Isaías Samakuva discursava hoje na abertura da III reunião da Comissão Permanente da União Nacional para a Independência de Angola (UNITA), maior partido da oposição angolana, que encerra no sábado.
Na sua intervenção, o líder da UNITA reconheceu ainda que, apesar de João Lourenço "ter sido eleito pela CNE (Comissão Nacional Eleitoral) a mando do partido Estado, tem se comportado até aqui como Presidente de uma República e não como presidente imposto por uma oligarquia, que sequestrou o partido Estado".
O dirigente político disse ainda que agora os angolanos esperam que o chefe de Estado angolano "passe da teoria à prática".
Segundo Isaías Samakuva, por vários anos, a UNITA foi denunciando as práticas de corrupção que o país enfrenta, contribuindo para a formação da opinião pública e da consciência nacional e política, rumo à mudança.
Hoje, de acordo com Samakuva, "os angolanos estão a testemunhar, pela primeira vez, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder) a fazer meia culpa e vir reconhecer, finalmente, que foi ele quem instituiu a corrupção em Angola".
"Afinal, a UNITA tinha razão quando dizia que o Estado angolano dirigido pelo MPLA funda-se na corrupção, vive na corrupção e promove a corrupção. Mais vale tarde do que nunca", disse.
João Lourenço, que discursava, quarta-feira, na qualidade de vice-Presidente do MPLA, no encerramento de um seminário cujos debates giraram à volta do tema da corrupção, afirmou que o seu partido, como órgão colegial, assume coletivamente a responsabilidade do que se passou e que se deveu à "inação" do partido e de cujas consequências "está hoje o país a pagar".
No seu discurso, Isaías Samakuva recorda que antes das eleições de 23 de agosto deste ano, "a grande maioria dos angolanos tinha decidido mudar o rumo do país", sentimento que foi percebido pelo MPLA, "que, para sobreviver, não teve outra alternativa senão abraçar o sentimento nacional de mudança"
Isaías Samakuva disse ainda que estão enganadas as pessoas que dizem hoje "erradamente" que o Presidente deixou a oposição sem discurso, porque é João Lourenço "que vem ao encontro dos anseios do povo por mudança".
"E é assim que deve ser. Se o Presidente adota como agenda do Estado a agenda do povo, então concretiza-se a democracia, porque a democracia significa governo do povo, pelo povo e para o povo", encorajou.
De acordo com o dirigente da UNITA, os angolanos esperam que o Presidente angolano atue e que o líder do MPLA instrua a sua bancada parlamentar para solicitar ao Tribunal Constitucional a anulação do acórdão que impede o parlamento de fiscalizar o executivo, que o partido no poder viabilize na Assembleia Nacional "os sucessivos pedidos da UNITA para a constituição de comissões parlamentares de inquérito para fiscalizar os atos do executivo".
Para o maior partido da oposição angolana, os atos do chefe de Estado angolano devem igualmente refletir na apresentação ao país do relatório, que terá recebido do seu antecessor, o ex-Presidente José Eduardo dos Santos, sobre o estado das finanças públicas, "em particular a indicação expressa sobre onde estão os cerca de 130 mil milhões de dólares que o parlamento colocou sob sua guarda entre 2011 e 2014".
O referido montante representa reservas especiais criadas fora do Orçamento Geral do Estado, com base no diferencial entre o preço real do barril de petróleo vendido e o preço utilizado nos cálculos do orçamento geral do Estado (OGE) e registado nas contas do Estado.
A UNITA reclama que naquela altura o ex-Presidente escreveu nas propostas de leis que aprovaram os OGE que o parlamento colocava as reservas criadas sob sua exclusiva gestão, mas na prestação de contas "não evidenciou com igual destaque o destino dado a tão avultadas somas".