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Quarta, 25 Outubro 2017 16:21

Obesidade, alimentação e outras causas de infertilidade

Há vários motivos para a infertilidade feminina e masculina. A obesidade e o tipo de alimentação podem determinar a facilidade em engravidar.

Engravidar cada vez mais tarde pode ser uma imposição ou uma opção, mas os especialistas alertam que a possibilidade de conceber, tanto para homens como para mulheres, diminui com o aumento da idade, em parte devido aos estilos de vida adotados. Para as mulheres, “a fertilidade diminui drasticamente depois dos 35 anos”, diz ao Observador Ana Teresa Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução.

A infertilidade é definida como a ausência de gravidez após um ano de tentativas. “E é um problema de casal”, não um problema individual, nota a médica. Depois deste ano de tentativas, os médicos começam a investigar as causas para esta infertilidade que na maior parte dos casos é reversível. Os casos em que um dos elementos do casal (ou ambos) é definitivamente estéril são muito mais raros.

Dentro da idade fértil, 80% dos casais engravidam ao fim de um ano e 90% engravida ao fim de dois anos.

A tensão na vida quotidiana e a pressão para engravidar são muitas vezes apontados como fatores para a ausência de gravidez, mas Ana Teresa Santos alerta que o stress é ainda um fator muito pouco conhecido e muito pouco estudado neste processo. “As provas são ténues e difíceis de quantificar. Embora possa ser uma resposta para a infertilidade têm de se excluir todas as outras causas primeiro.” Justificar a infertilidade com o stress pode mascarar os problemas reais que devem ser tratados.

A obesidade é um desses problemas. Em Portugal, mais de metade dos homens e mulheres acima dos 20 anos têm excesso de peso – mais de 20% são obesos -, uma tendência que se inicia cedo, com mais de um quarto dos jovens com menos de 20 anos a apresentarem excesso de peso, revelou um artigo da revista científica The Lancet.

A acumulação excessiva de gordura no corpo leva a um aumento do tecido adiposo. Este tecido também é responsável pela reserva de estrogénios – uma hormona feminina. A elevada quantidade de uma hormona feminina no corpo de um homem, diminui a quantidade de espermatozoides produzidos. Nas mulheres é o desequilíbrio de estrogénios que afeta a fertilidade, impedindo a ovulação – o excesso de estrogénios nas mulheres obesas e a escassez nas mulheres muito magras ou nas desportistas com muito pouca massa gorda.

No caso dos homens, a obesidade traz uma dificuldade acrescida na altura de conceber. O aumento de temperatura do corpo, em particular dentro do escroto onde se localizam os testículos, afeta a produção de espermatozóides. Os testículos estão localizados externamente no corpo humano para se manterem um grau abaixo da temperatura normal do corpo.

Os condutores profissionais, os homens que passam muito tempo sentados de pernas juntas, os ciclistas, os utilizadores de saunas ou os homens que usam roupa interior muito justa podem sofrer deste problema. “O arrefecimento testicular no banho, fazendo incidir água fria nos testículos”, é uma forma de contrariar este aquecimento excessivo, aconselha a médica. Quanto à obesidade, e juntando todos os restantes problemas de saúde associados, o melhor mesmo é resolver o problema e adotar um estilo de vida saudável.

Nada de excessos quando se quer engravidar

“O consumo de carne com muitas dioxinas tem um comportamento semelhante à utilização de androgénios, como a testosterona. Inibe a produção de espermatozoides”, refere Ana Teresa Santos. Nas mulheres as dioxinas comportam-se como estrogénios aumentando a probabilidade de desenvolver endometriose – um processo inflamatório na pélvis. Porém, uma dieta rica em frutas e vegetais também diminui a qualidade dos espermatozoides, por um lado devido aos pesticidas, por outro, o consumo excessivo de soja que leva ao excesso de fitoestrogénios – o equivalente vegetal dos estrogénios femininos.

Mas existem outros consumos que devem ser tidos em consideração como o consumo de tabaco, drogas e álcool. No caso do tabaco, basta um ou dois cigarros para ter um efeito nocivo nos homens e um consumo diário regular nas mulheres pode antecipar a menopausa. Em qualquer dos casos, três meses depois de ter deixado de fumar ou ingerir os produtos nocivos a produção de espermatozoides deve ter voltado ao normal, porque os espermatozoides são produzidos em contínuo e ao fim de 72 dias todo o stock foi renovado.

No caso das mulheres, cada óvulo libertado, uma vez por mês, faz parte de um stock que nasce com elas e que não se renova, daí que a idade ideal para engravidar esteja entre os 20 e os 30 anos. A idade leva ao acumular de doenças ou situações causadoras de infertilidade: obstrução das trompas – que pode ser causada por doenças sexualmente transmissíveis -, endometriose – o tecido que reveste o útero cresce em locais onde não devia existir causando uma inflamação -, obesidade e consumo de tabaco, refere a médica. Também os ciclos irregulares devem ser tomados como um sinal de alerta.

Congelar os óvulos durante o período de maior fertilidade em nome de uma carreira profissional como a Apple e o Facebook estão dispostos a promover entre as colaboradoras, não é uma ideia que Ana Teresa Santos esteja disposta a aceitar. “A gravidez em idade tardia também tem riscos mesmo que os óvulos sejam jovens.”

Mas defende totalmente a congelação de óvulos em caso de doença oncológica, tanto para mulheres como para homens. “O tratamento do cancro com quimioterapia é o maior tóxico da fertilidade. Os óvulos avançam 10 anos em idade”, diz a médica responsável pelo Centro de Preservação da Fertilidade do Serviço de Reprodução Humana do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Esta solução de criopreservação dos óvulos e espermatozoides é apoiada pelo sistema nacional de saúde.

Entretanto, para quem pensa engravidar, e antes de ter completado o primeiro ano de tentativas, o melhor é relaxar e não se sentir pressionado pela data ideal para manter relações sexuais. “Isto leva muitas vezes à incapacidade de ter uma ereção”, alerta Ana Teresa Santos. Os óvulos têm de ser fecundados até 24 horas depois de serem libertados, mas os espermatozoides saudáveis podem manter-se vivos durante dois ou três dias no corpo da mulher. “Em condições normais manter relações sexuais de dois em dois dias ou três vezes por semana é suficiente”, esclarece a médica. (Observador)

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Last modified on Quarta, 25 Outubro 2017 16:58