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Quarta, 18 Outubro 2017 10:42

Desvalorização do kwanza em Angola pode chegar aos 30% - economista

O diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) de Angola admite como inevitável uma desvalorização do kwanza em 30%, apontando ainda a necessidade de o Presidente angolano clarificar se conta com o governador do banco central.

A posição foi assumida em declarações à agência Lusa pelo economista Manuel Alves da Rocha, diretor do CEIC, da Universidade Católica de Angola, na sequência do aviso feito pelo chefe de Estado, na segunda-feira, ao Banco Nacional de Angola (BNA), que foi entendido como uma retirada de confiança política ao governador da instituição Valter Filipe.

"Uma das piores coisas em política é não se dizer diretamente o que se pretende. A política é afinal sempre feita de meias palavras. Se o novo Presidente quer demitir o governador do BNA que o faça, não sendo necessário estar-se com insinuações à volta do papel dos bancos centrais - toda a gente sabe qual o seu papel", afirmou Alves da Rocha.

O Presidente angolano avisou na segunda-feira, no seu primeiro discurso anual sobre o estado da Nação, que o BNA deve cumprir "de forma competente" o seu papel enquanto entidade reguladora do sistema bancário, criticando a distribuição das "escassas divisas" por um pequeno grupo de empresas.

Um discurso em que o BNA, que tem como governador Valter Filipe, jurista de formação, foi especialmente visado: "Não descansaremos enquanto o país não tiver um banco central que cumpra estritamente e de forma competente com o papel que lhe compete, sendo governado por profissionais da área".

Para Manuel Alves da Rocha, se o BNA não desempenha o seu papel, "conforme se depreende das palavras do Presidente", isso "deve-se ao MPLA", partido no poder desde 1975, que "nunca foi capaz de atuar contra os interesses estabelecidos em redor do acesso às divisas".

O economista e docente universitário, uma dos maiores especialistas do país, admitiu que o atual governador do BNA, nomeado pelo ex-Presidente José Eduardo dos Santos, em 2016, tem assumido um "papel positivo" na reconstrução de uma imagem externa do sistema financeiro nacional, bem como na capacitação dos recursos humanos do banco central e de todo o sistema financeiro angolano.

"Julguei que o novo Presidente desse mais tempo ao tempo para começar a atacar o Presidente José Eduardo dos Santos. Alguns dos desafios do BNA foram enumerados pelo novo Presidente, só que se esqueceu de destacar os poderosos interesses constituídos desde há muito tempo em redor do negócio das divisas", disse ainda Alves da Rocha.

Num contexto de estagnação económica em 2016, e com as contas públicas deficitárias, uma vez mais, em 2017, além de reservas líquidas internacionais em mínimos históricos, João Lourenço assumiu, no mesmo discurso, que se "impõe a tomada de medidas de política necessárias e inadiáveis", para garantir "a estabilidade macroeconómica do país".

Embora sem adiantar medidas concretas, vários economistas assumem a inevitabilidade de uma desvalorização do kwanza face ao dólar até final do ano, tendo em conta o esforço de contenção de preços e taxa de câmbio que está a ser feito com recurso às reservas de divisas nacionais, que caíram para quase metade desde 2013.

"Claro que o kwanza vai ter de ser desvalorizado, no mínimo em 30%. Estou para ver como o novo executivo vai lidar - evitando - a repercussão desta medida sobre o aumento da taxa de inflação, num país que está estagnado no seu crescimento económico", disse ainda Alves da Rocha.

Desde o primeiro trimestre de 2016 que a taxa de câmbio definida pelo BNA está estabilizada nos 166 kwanzas por cada dólar norte-americano, enquanto o mercado paralelo, devido à falta de acesso a divisas nos bancos, cobra mais do dobro.

"Vamos encontrar os melhores mecanismos para que as escassas divisas disponíveis deixem de beneficiar apenas a um grupo reduzido de empresas e passem a beneficiar os grandes importadores de bens de consumo e de matérias-primas e de equipamentos que garantam o fomento da produção nacional", enfatizou João Lourenço, na sua intervenção.

"Importa impedir que a venda direta de divisas seja uma forma encapotada de exportação de capitais, sem o correspondente benefício para o país", acrescentou.

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