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Quinta, 12 Outubro 2017 16:23

EUA abandonam UNESCO. Posições sobre Israel e Palestina na origem da decisão

Em causa estão discórdias sobre a aceitação ou não da Palestina como membro. Estados Unidos consideram que há uma tendência anti-Israel na organização.

Os Estados Unidos da América vão abandonar a UNESCO, agência cultural das Nações Unidas avançam as agências Reuters e Associated Press, citando fontes oficiais da administração norte-americana, e confirmada pelo Departamento de Estado em comunicado. Na origem da retirada estão uma série de resoluções aprovadas pela UNESCO que os EUA consideram ser contra os interesses de Israel.

No comunicado de imprensa em que anuncia a decisão, o Departamento de Estado dos EUA informa que notificou a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, “da decisão dos EUA de abandonar a organização e procurar estabelecer uma missão de observador permanente na UNESCO”. O governo norte-americano destaca que a decisão “não foi tomada de ânimo leve”, mas que reflete “as preocupações dos EUA” relativamente à necessidade de uma “reforma fundamental na organização” e ao “contínuo viés anti-Israel na UNESCO”.

“Os Estados Unidos indicaram à diretora-geral o seu desejo de manterem relações com a UNESCO como observador não-membro, para contribuírem com as visões, perspetivas e experiência dos EUA em alguns dos importantes assuntos levados a cabo pela organização, incluindo a proteção do património mundial, a defesa da liberdade de imprensa e a promoção da colaboração científica e da educação”, lê-se ainda no comunicado. A decisão tem efeitos a partir de 31 de dezembro. Até lá, o país mantém-se como membro de pleno direito.

O conflito que levou à retirada do país da UNESCO confirmada esta quinta-feira remonta a 2011, altura em que os EUA cortaram o financiamento à organização depois de esta ter votado uma resolução para incluir a Palestina como membro. Apesar do corte do financiamento, o Departamento de Estado dos EUA manteve o escritório norte-americano a funcionar na sede da UNESCO, em Paris, e procurou uma solução diplomática para o conflito.

Contudo, esta quinta-feira, fontes do governo dos EUA confirmaram às agências que o país irá abandonar a organização. Segundo a AP, a decisão surge numa altura em que a UNESCO está a meio do processo de eleição de um novo diretor, processo que está a ficar marcado pelos problemas financeiros da agência e pelas discórdias sobre se a Palestina deve ou não ser membro da organização.

De acordo com a Reuters, até 2011 os EUA contribuíam com cerca de 80 milhões de dólares para o orçamento da UNESCO, representando cerca de um quinto do orçamento geral da instituição. Mesmo depois do corte de financiamento em 2011, o país continuava com poder de voto na organização e deverá continuar como observador na UNESCO, acrescenta ainda a Reuters.

“A ausência dos Estados Unidos ou de outro país de grande dimensão, com grande poder, é uma perda. Não é apenas uma questão de dinheiro, é uma questão de promover ideais que são vitais para países como os EUA, como a educação e a cultura”, disse à Reuters um diplomata da UNESCO.

Diretora-geral da UNESCO lamenta decisão

A diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, já reagiu à decisão anunciada pelos EUA, dizendo que lamenta “profundamente a decisão dos EUA de abandonar a UNESCO”. “A universalidade é crítica para a missão da UNESCO de fortalecer a paz e a segurança internacionais”, afirma Bokova, recordando que “em 2011, quando o pagamento das contribuições de membro foi suspensa na 36ª sessão da conferência geral da UNESCO, eu disse que estava convencida de que a UNESCO nunca tinha importado tanto para os EUA, ou os EUA para a UNESCO”.

“Isto ainda é mais verdade hoje, quando o aumento do extremismo violento e do terrorismo exige respostas de longo prazo para a paz e a segurança, para combater o racismo e o antissemitismo, para combater a ignorância e a discriminação”, escreve ainda Bokova, antes de enumerar as áreas de ação da UNESCO. “É por isto que eu lamento a saída dos EUA”, remata Bokova.

(Observador)

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