Falando sob anonimato, a fonte disse que os efectivos da investigação criminal suspeitos usaram a farda e os meios da Polícia Nacional já não pertencem aos quadros do Comando-Geral.
"É muito complicado tudo isso, está a confundir a população. O jovem morreu na cadeia. A responsabilidade não é da Polícia Nacional, mas sim do Serviço de Investigação Criminal e do ministro do Interior, porque é ele que directamente chefia a investigação criminal", atirou.
Para "aclarar" os factos, o interlocutor explicou que "não são os agentes da polícia que fazem as investigações", e vê com "tristeza" as declarações segundo as quais "a Polícia matou".
No entender da fonte, a transição da investigação criminal para a tutela do ministro do Interior foi precipitada, por não terem sido medidas as consequências e não se terem criadas condições necessárias para tal.
"Acho que foi uma precipitação e, desde o início, há vozes que se levantaram a chamar a atenção para os embaraços que essa mudança iria trazer.
Os agentes da polícia não investigam e não têm contacto directo com o preso, então não é possível os agentes torturarem-no", frisou.
O crime ocorreu no dia 31 de Agosto na 8.ª Esquadra, no distrito Urbano do Rangel.
José Padrão Loureiro foi a enterrar no domingo da semana passada, e a família pedia justiça. A irmã da vítima, Eurídice Padrão Morais de Brito, que também é médica, ficou chocada com o estado em que encontrou o corpo do irmão.
"O que me chocou foi a forma como torturaram o José, custa-me muito ver assim o meu irmão. A médica legista que realizou a autópsia também ficou chocada e disse que nunca viu coisa igual."
De acordo com a irmã da vítima, José tinha três fracturas no crânio, o corpo todo machucado, os braços partidos e as coxas pareciam queimadas.
No certificado de óbito pode ler-se que a causa da morte de José Padrão Loureiro foi um "trauma cranioencefálico total e [trauma do] abdómen", sublinhando-se que estes traumas resultaram de "agressões com objecto contundente".
Segundo Eurídice de Brito, a Polícia levou o corpo para a morgue do Hospital Josina Machel, tendo registado no boletim de ocorrência que José Padrão Loureiro "Zeca" tivera "morte súbita na via pública", limitando-se a Polícia a recolher o cadáver. Na morgue, o cadáver foi colocado na Câmara 5, reservada aos corpos não reclamados ou por identificar.
A mãe, Maria Padrão, disse que tomou conhecimento na 8.ª esquadra de que o filho era um indivíduo altamente perigoso e que fazia parte de um grupo de assaltantes que roubavam viaturas na Via Expresso. "O meu filho nunca foi para a cadeia, um indivíduo altamente perigoso já pelo menos uma ou duas vezes teria estado na cadeia e é por isso que não acredito que fosse bandido ", disse.
"Eu só quero justiça. Um carro compra-se. A vida do meu filho não se compra. Eu posso comprar um carro, mas não um filho. Eu só quero justiça", pede a mãe.
Há dois meses, Leoneldo Júlio Kabea, 28 anos, também morreu numa esquadra no bairro Cassequel e os familiares também acusaram investigadores de serem os autores do crime. Na altura, o porta-voz da Polícia disse que também se tinha aberto um inquérito e os familiares da vítima dizem não terem resultados do mesmo.
NJ