada do adversário e prepara uma resposta à altura. As coisas nos lados das principais lideranças juvenis andam muito inquietas.

"Diálogo abrangente" para identificar os principais problemas da juventude foi o que Crispiniano dos Santos prometeu após ter sido declarado vencedor do VIII Congresso Ordinário da JMPLA. Os 295 delegados ao congresso deram-lhe uma vitória histórica, num congresso também histórico, porque apresentava dois candidatos ao cargo máximo da estrutura juvenil do MPLA. Crispiniano era o candidato dos militantes e o seu adversário, Domingos Betico, era o escolhido das lideranças do Partido. Venceu a força, a voz e a vontade dos militantes. O visível é que a montanha pariu um rato e a JMPLA perdeu força na todo-poderosa máquina política do MPLA.

A campanha eleitoral foi um exemplo disso, em que se viu o candidato João Lourenço como que a remar sozinho contra a maré e não se sentiu nem se viu a tal "força motriz" da juventude partidária a dar-lhe suporte. Facilmente deu-se conta de que existe falta de estratégia, planificação e cálculo político e há esgotamento em termos de ideias e, também, falta de apoio, cooperação e solidariedade de certas lideranças.

Os resultados eleitorais reflectem muito desta fragilidade de uma JMPLA que internamente tem dificuldades de mobilizar os seus militantes e mais dificuldades ainda de captar votos ou simpatias das diferentes franjas da juventude. É importante perceber que o próprio Presidente João Lourenço, no discurso de vitória que fez na sede do MPLA, destaca a necessidade de se aproximar e dialogar mais com a juventude.

É preciso perceber a força e a importância da JMPLA nesta equação e o papel do seu primeiro secretário nacional. Basta olhar e ver que o anterior (Boavida Neto) e o actual secretário-geral do MPLA (Paulo Pombolo) foram antecessores de Crispiniano na organização e que os três últimos líderes da JMPLA (Boavida Neto, Paulo Pombolo e Luther Rescova) foram governadores provinciais. Se recuarmos um pouco mais, vamos chegar aos tempos de Bornito de Sousa e Ângela Bragança.

Na organização, Crispiniano tem mandato até 2024 e é importante mexer-se e pressionar as lideranças para que tenha mais espaço e influência, pois o peso e a comparação aos seus antecessores não lhe deixam muito confortável. Certamente mais desconforto deve causar-lhe a ideia de que existem correntes no MPLA que entendem que ele não está "política e ideologicamente" preparado para o combate com Nelito Ekuikui e que nomes como o de Domingos Betico voltem a ser sondados e a entrar nas contas.

Do lado da UNITA, as coisas não estão tão pacíficas quanto aparentam. ACJ, Lukamba Gato e Numa perceberam que é ao nível da juventude que se decidem eleições e que o resultado de Nelito Ekuikui em Luanda foi por causa da sua penetração no seio dos jovens, do discurso mobilizador e apelativo que permitiu captar votos até mesmo de jovens fora da sua esfera partidária. Depois de vencer Luanda, era preciso dar-lhe um novo desafio, uma nova motivação em termos políticos. Os problemas da JURA não são muito diferentes dos da JMPLA e resumem-se mesmo em termos de lideranças fortes e dinâmicas, com visão e estratégia, com discursos apelativos capazes de captar votos muito mais além da esfera dos seus partidos.

Aquilo que se viveu na JMPLA em 2019 pode ocorrer agora em Março de 2023 com a JURA no seu congresso: ter uma candidatura imposta pela liderança do partido e outra que resulte da vontade dos militantes da organização. Mas aqui com a diferença de que, se Nelito Ekuikui vencer, terá total apoio da direcção da UNITA, com o objectivo de unir a estrutura em torno das estratégias do partido e acima de tudo atrair votos de fora do partido, pegar nos jovens indecisos e sem ligação às máquinas partidárias.

Existe alguma contestação interna à indicação de Nelito Ekuikui e parte dela vem do "clã Savimbi" e é lógico que os adversários estão atentos para aproveitar estas discordâncias e fragilizar a sua candidatura. Nelito Ekuikui para a liderança da JURA é tudo que o MPLA não deseja nesta fase e que lhe vai obrigar a sacrifícios, até de algumas pessoas, para estar à altura da jogada feita pela UNITA. Realmente, há uma juventude muito inquieta e a tirar o sono aos kotas. A próxima cartada da UNITA será na sua estrutura feminina e aí poderá obrigar o MPLA a acelerar a pedalada. Novo Jornal

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