Em declarações à agência Lusa, em Luanda, Rafael Marques explicou que a recusa ao pedido de visto que apresentou na embaixada do Canadá na África do Sul foi comunicada nos últimos dias e justificada com a sua condição financeira.
"A carta que eu recebo diz que não satisfaço os requisitos para visitar o Canadá, porque não tenho propriedades, ou seja porque sou pobre. Como é que eles esperam que um ativista que combate a corrupção tenha propriedades", questionou, indignado, Rafael Marques.
"Não tenho vergonha em dizer que não tenho propriedades", afirmou ainda o jornalista, que está a ser julgado no Tribunal Provincial de Luanda por crimes de injúria e ultraje a um órgão de soberania, na sequência de uma queixa apresentada em 2017 pelo então procurador-geral da República angolano, João Maria de Sousa, devido a uma notícia que Rafael Marques publicou no portal Maka Angola.
De acordo com Rafael Marques, de 46 anos, mestre em Estudos Africanos pela Universidade de Oxford e formado em Antropologia e Jornalismo na Goldsmiths, Universidade de Londres, o propósito desta viagem ao Canadá, que deveria acontecer em junho deste ano, era o de visitar o filho, de 16 anos, que se encontra atualmente a viver com a mãe, cidadã canadiana.
"Ele nasceu aqui no tempo da guerra, cresceu em Luanda. Só que agora está no Canadá a preparar-se para a universidade. Esta é uma decisão de um Estado soberano, que me vai obrigar a ir ver o meu filho a outro país", lamentou.
De acordo com o ativista e jornalista angolano, só a intervenção de elementos do Ministério dos Negócios Estrangeiros da África do Sul - embaixada local garante a emissão de vistos para Angola - permitiu, em 2015, obter visto para viajar para o Canadá, para receber o Prémio Allard para a Integridade Internacional, destacando, na altura, a sua "excecional coragem e liderança no combate à corrupção".
O galardão, instituído em 2013, é atribuído pela faculdade de direito da University of British Columbia, no Canadá. O prémio de 100 mil dólares, partilhado naquele ano entre Rafael Marques e o ativista queniano John Githongo, é tido como um dos maiores na área de combate à corrupção e promoção dos direitos humanos.
"Por todo os países por onde já passei, nunca pedi asilo em lado nenhum", crítica, recordando que em 2015 permaneceu menos de 10 dias no Canadá.