O que diz a oposição?
O sentimento generalizado é que a oposição está a ficar sem espaço político para respirar. O Novo Jornal foi perguntar à UNITA, à CASA-CE, ao PRS e à FNLA o que pensam sobre isto. E não poupam avisos ao Chefe de Estado.
Nos últimos dias circulam comentários nos restaurantes, autocarros, redes sociais, locais de trabalho, nos bairros e em todo o país, sobre o espaço que o Presidente João Lourença está a ocupar devido às suas iniciativas políticas, deixando a oposição parlamentar sem capacidade de resposta, mas assim não entende a UNITA, com o seu porta-voz a sublinhar que o novo Presidente ainda beneficia dos tradicionais 100 dias de estado de graça.
Alcides Sakala lembra que cada partido tem a sua estratégia e que a UNITA não está nem parada nem sem iniciativa política, apenas a dar o benefício da dúvida ao novo Presidente, tal como parece ser o caso da maioria da população angolana, mas não deixa de avisar que brevemente terão de surgir concretizações e resultados palpáveis.
"Ainda estamos dentro dos 100 dias (de estado de graça) e depois vamos ver como é que as coisas vão funcionar", disse Sakala, adicionando, contudo, que o maior partido da oposição não deixa de "dar o benefício da dúvida" ao Presidente da República nestes primeiros dois meses de governação.
Para o vice-presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, as remodelações em curso a nível do executivo são um processo habitual, mas espera a concretização das promessas feitas durante a campanha eleitoral por João Lourenço.
"A oposição não está calada. Estamos a acompanhar como é que o processo se vai desenrolar futuramente", acrescentou Manuel Fernandes, que espera ver na governação de João Lourenço a concretização da promessa de transmissão das sessões parlamentares na Rádio e Televisão, em directo.
O Presidente do PRS, Benedito Daniel, disse ser prematuro avaliar o trabalho que o novo Presidente da República está a desenvolver.
"O tempo é mestre", resumiu Benedito Daniel, alegando que a oposição não está quieta mas acompanha "a par e passo esses primeiros dois meses".
Na opinião do membro da FNLA, António Kiala Paulo, ainda é cedo para dirigir críticas à governação de João Lourenço, visto que as suas acções ainda estão sintetizadas nas mudanças de caras à frente das empresas e organismos estatais.
"João Lourenço vai enfrentar vários problemas. Por exemplo, a reconciliação nacional em Angola ainda não é uma realidade, a corrupção que afecta todas as instituições do país é um outro problema. Na resolução destes problemas, aí a oposição vai aparecer", notou.
O activista dos direitos humanos das associação OMUNGA, Ramos Kiambi, está de acordo com a oposição acentuando que os partidos vão começar a agir depois da aprovação do Orçamento Geral do Estado 2017-2018.
"Com a aprovação do OGE, João Lourenço começa a trabalhar seriamente. Neste momento ainda só está a mexer no seu executivo e nas ramificações do Estado", salientou.
Segundo ele, um dos problemas que vai aquecer a administração de João Lourenço é a Agenda Nacional de Consenso, um instrumento de harmonia, unidade e para a melhoria da vida dos angolanos, que nunca alcançou resultados palpáveis.
"O processo da reconciliação nacional e tolerância desde o fim da guerra em Angola em 2002, ainda não tem impacto entre os angolanos. Espero que o novo Presidente preste maior atenção a este assunto tão indispensável", recomendou.
O novo Presidente de Angola já mexeu em praticamente todas as administrações legadas pelo ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
A exoneração mais simbólica foi a de Isabel dos Santos, da administração da petrolífera Sonangol.
Esta exoneração, segundo o analista político, Domingos Januário Henda, foi saudada pela oposição que sempre contestou a filha do ex-presidente neste cargo.
"É dai que toda a gente diz que até a oposição está com João Lourenço. Não, ela (oposição) já estava saturada com o nepotismo que se verificou na era José Eduardo dos Santos", argumentou.
A primeira contestação a Lourenço
Desde que foi empossado como Presidente da República, só a coligação CASA-CE criticou o actual Presidente da República por ter violado a Lei sobre mandatos das chefias dos sectores de segurança.
Lindo Bernardo Tito, porta-voz da CASA-CE, disse que "independentemente das circunstâncias" da aprovação dessa lei, o Presidente João Lourenço deveria respeitá-la "porque só isso dá sinais de que estamos num Estado de Direito".
"Esta lei foi aprovada pela maioria parlamentar que continua a ser a mesma do MPLA, partido que inclui o actual Presidente da República como vice-presidente e lembro-me perfeitamente que ele era então ministro da Defesa e devia ter evitado que esta lei fosse aprovada naquela altura", disse o porta-voz da CASA-CE.
"Depois de ser aprovada, é óbvio que deve haver respeito pela lei pelo que se o Presidente da República faz exonerações, não respeitando o mandato, está a violar a lei", acrescentou.
Reagindo as declarações de Lindo Tito na altura, Alcides Sakala, porta-voz da UNITA justificou que, estas exonerações não violam a lei e é uma competência constitucional a exoneração das chefias militares.
"Está a começar uma nova etapa e enquanto Chefe de Estado tem esta legitimidade, para nós é normal", disse.
João Pinto deputado do MPLA corroborou que a lei das chefias militar, aprovada em Julho último, prevê as condições das exonerações e é competência do actual Presidente da República efectuar as respectivas exonerações. (NJ)