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Sábado, 04 Novembro 2017 08:02

Duelo entre Isabel dos Santos e Joaquim David

A FCKS – Fábrica de Cimento do Kwanza-Sul, SA. é uma empresa fundada a 25 de Abril de 2003 na cidade do Sumbe, província do Kwanza-Sul. Tem sede oficial em Luanda, no município de Belas, Avenida Pedro de Castro Van Dúnem Loy n.º 15, e o seu objecto social é o fabrico de cimento.

Por Mario Cumandala

Apesar de ser uma iniciativa privada, a FCKS foi erguida com fundos de US$ 731,1 milhões de dólares emprestados pela Sonangol. Até hoje, a empresa não devolveu nem um dólar. Assim, será que a Fábrica pertence à Sonangol? Joaquim David, deputado do MPLA e antigo ministro da Indústria, apesar de ostentar o título de presidente e de ter gabinete montado no edifício administrativo, alega que é detentor de apenas 20 por cento da empresa. Um outro sócio é o ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos. Estes foram os únicos dois accionistas que compareceram à assembleia-geral de Julho de 2014, a que tive o desprazer de assistir.

A actual presidente do conselho de administração da FCKS é a engenheira Emanuela Vieira Lopes, antiga ministra da Energia e da Água que a dado momento o presidente da República teve de exonerar, devido à sua enorme incompetência e ao constante nepotismo. O administrador técnico é um namibiano, dono da empresa que durante a construção da Fábrica fiscalizou a obra e facturou cerca de US$ 20 milhões. Hoje, é ele quem verdadeiramente manda na empresa, pois Emanuela nada entende de cimento nem de gestão de projectos.

A todo-poderosa filha de Joaquim David é a administradora financeira que durante os tempos da importação do cimento formou a Flash Lda. com cerca de US$ 3 milhões da FCKS, que nunca pagou.

O antigo presidente do conselho de administração da FCKS, “general Sassa”, conseguiu, durante o seu consulado, desviar US$ 150 milhões para seu bel-prazer. Assim, conforme ficámos a saber na Tanzânia em 2014, numa conferência regional sobre o cimento a que eu e um dos administradores assistimos, o custo total do projecto da FCKS daria para construir duas fábricas na Nigéria ou na Tanzânia. Mas em Angola, como é hábito, a corrupção encareceu o projecto a tal ponto, que hoje o break even da fábrica não permite a venda de menos de 150 camiões por dia. Tudo isto porque o capital inicial pertencia a todos os cidadãos angolanos, e os sócios não tinham nada a perder.

Aquando do desenvolvimento do projecto, a administração de Joaquim David deixou claro que era contra as “orientações superiores” que sugeriam a cedência (oferta) de participações do negócio à empresária Isabel dos Santos. Eis o erro fatal, ainda que revolucionário, de Joaquim David, e que está no âmago dos problemas actuais da FCKS. Passo a explicar.

Em 2014, na qualidade de director comercial, desloquei-me a Kinshasa na companhia de um dos administradores da FCKS, para firmar um contrato de agenciamento com o nosso novo agente local. Conforme nos contou este agente — ex-ministro da Defesa do governo de Kabila Pai — numa das suas viagens a Angola, o presidente José Eduardo dos Santos mandou-o transmitir a seguinte mensagem: “Diz ao presidente Kabila para não afastar os mobutistas do seu governo; é verdade que eles saquearam o país, mas diga-lhe que eu aqui tenho o mesmo problema; o ladrão número um do meu governo, o Joaquim David, ainda o mantenho no governo.” Mudou alguma coisa de então para cá? Claro que não.

Quem conhece as origens de Joaquim David sabe que ele ensinou José Eduardo dos Santos a roubar, bem nos primórdios dos anos 80, instruindo-o para que nunca fechasse um contrato de partilha, com nenhuma petrolífera internacional, antes de garantir para si um dólar por cada barril exportado.

Foi assim que o nosso Zedu, que naquele tempo parecia inocente, contraiu o vírus da corrupção. Hoje, isto traduz-se em mais de um milhão de dólares por dia directos para a conta do presidente todo-poderoso.

O azar da FCKS reside no facto de Isabel dos Santos ter analisado clinicamente o passivo da FCKS acima referido, identificando um nicho do mercado de cimento angolano para a Cimangola, pondo a FCKS fora do caminho. Possuída pelo demónio da inveja, ordenou o cancelamento da venda de óleo combustível à FCKS, sem o qual não há produção de clinker nem de cimento. Estamos perante um crime económico.

Na longa lista de perdedores ficam o País, os mais de mil trabalhadores da Fábrica, entre os quais os meus colaboradores da direcção comercial, a comunidade de Cuacra, o Sumbe, etc.

Em 2014, o presidente José Eduardo dos Santos recusou-se à última hora a inaugurar esta Fábrica, informando o governador Teixeira de Brito de que não compareceria e ordenando-lhe que cessasse o apoio à FCKS.

Até hoje, este é o maior empreendimento de Angola, acima da Biocon em termos de investimento em capital, mas nunca foi inaugurado pelo Executivo. Alguém consegue explicar porquê?

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