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Sexta, 20 Outubro 2017 16:39

Moody's considera Angola zona de risco para investimento da banca norte-americana

Um analista sénior da agência de rating Moody's considerou hoje Angola como "zona de risco" para qualquer investimento da banca norte-americana, argumentando com o facto de se manterem riscos, incluindo o de "lavagem de dinheiro".

Numa entrevista ao portal Bloomberg, Akin Majekodumni,, analista sénior daquela agência de classificação de risco de crédito, disse a partir de Londres, onde trabalha, que Angola está "ainda muito longe" de conseguir captar a atenção dos bancos norte-americanos, mesmo apesar de "alguns progressos" no combate à "lavagem de dinheiro".

"É improvável que os bancos norte-americanos possam regressar a Angola em breve. Esta indústria, se se pode pôr assim a questão, já não tem muito sentido comercial para eles", afirmou Majekodumni, referindo-se às transferências de dólares para o mercado angolano.

O Bank of America Corp (BoA) suspendeu a venda de moeda norte-americana a investidores em 2015, cinco anos depois de um relatório do Senado ter demonstrado como um traficante de armas, entretanto condenado, conseguiu transferir milhões de dólares para bancos nos Estados Unidos.

Após a decisão do BoA, outros bancos seguiram as pisadas, desencadeando um êxodo dos trabalhadores estrangeiros que eram pagos em dólares, agravando ainda mais a crise económica iniciada pouco depois de os preços do crude começarem a cair nos mercados internacionais, no outono de 2014.

As receitas petrolíferas de Angola representam mais de 90% das exportações angolanas.

O novo governo de João Lourenço, empossado em setembro último após 38 anos de regime de José Eduardo dos Santos, já deu sinais de querer dar mais passos reformistas que os já dados pela administração anterior para dar um novo ânimo ao setor da banca.

João Lourenço voltou a chamar Archer Mangueira para chefiar o Ministério das Finanças e reteve, para já, Valter Filipe Duarte da Silva como governador do banco central.

Por outro lado, em 2016, o grupo de advogados congregado em torno do Financial Action Task Force retirou Angola da sua lista negra, dando conta dos "progressos significativos" que o país tem apresentado no combate à lavagem de capitais.

No entanto, no seu último índice de corrupção, a Transparência Internacional apresentou Angola na lista de 20 países mais corruptos dos últimos três anos.

No artigo, a Bloomberg dá conta de vários pedidos, em vão, feitos pelo telefone e por e-mail ao Banco de Angola a Luanda para comentar as afirmações de Majekodumni,

Segundo Majekodumni, para muitos bancos norte-americanos, a realização de transferência de dólares para o mercado angolano poderá já não gerar lucros suficientes para compensar as potenciais coimas que enfrentará por fazer negócios com bancos que não cumprem a lei norte-americana.

O segundo maior produtor de petróleo africano depende do dólar e de outras moedas para importar quase todos os produtos, sobretudo depois de 27 anos de guerra civil que terminou em 2002. Mais a mais, acrescenta-se no artigo, o kwanza, moeda angolana, não é trocada fora do país.

Nesse sentido, Majekodumni, considera que o euro tem sido uma "alternativa viável" para os bancos angolanos, que estão também a recorrer ao rand sul-africano para substituir o dólar.

"Alguns bancos europeus estão também a possibilitar a realização de transferência de dólares para Angola, mas demora muito mais, é mais caro e não podem fazer grandes transações", lembrou o analista sénior da Moody's.

Enquanto o sistema bancário angolano continua a enfrentar desafios por causa do acesso limitado a dólares e do alto nível de crédito mal parado, os países que emprestam o dinheiro, porém, ainda têm um grande potencial de crescimento, salientou Majekodumni.

Segundo dados do relatório de 2016 da KPMG LLP, apenas 47% dos angolanos usou os serviços bancários em 2014.

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